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'Talvez tenhamos de ter restrição esta semana para evitar na semana que vem', diz Marchezan
Prefeito de Porto Alegre conversou sobre a pandemia no JC Explica no Instagram e YouTube
YOUTUBE/JC
Patrícia Comunello
Esta quarta-feira (10) pode trazer novidades sobre o rumo da flexibilização de atividades em Porto Alegre em meio à pandemia, que vinham ocorrendo de forma gradativa. O prefeito da Capital, Nelson Marchezan Júnior, admitiu, durante entrevista ao JC Explica, no Instagram e YouTube, que, mantida a aceleração da ocupação de leitos de UTI por doentes de Covid-19, que cresceu 40% em dois dias, é provável mais restrições.
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Esta quarta-feira (10) pode trazer novidades sobre o rumo da flexibilização de atividades em Porto Alegre em meio à pandemia, que vinham ocorrendo de forma gradativa. O prefeito da Capital, Nelson Marchezan Júnior, admitiu, durante entrevista ao JC Explica, no Instagram e YouTube, que, mantida a aceleração da ocupação de leitos de UTI por doentes de Covid-19, que cresceu 40% em dois dias, é provável mais restrições.
Anúncio sobre recuos em atividades já liberadas pode ocorrer nesta quarta, quando o comitê de enfrentamento da pandemia na Capital fará a análise da evolução. Nesta terça-feira (9), o painel das UTIs mostra que há 61 doentes com a Covid-19, um a menos que essa segunda-feira. Mas o que preocupa é que houve alta de quase 40% de internados no setor desde sexta-feira (5). Diante do quadro, a prefeitura adiou nessa segunda-feira a flexibilização em mais setores, como esportes (profissional), feiras, cultos e aulas (cursos livres).
Na conversa com o JC Explica, Marchezan lembrou que a Capital recebe pacientes de outras localidades, que representam 60% da ocupação. Além disso, pessoas com a doença internadas em enfermarias são mais de 80 e também precisam ser monitoradas, pois podem necessitar de UTI. Com o distanciamento controlado, adotado pelo governo estadual, cores de bandeiras (amarela, menos riscos, à preta, nível mais elevado), o indicador de UTI pesa em eventual mudança, mas a alteração tem sido anunciada aos sábados.
#JCExplica: Prefeito de Porto Alegre fala sobre a ocupação nas UTIs e os riscos
"A evidência mostra que as medidas iniciais (Porto Alegre adotou o fechamento de setores em março, um dos primeiros locais no Brasil) permitiram as flexibilizações. Talvez agora tenhamos de ter alguma restrição esta semana para evitar mais restrições a partir da semana que vem", adiantou o prefeito.
A medida pode afetar também a volta às aulas sugeriu Marchezan, mas sem pontuar alguma definição. Mas o prefeito citou preocupação em expor 300 mil alunos, além de pais e avós. A volta às aulas, segundo protocolos estaduais, começa dia 15 deste mês. As aulas presenciais em escolas de diversos níveis seguem um calendário.
O prefeito comentou que eventual mudança de cor - hoje a Capital e região metropolitana estão em laranja, que não é considerada neste momento -, pode ser definida, mas qualquer medida de endurecimento sobre atividades deve ser adotada antes.
"Porto Alegre tem mantido uma flexibilização organizada. Temos feito o máximo para não ter o 'vai e volta' ou 'libera e restringe'. Não quer dizer que isso não possa acontecer. Se continuar esse ritmo (ocupação de leitos de UTI), vamos ter um cenário de projeção bastante ruim. O problema de não tomar nenhuma atitude um pouco mais restritiva é chegar em algum momento e perdermos o controle, pois o aumento é exponencial", analisou Marchezan, durante a transmissão.
O prefeito chegou a comparar que adiar a tomada de decisão pode colocar a Capital numa situação semelhante ao que se viu na Itália, Espanha e nos Estados Unidos, "que não tomaram medidas no início e tiveram de adotar ações depois mais prolongadas".
Confira a seguir as principais informações trazidas pelo prefeito de Porto Alegre no bate-papo no JC Explica.
JC Explica - Prefeito, do que o senhor mais sente falta em meio à pandemia, tanto como gestor como pessoalmente, e que o senhor quer retomar depois que passar as contingências?
Nelson Marchezan Júnior - Trabalhamos para mapear vagas nas escolas e oferecer nos dois turnos e hoje temos de fechar creches e escolas, proibindo crianças de estudar. Na economia, tentamos avançar e criar mais empregos. Vínhamos com desemprego, que estava em 7,9% na Capital e quase 13% no Brasil. Triplicamos a velocidade de liberação de alvarás para as empresas. Tudo que fizemos com a Covid-19 não era o que queríamos e nem tem os de prazer em fazer. Pessoalmente, gostaria de encontrar minha família e amigos em um fim de semana.
