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Eleições 2022

- Publicada em 24 de Julho de 2022 às 11:10

Roberto Argenta quer priorizar a educação e a geração de empregos no RS

"Eu sempre coloco que o emprego garante o presente, e a educação garante o futuro", afirma candidato ao governo pelo PSC

"Eu sempre coloco que o emprego garante o presente, e a educação garante o futuro", afirma candidato ao governo pelo PSC


/fotos: ANDRESSA PUFAL/JC
Fernando Albrecht e Lívia Araújo, especial para o JC
Fernando Albrecht e Lívia Araújo, especial para o JC
O empresário Roberto Argenta (PSC), fundador da Calçados Beira-Rio, passou mais de 20 anos longe da política representativa – depois de ter sido prefeito de Igrejinha, no Vale do Paranhana, e deputado federal, Argenta se focou exclusivamente nos negócios, mas agora volta, segundo ele, para “retribuir ao povo gaúcho” com “conhecimento e capacidade administrativa para transformar o Rio Grande do Sul”.
Para tal, Argenta afirma ter dois focos principais: geração de empregos e investimentos em educação.
Para o primeiro objetivo, o empresário quer promover a desburocratização, diminuir o número de secretarias, mas ter uma pasta concentrada no desenvolvimento da Metade Sul do Estado, além de outra dedicada a políticas de irrigação. Para ter recursos para educação, Argenta pretende vender imóveis públicos subutilizados e promover convênios educacionais com entidades de classe e a iniciativa privada.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, a segunda com os candidatos ao governo do Estado, o empresário também falou de questões como as privatizações e a função de empresas como a Corsan e o Banrisul. “Vamos deixar o Banrisul mais forte, atuando principalmente na geração de empregos e financiamento de indústrias e agroindústrias.”

