Conta antiga lenda que certas comunidades adotavam métodos cruéis para resolver o problema dos idosos. Quando deixavam de ser produtivos em função da idade, homens e mulheres eram arremessados de altos penhascos. Afinal, o grupo não teria como sustentá-los. A comida, que era pouca, tinha de ser destinada àqueles que ajudavam na plantação. Encurtar a vida de quem envelhecia seria mais humano do que a morte lenta por inanição e desabrigo. Outra lenda relata que, por tradição, quando o homem se tornava velho demais para trabalhar, era levado pelos filhos a uma cabana em lugar distante e lá abandonado para morrer, recebendo apenas uma manta para as noites frias.
Mas esta história tem um final diferente quando um pai decide dividir a manta com o filho que o levou. "Guarda esta outra parte para quando os teus filhos te vierem cá abandonar", disse o pai. A partir de então, a absurda tradição foi proibida. Quanto mais estudamos a preocupante situação da Previdência no Brasil, mais entendemos que, em pouco tempo, não haverá recursos suficientes para garantir aposentadorias. É pura matemática. Se a população envelhece e a taxa de natalidade cai, em alguns anos, teremos poucos trabalhadores ativos a sustentar uma imensidão de inativos. Se a reforma da Previdência não ocorrer, qual será o destino de nossos idosos? A cabana? O penhasco? O Fórum Econômico Mundial de 2017 concluiu que a longevidade impõe imensos desafios. Atualmente, a população global acima de 60 anos é de 1 bilhão de pessoas. Em 2030, somará 1,5 bilhão. Em 2050, será de 2,3 bilhões, equiparando-se ao número de crianças.
E a expectativa de vida continuará aumentando. As crianças de hoje viverão mais de 100 anos. Além de ser a faixa etária que mais cresce no planeta, a idade média avançará muito até 2035. Os países que envelhecerão mais rápido são China, Índia, Brasil e Indonésia. Até 2050, a população brasileira terá acréscimo de 34 milhões de pessoas. O número de idosos aumentará 30 milhões. Embora não resolva todos os problemas, a reforma nada tem de impopular, pois focaliza três aspectos essenciais: a equiparação entre trabalhadores dos setores público e privado; a gradual elevação do limite de idade (20 anos!); e o fim das mega-aposentadorias. Quem fala que tais mudanças suprimem direitos não percebe que, na verdade, elas vêm para garantir direitos. O direito a uma renda para envelhecer com o mínimo de qualidade de vida.
Presidente do Secovi-SP