O ano de 2020 será decisivo, para o bem ou para o mal, para a administração do presidente Donald Trump. Para o bem, porque, em 3 de novembro, ocorrem eleições presidenciais e ele pode ser o candidato republicano. Para o mal, porque, em janeiro, se definirá a realização do impeachment.
Apesar da perspectiva, o ano de 2019 foi positivo para os Estados Unidos. Em 12 meses, Trump foi responsável por impulsionar a economia e por gerar mais empregos. Em setembro, a taxa de desemprego chegou a 3,5% e conquistou o recorde de menor índice dos últimos 50 anos. E, segundo o Departamento do Trabalho, em agosto, foram criadas 168 mil vagas de emprego. Ainda, o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu significativamente no ano. Todos esses fatores contribuíram para que, em julho, Trump atingisse o mais alto índice de aprovação desde que chegou à Casa Branca: 44%.
Por outro lado, na mesma época, o percentual de norte-americanos que desaprovam o atual governo chegava a 53%. Além disso, 65% dos entrevistados afirmaram que Trump age de maneira imprópria para um presidente. A pesquisa, realizada pelo jornal The Washington Post e pela emissora de televisão ABC, indicou que esse descontentamento existia por conta de questões relacionadas à imigração, ao aborto, às armas e à política externa.
Neste ano, Trump se envolveu em diversos escândalos. Entre eles, acusações de que pediu para que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, investigasse o adversário democrata Joe Biden e seu filho, Hunter. Em setembro, um pedido de impeachment por causa dessa acusação foi formalizado, e o julgamento deverá ocorrer no início do próximo ano.
Em relação ao pleito, Ana Simão, coordenadora do curso de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing Sul, diz que o norte-americano médio busca um presidente que consiga manter a empregabilidade e a economia em alta, da mesma forma que Trump está fazendo. Ela acredita, porém, que a sociedade está polarizada.
Já para o cientista político e professor de Gerenciamento Político da Universidade de George Washington Michael Cornfield, essa questão é muito simples. "Republicanos estão procurando reeleger Trump. Democratas querem derrotá-lo."
Ana defende que Trump tem condições de reverter o processo de impeachment a tempo de se tornar um forte candidato para as eleições de 2020. "É importante que se observe que praticamente a metade dos norte-americanos tem opiniões positivas sobre as medidas econômicas que Trump tem tomado, e isso pesa positivamente. Todo esse misto de aprovação e empregabilidade alta, por exemplo, dá convicção a Trump para disputar uma nova eleição, caso não ocorra o impeachment.
Por outro lado, Cornfield acredita que é impossível fazer previsões sobre o assunto agora. "Trump vai perder no voto popular, mas tem chance de ganhar no colégio eleitoral novamente. Não sabemos quem pode ser o candidato mais forte dos democratas agora, nem saberemos, até que essa pessoa ganhe muitos delegados em fevereiro e março", afirma.
O impeachment do presidente é uma preocupação pertinente da sociedade norte-americana. O julgamento deverá passar por Câmara e Senado. O primeiro é dominado pelos democratas e, por isso, tem os votos para aprovar o processo. Já no Senado, de maioria republicana, é improvável que passe, mas não impossível.
"O impeachment é democrático e constitucional. É difícil de acontecer, só teve um caso nos EUA, mas reforçaria a democracia. Seria um espaço muito grande para o crescimento dos democratas, mas, sobretudo, uma crise para o tipo de eleições que Trump imprimiu no País. Internamente acho que o impacto seria baixo, mas, externamente, seria bem forte", argumenta Ana.
Cornfield, por sua vez, defende que o impeachment não interferiria em aspectos importantes. "O impacto vai ser sentido depois do julgamento do Senado, o qual Trump provavelmente irá sobreviver. A maior ameaça para a economia dos EUA virá das suas políticas comerciais - o que o Brasil acabou de descobrir. Mas não impactará as relações com outros países, porque elas já estão gastas", reforça.