Até o final dos anos 1960, morar em Porto Alegre significava morar no Centro da cidade. Era lá onde tudo acontecia e irradiava para os bairros da urbe. Quando chegou a década de 1970, aconteceu no Brasil o êxodo rural (termo antigo, hein?) e mais, a migração das populações de pequenas cidades para as capitais. Foi assim, com a chegada de pessoas sem raízes no meio e que buscavam melhores condições de vida, que a cidade transmutou física, cultural e intelectualmente.
Neste processo, as consequências para o Centro de Porto Alegre foram dramáticas. A região urbana com deliciosa estética arquitetônica, repleta de marcos culturais, comerciais e frequentada por pessoas ligadas ao ambiente construído, passou, quase rapidamente, a ser caracterizada pela ocupação de camelôs comercializando quinquilharias, ruas e logradouros sujos, fim do comércio sofisticado e diversificado que a partir dos anos 1980 migrou continuamente para os shopping centers.
A resistência do modo de vida do tradicional Centro de Porto Alegre tem sido tenaz por parte dos cidadãos e de uma ou outra administração pública. Poder público que seguindo uma linha global de preservação farsante, trocou a designação da região para Centro Histórico e o chamou de bairro.
É a “novilíngua” condicionando mentes. Pois, a recentemente eleita administração municipal, prometeu, em campanha, embelezar a cidade.
A mais impactante medida anunciada a fim de cumprir o prometido é revitalizar o Centro Histórico e, para isso, pretende permitir a construção de prédios mais altos no Centro. Significa, na prática, demolir construções antigas para construir mais e maiores prédios. É dizer: destruir a história do Centro Histórico para revitalizá-lo. É para rir ou para chorar? Antes disso, sugiro retirar as pichações dos prédios e logradouros, recuperar calçadas e trazer aos olhos, aonde for
viável, o pavimento de paralelepípedo, manter vivas as praças, reduzir o IPTU na região, incentivar o comércio de porta de calçada, afastar ambulantes de quinquilharias, reposicionar terminais de ônibus,
conduzir uma utilização mais útil ao cais do porto, montar um plano de segurança sistêmico afastando o crime daquelas ruas. Bem, estas são sugestões simples e factíveis numa política de melhorias para o cidadão. O projeto da prefeitura parece ser uma manobra com o dolo de favorecer negociantes da construção civil. Como sempre, solucionar problemas é oportunidade para manejar a sociedade.
Engenheiro e consultor