Na última edição da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), a taxa de desocupação ficou em 11,8% em março, levemente acima do indicador de fevereiro, que fechou em 11,7%. A PED será interrompida após 26 anos de apuração e estava entre os quatro mapeamentos de Região Metropolitana que ainda eram feitos pelo Dieese e parceiros no Brasil. O governo contratou a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) sem licitação para fazer uma análise do mercado de trabalho gaúcho, usando dados divulgados por Ministério do Trabalho e IBGE. A Fundação de Economia e Estatística (FEE), que foi desativada, coordenava a elaboração.
O número de desempregados em março chegou a 219 mil na RMPA, o mesmo do mês anterior. A certa estabilidade da taxa, como definiram as duas economistas do Dieese que fizeram o anúncio dos dados da edição de despedida, reflete o comportamento da População Economicamente Ativa (PEA) e da ocupação no mês. As duas variáveis tiveram a mesma redução absoluta - 16 mil pessoas a menos cada uma.
"Os primeiros meses de 2018 seguem no mesmo patamar de desemprego, que deve seguir em 2018", projeta Virginia Donoso, que coordenava a PED no convênio entre a FEE e a Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (Fgtas). Oficialmente, nem FEE, nem Fgtas foram à divulgação ontem, mas integrantes das duas instituições - a FEE foi substituída pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), criado pelo Estado, mas há decisão do Tribunal de Contas do Estado (TCE) contra o cancelamento do CNPJ - fizeram questão de ir ao evento. O tom da divulgação foi de pesar. "É um dia de muita emoção", definiu a economista e coordenadora nacional da pesquisa, Lúcia Garcia.
No mês, o comércio apresentou a maior redução de vagas, perdendo 13 mil postos, seguido por indústria de transformação (-8 mil postos) e construção civil, que cortou 6 mil vagas. O setor de serviços foi em outro sentido, gerando saldo positivo de 11 mil ocupações. Em 12 meses, o Dieese apontou que houve avanço de 0,8% na ocupação, com saldo de 13 mil postos acima de março de 2017. O setor privado foi o que mais fechou vagas, com 17 mil a menos em março, sendo 12 mil de carteira assinada. Autônomos registram 3 mil postos a menos, e empregados domésticos, menos mil. O setor público ampliou mil postos.
O tempo médio de procura por trabalho ficou em 44 semanas, após chegar a 47 na largada do ano, em janeiro. Lúcia adverte para o comportamento da taxa de desemprego, que deve se manter no patamar acima de 11%, e dos rendimentos, que estão se aproximando do padrão do final dos anos de 1990 e antes da escalada da formalização, que sofreu baque após 2015, com a recente recessão. O rendimento real de autônomos teve avanço de 2,6% em fevereiro (mês do dado) frente a janeiro, ficando em R$ 1.611,00, mas, em 12 meses, teve perda de 3,8%. Já os assalariados tiveram alta real de 1,5% no mês, fechando em R$ 2.003,00, e de 6,3% frente a março de 2017. A indústria tem o maior salto em 12 meses, de 9,9%.
A geógrafa Daurilia Oliveira da Silva está desempregada. Após coletar por 26 anos informações de pessoas com e sem trabalho para a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) em Porto Alegre, Daurilia, 58 anos, virou a própria estatística. Com o fim da PED e a última coleta feita em março, ela perdeu seu posto. Além de lamentar a situação que atingia quase 220 mil pessoas na Região Metropolitana no mês passado, a pesquisadora não escondia ontem, ao acompanhar a divulgação dos dados finais da série iniciada em 1993, a tristeza.
"Fui a número 1 da PED. Lamento muito que termine, vamos perder muitos dados", desabafou a geógrafa, que se diz uma "mulher de fé" e espera que o levantamento volte. Nos últimos dias de coleta, a geógrafa comenta que já se despediu de muitas pessoas que conheceu ao longo da apuração de dados, que a viam na rua com seu jaleco de recenseadora e a planilha de coleta de dados. "Fiquei 26 anos fazendo a PED. Com o fim, perdi o chão e não tenho perspectiva em outro segmento", preocupa-se. Daurilia, que trabalhava como terceirizada no convênio da FEE com a Fgtas, diz que se sente como muitos moradores de quem coletava dados, que estavam quase para se aposentar, e acabavam sem trabalho. "É um baque".
"A ficha não caiu ainda", reagiu Lúcia Garcia, coordenadora da PED pelo Dieese no País, indicando que espera retomar a pesquisa no futuro, mas que dependerá da recepção de quem estiver no governo, projetando uma tarefa para após 2018. Ao longo do ano, a entidade pretende divulgar estudos com a base de dados. Lúcia considera que a pesquisa foi afetada na esteira das extinções das fundações, como a FEE. "A pesquisa foi a primeira medida na extinção", lembrou.
Lúcia cita que melhorias na realização da medição reduziram o custo em 55% ao longo dos anos. "A pesquisa era financiada com recursos do Ministério do Trabalho, que estavam contingenciados", citou, para contrapor a tese do Estado de redução de gastos e de "política de Estado mínimo". A coordenadora lamentou que o governo tenha preferido contratar a Fipe, sem licitação e com valor anual de R$ 3,3 milhões.