JC Explica - Com os números das UTIs, vamos ter recuos nas liberações?
Marchezan - A gente estava avançando em liberação de atividades religiosas, esportes coletivos profissionais, feiras, cursos livres e planejando protocolos da educação e tivemos de parar, pois houve aumento na ocupação de leitos de UTi com pacientes com Covid-19, com uma velocidade muito maior. A gente sabia que a ocupação de leitos iria aumentar, porque a atividade econômica voltou, mas temos de ter estrutura para suportar a necessidade de mais leitos. O que nos assusta é a velocidade da ocupação. Se aumentar muito rápido, perdemos este controle que, em tese, com essa velocidade da ocupação, a estrutura hospitalar pode não ser suficiente.
JC Explica - O senhor disse que sexta e sábado foi o salto. O senhor associa à liberação das atividades desde abril?
Marchezan - As flexibilizações começaram em fim de abril, com a construção civil e indústria. Em 5 de maio, tivemos as liberações de microempreendedores, autônomos e profissionais liberais. Entendemos que são 15 dias para o vírus entrar em contato com a pessoa e ter seus sintomas. No dia 20, abrimos, então, o comércio em geral, shopping centers e cultos. Na sexta passada, que fechou 15 dias desde a última liberação, tínhamos 44 leitos de UTI ocupados por doentes com Covid-19, ocupação que depois passou a 46 no sábado (6) e 54 no domingo (8). Nesta segunda-feira, o número passou a 62. Este nível de ocupação não é o grande problema, mas o crescimento rápido em dois dias (34% em relação a sábado e 40% sobre sexta). Se esta velocidade continuar, antes do final de julho não teremos mais espaços (leitos) disponíveis e teremos de buscar outras alternativas.
JC Explica - O inverno eleva o risco de colapso nas vagas?
Marchezan - A gente monitora vários números, desde as enfermarias, que têm quase 80 pessoas com coronavírus e têm aumento na velocidade (já tivemos mais de 90 pessoas nas unidades), que pode ser maior agora devido ao melhor registro dos casos pelos hospitais. Outro número é o de UTIs. Temos 35 suspeitos com Covid-19 internados nas unidades de terapia intensiva. Sobre o inverno, o fato de ter todos os anos, nos deu expertise e qualificação. As vacinações contra a gripe mais cedo previnem que muitas pessoas precisem de estrutura da saúde devido a síndromes gripais. Vemos também emergências pediátricas vazias, o que é efeito do fato de as crianças não estarem indo à escola, o que ajuda a prevenir o coronavírus e todos os outros vírus. Não tivemos aumento de casos de síndromes gripais na atenção básica e UPAs e achamos que não vamos ter muito nos hospitais. Isso vai nos ajudar bastante a reduzir a demanda em meio à pandemia.
JC Explica - As pessoas estão se cuidando no dia a dia, usando máscara?
Marchezan - A gente tinha antes a campanha muito forte do 'fique em casa'. Acho que as pessoas aderiram a isso, com as atividades econômicas paradas era mais fácil. Mas com as liberações é impossível que uma parte da população fique em casa, pois tem de ir trabalhar. Por isso, agora falamos: 'quem puder fique em casa'. E quem tiver de trabalhar mantenha o distanciamento. A regra geral é distanciamento físico, com exceção da nossa família ou com estamos convivendo em casa. A segunda medida é evitar tocar as mesmas superfícies de contato, se tocar fazer higiene. A terceira é o uso de máscara. Mas correr no parque, por exemplo, não oferece risco a ninguém. A gente não pode pegar pautas e transformar em mais um problema social de relacionamento. A gente tem de viver em um ambiente menos tenso e buscando menos raiva. Alguém pode ter deixado a máscara cair e pisado em cima. Entre ela usar esta máscara suja e não usar, é melhor que fique sem. Vamos todos usar máscara em aglomeração e é obrigatório em ônibus, além de manter o distanciamento e a higiene.
JC Explica - O senhor entende que, se continuar este quadro (ocupação de UTIs), será preciso dar um passo atrás, dar uma freada para que não vire um problema agora em julho?
