A julgar pelo primeiro episódio, Vinyl promete. A série da HBO que teve estreia mundial domingo passado traz o DNA de seus criadores e produtores, Martin Scorsese e Mick Jagger, não economizou em polêmicas.
De Scorsese, que também dirige o primeiro episódio (duplo, com duas horas), a série tem elementos caros ao cineasta: Nova Iorque, década de 1970, imigrantes italianos, sexo, drogas, violência, mafiosos e discussões sobre honra, família e amizade. De Jagger, tem literalmente o DNA: James Jagger, 30 anos, filho do Rolling Stone com a ex-modelo Jerry Hall, interpreta um dos personagens principais, o roqueiro Kip Stevens.
Mick Jagger é o mentor do projeto e sua assinatura nos roteiros é uma chancela para que o espectador acredite que o ambiente nas grandes gravadoras em 1973 era realmente como a série exibe. Em 2007, quando trabalhavam em Shine a light, documentário de Scorsese sobre um show dos Stones, Jagger disse ao diretor que gostaria de produzir um filme que mostrasse a indústria fonográfica com a pegada de seu longa Cassino (1995).
Depois de produzir e lançar a série Boardwalk Empire, em 2010, Scorsese pensou em tocar o projeto de Jagger também como seriado de TV. Bobby Cannavale, que foi um dos vilões de Boardwalk Empire, se revela em Vinyl um ótimo condutor para a trama. Ele é Richie Finestra, dono da gravadora American Century. Depois de sucesso milionário nos anos anteriores, a empresa está quase falindo após errar muito nas contratações de novos artistas. As esperanças de sair do buraco e ainda levar uma bolada estão concentradas em duas apostas: acertar a vinda do Led Zeppelin para o elenco da gravadora e vendê-la ao grupo alemão Polygram.
Finestra tentar costurar essa estratégia enquanto lida com a incompetência de seus funcionários, a tristeza de sua mulher que cuida sozinha de seus dois filhos pequenos, subornos às rádios, festas de sexo e bebedeiras e descidas ao submundo atrás de cocaína. Mas o que mais angustia Finestra é não lançar há tempos um artista no qual realmente acredite.
A paixão dele pelo blues e pelo rock and roll é legítima, e Cannavale constrói muito bem esse personagem movido por amor à música. O episódio piloto já dá indícios das investidas futuras de Finestra, quando assiste chapado de cocaína a um show dos iniciantes New York Dolls - banda nortea-mericana essencial para a formação do punk - e ao travar contato com a incipiente cena hip hop. Vinyl, claro, torna-se mais interessante para quem acompanhou a música dos anos 1970, mas tem qualidades para entreter gerações mais novas. Além de reconstituição de época primorosa, que reproduziu no primeiro episódio gente real famosa como Robert Plant e John Bonham, do Led Zeppelin, tem as explosões de violência que marcam os dramas pesados de Scorsese.
A mulher de Finestra, uma ex-atriz e modelo protegida de Andy Warhol, é interpretada por Olivia Wilde, médica na série House. Um dos sócios da gravadora, irreconhecível de cabelo comprido e barba, é Ray Romano, de Everybody loves Raymond. James Jagger se sai bem, assim como mais um nome de pedigree no elenco, a loirinha Juno Temple, filha do cineasta inglês Julien Temple, conhecido por seus filmes ligados ao universo do rock. Entre boas atuações, tensão crescente, violência e trilha sonora da pesada escolhida por Jagger, Vinyl promete. Novo episódio às 0h03min desta segunda-feira, com reprises às quartas-feiras, às 20h, na HBO.