Porto Alegre, terça-feira, 18 de março de 2025.
Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Porto Alegre, terça-feira, 18 de março de 2025.

Opinião

- Publicada em 23 de Abril de 2021 às 15:01

Avaliando a aquisição de livros didáticos

Luiz Gilberto Monclaro Mury
A adoção, nas séries iniciais do ensino fundamental, de livros didáticos que não são fornecidos gratuitamente pelo governo, pode melhorar o desempenho dos alunos? Auditoria inovadora realizada pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS) encontrou evidência de que essa prática não é efetiva.
A adoção, nas séries iniciais do ensino fundamental, de livros didáticos que não são fornecidos gratuitamente pelo governo, pode melhorar o desempenho dos alunos? Auditoria inovadora realizada pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS) encontrou evidência de que essa prática não é efetiva.
O trabalho foi realizado em um grande município gaúcho que, em 2019, investiu R$ 200 milhões em Educação, sendo R$ 140 milhões no Ensino Fundamental. Desde 2014, o município adquire na rede privada livros destinados às séries iniciais do Ensino Fundamental (1ª a 5ª), tendo investido R$ 25 milhões nesse item em seis anos. Esse investimento foi realizado mediante a pressuposição de que tais livros teriam qualidade superior quando comparados ao material didático oferecido gratuitamente pela União e que, portanto, haveria um reflexo positivo no desempenho dos alunos.
A auditoria que realizamos, orientada pelo princípio da efetividade, procurou avaliar os resultados dessa política pública, o que se tornou possível pela existência na cidade de algumas escolas municipais e estaduais que continuaram recebendo os livros didáticos gratuitos. Essa característica permitiu um estudo comparativo com o “grupo de tratamento” (aquele que recebeu os livros adquiridos pelo município) e o “grupo de controle” (aquele que seguiu trabalhando com os livros gratuitos). A metodologia utilizada é conhecida como “Diferença em diferenças”. O procedimento envolve calcular a diferença na média dos resultados antes e após a intervenção para cada grupo. A diferença final entre as duas diferenças corresponde ao impacto estimado, atribuído ao programa. Para a realização da análise foram consideradas as notas em Português e Matemática obtidas pelos alunos das referidas séries, registradas no Sistema de Avaliação do Ensino Básico do Ministério da Educação entre 2007 e 2019.
O grupo de tratamento, que usou livros comprados, constituiu-se com os alunos de 38 das 41 escolas municipais. O grupo de controle, que usou livros do Programa Nacional do Livro e Material Didático, foi formado com alunos de três escolas municipais e das 17 escolas administradas pelo Estado. Analisados os seis anos de uso do material didático privado, constatou-se uma diferença positiva nas notas médias de 1,33% em Português e 0,57% em Matemática, o que, entretanto, não possui relevância estatística. Dito de outra forma, a avaliação encontrou que os dois grupos de alunos – que receberam livros diferentes – tiveram desempenho de mesma natureza.
Tendo presente que o Município possui outras demandas não atendidas na área da Educação como vagas em creche, por exemplo, os resultados não justificam o investimento de 25 milhões de reais na compra de livros.
O exemplo permite destacar a importância da avaliação externa de resultados de todas as políticas públicas, prática ainda rarefeita no Brasil e que tem sido muito funcional à reprodução de programas ineficientes e ao desperdício de recursos públicos.
Auditor público do Tribunal de Contas do RS
Conteúdo Publicitário
Comentários CORRIGIR TEXTO
notification icon
Gostaria de receber notificações de conteúdo do nosso site?
Notificações pelo navegador bloqueadas pelo usuário