JC VÍDEOS: Confira como foi a entrevista com Roberto Argenta

Jornal do Comércio - Faz mais ou menos 20 anos que o senhor não estava na política representativa. O que o motivou a se candidatar novamente, desta vez ao governo do Estado?
Roberto Argenta - A Calçados Beira-Rio hoje é uma das maiores empresas do Brasil e das Américas. Exportamos para 95 países, só temos fábricas no Rio Grande do Sul, e entre empregos diretos e indiretos são mais de 25 mil. Então, tudo isso foi uma dádiva que a vida me deu. Tudo está dando certo, e agora é o momento de eu retribuir a esse povo gaúcho com meu conhecimento e minha capacidade administrativa para transformar o RS.
JC – Muitos empresários que se aventuraram na política se queixam muito da política partidária no Brasil, não achavam que seria tão difícil. Como vê isso?
Argenta - Na verdade eu sou um homem prático: o Estado precisa é de mais emprego em todas as regiões. Como ativar isto? Primeiro, tem que ter um líder que queira isso, que promova novos empresários, que impeça a saída de empresas do Rio Grande do Sul para outros estados, turbinar o Fundopem, especialmente na Metade Sul do Estado. Tem uma frase que eu sempre coloco, que é a seguinte: “o emprego garante o presente, e a educação garante o futuro”. Mas o que cabe ao Estado especialmente na educação? O Ensino Fundamental, de maneira geral, está bem, mas o ensino técnico no Estado tem muita dificuldade, estamos muito atrasados. Os jovens, com 17 ou 18 anos, fazendo um curso técnico já podem começar a trabalhar em seu primeiro emprego.
JC – Esse arcabouço de escolas técnicas seria feito pelo Estado ou com Parcerias Público-Privadas (PPPs)?
Argenta - Escolas do Estado e também PPPs. Por exemplo, tem Sesi e Senai, que também podem participar disso, já tem algumas escolas técnicas... Então, o Estado precisa de alguma forma turbinar tudo isso, e verificar quais as regiões do Estado que têm mais dificuldades, para ter escolas conveniadas.
JC – Além do ensino técnico, o governo do Estado tem sob sua responsabilidade o Ensino Médio. A pandemia, além de déficit educacional, provocou uma alta taxa de evasão. Como o senhor pretende abordar esta questão?
Argenta - A escola técnica não deixa de ser um Ensino Médio, então, realmente não podemos ficar atrás na questão da educação. A gente vai ter que achar uma maneira para ter recursos e alavancar esse Ensino Médio. Uma das formas que vejo é o seguinte: uma parte dos recursos podemos buscar vendendo imóveis não utilizados pelo Estado. Por exemplo, o Palácio das Hortênsias, em Canela, tem um valor inestimável, aquilo lá é um imóvel que vale muito, e assim tem mais de 14 mil imóveis no Estado que estão subutilizados.
JC - Quanto estima que poderia ser obtido com essa solução?
Argenta - Estamos verificando os números com muita parcimônia. Não podemos ficar dando números sem ter uma base muito grande, mas creio que a gente consegue, reduzindo despesas, que muitas vezes são desnecessárias, para termos um maior investimento em educação. Pessoalmente vejo que, nos municípios onde tem pleno emprego, a segurança, a educação e a saúde vão bem. A pior lacuna social hoje do Rio Grande do Sul é o desemprego, especialmente em pequenas cidades. A mão de obra vai, por exemplo, para Santa Catarina. Estamos perdendo muita mão de obra qualificada e preparada.
JC - Uma de suas propostas é reduzir o número de secretarias para 12. Quais precisariam ser extintas?
Argenta - Melhor dizer o que vai ficar: Saúde, Educação, Ciência e Tecnologia, Escolas Técnicas, Segurança e Participação Social, Infraestrutura, Administração e Finanças, Agricultura e Agronegócio, Emprego e Desenvolvimento Econômico e Turismo, Irrigação tem que ter uma secretaria especial... é preciso ver o que foi feito em Israel e no mundo com irrigação, para ter uma irrigação perene no Rio Grande do Sul; Secretaria de Desenvolvimento da Metade Sul, e Agricultura Familiar. Por que eu destaco agricultura familiar em separado da agricultura? Porque uma coisa é o produtor de soja, de milho, outra coisa é quem produz flores, frutas, legumes, que sobrevive com meio hectare. Cabe a nós transformar e mudar a Emater, que tem de ter mais técnicos atualizados para as necessidades de mercado de hoje. E, além disso, Assistência Social e Esporte porque, sem dúvida nenhuma, para as crianças e adolescentes, o esporte ajuda as crianças a espairecer, não ficar focadas somente no celular.
JC - Como pretende de diminuir a evasão de empresas do RS, devido a fatores como incentivos fiscais?
Argenta - Gasta-se muito tempo para ter uma licença ambiental. Eu pretendo fazer uma emenda à constituição estadual em que, passou 30 dias e um projeto não foi mexido, ele é automaticamente aprovado. Claro que o responsável vai assumir todas as responsabilidades que a lei prevê, mas não podemos trancar a geração de empregos por um excesso de burocracias. O grande problema é que eu acho que o Rio Grande do Sul ficou meio parado. Temos que retomar a ideia de desenvolvimento social com mais educação, com mais emprego.
JC – No tema da segurança, a BM atribui a maior parte dos crimes ocorridos na Região Metropolitana às drogas, direta ou indiretamente. Qual sua visão sobre o combate ao tráfico?
Argenta - Ainda existe em alguns municípios o Conselho Municipal de Segurança, onde participam a Polícia Civil, a Brigada Militar e a sociedade. São empresários, líderes sociais, porque, na verdade, quem conhece melhor o problema da segurança é a sociedade, é ela que sabe onde tem aquele problema de droga. Isso não vai se resolver de uma hora para outra, mas, na medida em que a gente vai conscientizando a sociedade, de que também é responsabilidade dela a segurança, vamos devagarzinho melhorando a questão. Por isso, o esporte é importante no bairro, tem que ter mais campinhos de futebol nos bairros, mais quadras de vôlei, tem que ter atividades que levam a uma evolução maior de saúde e bem estar, especialmente para os jovens.
