Seguindo com o programa de exposições do acervo permanente do Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (Margs), a instituição inicia o ano com uma exposição que destaca trabalhos importantes para a configuração do cenário artístico do Estado. Uma possível história da arte no Rio Grande do Sul: a emergência de um sistema da arte local abre hoje, às 18h30min, na Galeria Aldo Locatelli do Margs (Praça da Alfândega, s/nº), e terá visitação até 2 de abril.
A mostra reúne 15 obras produzidas nos séculos XIX e XX. Ela inclui trabalhos da considerada primeira geração de artistas gaúchos, como Araújo Porto Alegre (1806-1879) e Pedro Weingärtner (1853- 1929), além de obras de artistas que ajudaram a construir, especialmente através da criação da Escola de Belas Artes (atual Instituto de Artes da Ufrgs), em 1910, o campo das artes plásticas no Rio Grande do Sul.
"A principal característica é o que chamamos de academicismo. São trabalhos, principalmente paisagens no caso da exposição, que possuem um rigor na sua construção, quanto referente à técnica, proporção, composição e profundidade. Apenas os desenhos de José Lutzenberger têm uma linguagem mais moderna, com características de caricatura e uma construção por planos", diz Carolina Grippa, do núcleo de curadoria do Margs.
O tema, segundo a curadoria, partiu da constatação de que o Rio Grande do Sul - excluindo a Missão Jesuítica - teve a constituição tardia de um sistema de arte, devido ao seu formato de povoação e de desenvolvimento. "Se compararmos a situação do Estado com Minas Gerais, que desde a época da colônia já havia artistas que trabalhavam nas igrejas como Aleijadinho, Manuel da Costa Ataíde, então podemos considerar que aqui o sistema de artes foi criado mais tardiamente", conta Carolina.
Em termos artísticos, Carolina destaca que o Rio Grande do Sul está bem posicionado: "Temos o exemplo do Grupo Nervo Óptico, que atuou na década de 1970 e foi um marco para o princípio da arte contemporânea no Estado. Vejo que essa desigualdade com outros centros brasileiros de arte (Rio de Janeiro e São Paulo) foram se dissipando ao longo dos anos".
Atualmente, o Margs possui cerca de 4 mil obras catalogadas em seu acervo, que vão da primeira metade do século XIX até os dias atuais.
O exercício da fotografia enquanto instrumento de construção de narrativas é o mote da exposição Múltiplos olhares: 21 fotógrafos. A mostra abre hoje às 18h30min, na galeria Iberê Camargo também do Margs (Praça da Alfândega, s/nº) até o dia 29 de janeiro.
A exposição foi concebida a partir da interação entre elementos aparentemente desconexos, pertencentes ao portfólio de 21 profissionais de diversos fotógrafos, dos quais 19 são convidados e dois são fotógrafos que possuem obras no acervo do Margs - Alberto Bitar e Cibele Vieira.
Segundo o curador, arquiteto e artista visual Fábio André Rheinheimer, as imagens extraídas do contexto organizam outras possibilidades do ver, ampliando as possibilidades de novas ressignificações. Rheinheimer explica que, neste percurso, surge o espectador a delinear, segundo apropriação particular (referências estéticas e conceituais), a elaboração hipotética de outros (e novos) relatos, tendo por objeto a livre inter-relação entre produções distintas.
"A produção de fotografia, em Porto Alegre, é muito diversificada. Distintos são os profissionais de fotografia na cidade que atuam em ambas as áreas simultaneamente: fotojornalismo e arte, e conseguem se manter conceitualmente, sem que as distintas produções se anulem, ou se contaminem a ponto de desqualificar os objetivos e interesses propostos", diz o curador.
Segundo Rheinheimer, a ideia é apresentar a exposição como um diálogo plural entre os fragmentos de produções fotográficas distintas, sem jamais pretender o definitivo ou absoluto e trazer para o domínio exclusivo do espectador autor de múltiplas releituras e narrativas poéticas a partir de imagens que, mesmo condenadas à estagnação de um momento, eclodem numa profusão de novas apropriações simbólicas.