Marchezan - Vou responder com a mesma linguagem, mas dando um sinal para a sociedade. Este passo atrás nas atividades econômicas é um passo à frente na saúde das pessoas, na segurança e no cuidado para que não tenhamos uma subida (nos casos em UTIs) e para darmos um passo à frente, para estarmos preparados para o pós-Covid. Temos de ter cuidado e é possível que a gente tenha eventualmente que ter alguma restrição a mais em vez de ter alguma flexibilização. Tem outras questões que estão andando e que podem avançar na Câmara de Vereadores e da sociedade organizada. Se é inevitável a pandemia, temos de buscar alternativas de acordo com evidências mundiais, outras são factíveis e que se tornaram necessidade maior e podem ser diferencial para enfrentar com outras ferramentas, como a manutenção de investimentos públicos, publicação de outros editais de parcerias, programas para desburocratizar a máquina pública etc.
JC Explica - Temos no Estado o distanciamento controlado, no qual a ocupação das UTIs passou a ser um dos indicadores mais imediatos para definir medidas. O senhor acha esta alta de ocupação dos leitos pode mudar a bandeira laranja para vermelha na região da Capital, gerando mais restrições?
Marchezan - Provavelmente, se esta aceleração continuar, as restrições devem acontecer já na reunião desta quarta-feira. Os leitos de Porto Alegre já são referência para outras cidades da RMPA e, em muitos casos, para quase todo o Estado. Os leitos de UTI SUS estão 60% ocupados por pessoas de fora da Capital. Este aumento de ocupação reflete toda uma região. Porto Alegre tem mantido uma flexibilização organizada. Temos feito o máximo para não ter o 'vai e volta' ou 'libera e restringe'. Não quer dizer que isso não possa acontecer. Se continuar esse ritmo (ocupação de leitos de UTI), vamos ter um cenário de projeção bastante ruim. O problema de não tomar nenhuma atitude um pouco mais restritiva é chegar em algum momento e perdermos o controle, pois o aumento é exponencial. Neste caso, teremos de ficar um longo tempo de restrições como foi na Itália, na Espanha etc, que não tomaram medidas no início e tiveram de adotar ações depois mais prolongadas. A evidência mostra que as medidas iniciais permitiram as flexibilizações. Talvez agora tenhamos de ter alguma restrição esta semana para evitar mais restrições a partir da semana que vem. O nosso número é o de leitos de UTI - que é o limitador de atendimento ou não para dar assistência. Não há como saber por quanto tempo será necessária a restrição para reduzir a velocidade, caso se mantenha.
JC Explica - Que tipo se reação o senhor espera caso ocorram novas restrições?
Marchezan - O que nos dá um pouco de certeza, tranquilidade e alívio de consciência de tomar medidas que prejudiquem setores e pessoas é que são decisões baseadas em evidências científicas. Não é em conceito eleitoral, político ideológico ou achismo. Buscando o que tem de mais novo no mundo para facilitar e justificar à população, em meio a tanta tristeza, o porquê das decisões e porque tentar fazer com que as pessoas tenham menos problemas de saúde e que não cheguemos a uma situação em que a estrutura municipal não consiga atender o ser humano no momento em que ele mais precise. O dilema é ter estrutura de saúde e manter para atender o cidadão.
JC Explica - Quanto este momento pode adiar mais a volta às aulas? Pode ser necessário ser mais prudente?
Marchezan - Se a gente já tem a demanda de leitos de UTI agora, imagina se tivermos liberação com mais de 300 mil alunos retornando às atividades com salas com 15, 25 crianças por três a quatro horas, além de maior demanda de transporte coletivo? A gente tem muito receio disso. Sabemos que é uma necessidade, de quanto é triste para crianças e pais este momento, mas a ideia é evitar uma tristeza maior que avós ou pais ou até mesmo as crianças acabem precisando de leitos por se contaminarem e não termos capacidade de atendimento.
JC Explica - Vai ter o pico de casos, que as pessoas esperam e falam tanto?
Marchezan - Podemos ter picos, desde que não ultrapassem a capacidade de atendimento. Se tivermos uma elevação que possamos atender, sem problema. Se tivermos de ter um achatamento na curva de casos que seja antes da capacidade de estrutura para atender. Temos de evitar que este pico ultrapasse a capacidade.
JC Explica - E a volta dos treinos do futebol e clubes?
Marchezan - Estava sendo analisado a volta dos treinos profissionais evitando maior contato - com duas a três pessoas. A ideia era que avançasse na liberação até porque os clubes têm uma atenção médica maior. Seriam Grêmio, inter, São José, Grêmio Náutico União e Sogipa. O futebol é importante para Porto Alegre. Quando vendemos a cidade ao exterior, falamos de dois clubes campeões mundiais (Grêmio e Inter). Mas é quase impossível pensar em liberar os jogos neste momento (mesmo com portões fechados). Estamos evitando colocar data, trabalhamos com dados e com base na análise do número de pessoas liberadas a cada 15 dias.