Ricardo Gruner
Em 15 anos, Tom Holland é o terceiro ator a vestir a máscara do Homem-Aranha nos cinemas. Depois dos filmes com Tobey Maguire e Andrew Garfield, os fãs já conhecem bem a história de Peter Parker, o jovem que ganha superpoderes e aprende tragicamente uma lição sobre poderes e responsabilidades.
Nos cinemas a partir de hoje, Homem-Aranha - de volta ao lar acerta ao não repetir a mesma premissa. E, para alegria dos admiradores, o esforço por frescor e novidade a respeito do personagem tem resultados positivos: o longa-metragem tem um ar juvenil, que contempla tanto a empolgação quanto a sensibilidade do herói.
Nada de narrativa sobre a origem: a obra dirigida por Jon Watts conta com Peter disparando teias e combatendo o crime - ou tentando combatê-lo - desde o início. Nessa versão, o personagem é um adolescente. Ainda no segundo grau, ele segue entusiasmado por ter interagido com o Homem de Ferro e outros Vingadores - a participação especial que marcou a estreia de Holland em Capitão América - Guerra Civil (2016).
Enquanto espera uma nova oportunidade para fazer a diferença, o herói aracnídeo concilia suas aulas a um interesse romântico e à ajuda aos desamparados do bairro. Ele é um jovem em busca de aceitação, ansiando provar o seu valor para quase todos que o cercam. A chance, entretanto, aparece de forma mais complicada do que o imaginado. Um homem que se vê passado para trás pelo sistema entra em contato com tecnologia extraterrestre e passa a agir como o Abutre (Michael Keaton).
O grande trunfo do filme em relação a seus antecessores - e a comparação é inevitável - está na molecagem do protagonista. Não se pode esperar que um herói menor de idade vá fazer tudo certo, especialmente se ele é rapaz inseguro sem a máscara. Aventura à parte, a produção também não deixa de ser um daqueles filmes que os norte-americanos chamam de "coming of age" - sobre jovens em amadurecimento, como Clube dos Cinco (1985) e outros tantos.
Além de uma série de atores em início de carreira, o elenco inclui artistas como Marisa Tomei (interpretando uma Tia May que deixa a todos de queixo caído) e Robert Downey Jr. (Homem de Ferro). Já a lista de personagens é grande - entre novos, como o hilário Ned (papel de Jacob Batalon), e clássicos dos quadrinhos.
A participação de outros nomes é fruto do acordo firmado em 2015 por Sony - a detentora dos direitos do Aranha no cinema e responsável pela distribuição - e Marvel, que atualmente tem o poder criativo para usar o protagonista nas telonas. Diferentemente das franquias com Tobey Maguire (2002, 2004 e 2007) e Andrew Garfield (2012 e 2014), os filmes com Tom Holland fazem parte do MCU, como é chamado o universo dos quadrinhos da Marvel nas telonas.
Por um lado, os fãs tiveram o desejo de ver o "Cabeça de Teia" ao lado de outros heróis atendido. Por outro, é compreensível que a Marvel puxe a brasa para o seu assado: o MCU é uma máquina de gerar bilheteria - o sucesso dos seus blockbusters é tão grande que figuras até então pouco conhecidas, como os Guardiões da Galáxia ou o Homem-Formiga, arrecadam centenas de milhões de dólares e estampam camisetas mundo a fora.
Mercadologicamente, faz sentido puxar a brasa para este assado. De volta ao lar, o subtítulo da nova aventura é mais uma prova da valorização dessa produção em escala recheada de intercâmbios. A palavra lar, afinal, não faz menção apenas à trajetória ou à essência de Peter Parker, é também uma jogada de marketing para destacar o contexto em que ele está inserido nessa nova fase.
Já outra leitura permite uma reflexão sobre o estado do novo Homem-Aranha e seus congêneres. Os longas-metragens de super-heróis estão deixando de proporcionar uma sensação de autossuficiência - já que as conexões do MCU se tornam cada vez mais um atrativo. É no mínimo curioso notar que o maior herói da empresa, apesar de ganhar um bom e divertido longa-metragem, seja mais uma peça de um enorme tabuleiro. E esse tabuleiro, como já se sabe, conta com cenas durante e após o desenrolar dos créditos finais de cada filme.
A próxima produção dedicada ao personagem deve estrear em 2019.