JC - O sistema prisional no RS também passa por muitos problemas. Como pretende abordar a questão?
Argenta - uma coisa boa que está acontecendo no sistema prisional é que presos trabalham, alguns até para o setor calçadista, e isto tem redução de pena. Com um trabalho de assistência social dentro do presídio, você começa a mudar um pouco a cabeça dos apenados, e conscientizar também a família dos presos, para que elas também se sintam responsáveis na recuperação deles. É um trabalho que precisa ser feito com a sociedade.
JC – Como avalia o governo Eduardo Leite até o momento?
Argenta - Tem os seus aspectos positivos, sem dúvida nenhuma, mas acredito que faltou muito o governador Leite ir mais para o Interior. É o olho do dono que engorda o porco. Eu tenho 12 fábricas no Rio Grande do Sul, e todo mês eu passava, nem que fosse meia hora por mês naquelas fábricas. Eu pretendo criar 15 regionais no Rio Grande do Sul, em que vou passar cinco dias todos os meses. Então vou lá ver as obras do Estado, ver as reivindicações das lideranças... Quando fui prefeito, toda semana, estava acompanhando o que estava acontecendo, eu sempre fui muito “cricri”, e é assim que tem que ser. Com meu dinheiro eu posso não cuidar tanto, mas o dinheiro do Estado é sagrado, tem que cuidar de tudo. Eu acho que dá para concentrar todas as secretarias no Centro Administrativo, eu calculo, por alto, ter 40% a menos de cargos comissionados.
JC – Como enfrentar questões de corporativismo no Legislativo?
Argenta - Os políticos que já me conhecem sabem como eu sou. Eu governei Igrejinha com minoria na Câmara, todos os bons projetos passaram porque eu tinha sete ou oito associações de moradores que estavam comigo, então, quando tinha alguma coisa, eu os chamava na Câmara e o projeto era aprovado. Tem que saber mobilizar a população, claro que tem que ter projetos inteligentes, que vão ao encontro da população, e tenho certeza que os deputados irão aprovar. O MDB, o PT, o próprio PSDB e o PSB, enfim, tem deputados bons, que têm interesse em ser políticos diferentes.
JC – O que pensa sobre as privatizações?
Argenta - Olha, começando pela Corsan... Em Porto Alegre tem um departamento municipal, em Novo Hamburgo é uma empresa municipal, mas eu acho que não pode ser uma empresa, porque empresa paga PIS, Cofins, ISSQN, paga Imposto de Renda na fonte, então que seja um departamento, pois departamento não paga imposto.
JC - É contra a privatização da Corsan, então?
Argenta – Não, veja bem, como vai ser privatizado? De que forma? Porque pode ter cinco municípios que podem ter uma empresa, ou um departamento de águas que vai trabalhar em conjunto com aqueles, mas o problema, quando estourou um cano, quem geralmente vai cuidar é a prefeitura. Não precisa fazer uma empresa, eles que façam um consórcio entre eles e resolve o problema de água. Tem que analisar caso a caso para a gente ver qual é o melhor.
JC - É a favor, por exemplo, da privatização do Banrisul?
Argenta - O Banrisul, eu vejo da seguinte forma: existe o Banrisul, o BRDE, o Badesul... Não se precisa de três diretorias, três conselhos fiscais, três conselhos de administração... Vamos deixar o Banrisul mais forte, atuando principalmente na geração de empregos, financiamento de indústrias, agroindústrias... Não precisa ser um grande investimento: muitas vezes com R$ 100 mil dá para instalar uma baita agroindústria para aquela região.
JC – Como avalia o Regime de Recuperação Fiscal e as exigências do programa? Como será governar sob essas regras?
Argenta - Olha, é um fato que vai acontecer, então temos que ter prudência. Vai dar para desfazer? Acho que não, mas uma coisa que nós temos que brigar, aí sim, é na questão dos juros capitalizados, porque é juro em cima de juro, então acho que não cabe a um ente federado pagar juros capitalizados para o governo central. Tem ações como a da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil-RS), vamos reforçar isso. É uma questão que tem espaço para negociarmos com o presidente, com o Parlamento. Se não for possível, vamos pela via judicial, mas acho que tem conversa aí. O Rio Grande não quer ficar para trás. Quero continuar frisando uma coisa muito importante, que devem ser nossos pontos cardeais: a questão da geração de empregos, manter as empresas no Rio Grande do Sul, estimular os empreendedores a investirem mais e voltar a colocar a educação como prioridade. O primeiro ato de governo, para que as crianças e adolescentes acreditem que isso não é politicagem... Vamos convocar a indústria, cooperativas, bancos, e dizer que até 15 de fevereiro temos que ter ao menos cortada a grama dos jardins da escola, ao menos trocarmos os vidros quebrados, se possível pintar a escola. Temos que demonstrar visualmente que a realidade vai mudar. Educação não é só disputa política, é uma realidade. E a busca de empregos, em todos os recantos do Estado, é fundamental para termos um equilíbrio econômico em todas as regiões.
 

Perfil

Roberto Argenta nasceu no interior do município de Gramado, na Serra gaúcha, em 1952. Até os 11 anos de idade trabalhou na roça com seus pais. Depois, dos 11 aos 18 anos, estudou no seminário São José, no município de Gravataí. Depois, formou-se em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Em 1975, fundou em Igrejinha a empresa Calçados Beira Rio S.A., uma das maiores calçadistas do Brasil, que atualmente gera, direta e indiretamente, 25 mil empregos. Na política, Argenta se filiou ao MDB em 1979, e foi eleito prefeito do município de Igrejinha, cargo que exerceu entre 1989 e 1992. Também se elegeu vereador da cidade para a legislatura de 1993 a 1996. Em 1998, Argenta se candidatou a deputado federal pelo Rio Grande do Sul representando o PFL (hoje, União Brasil - originário da fusão do DEM com o PSL), exercendo o mandato de 1999 a 2003. Para concorrer ao governo do Rio Grande do Sul neste pleito de outubro, o empresário filiou-se, em 2022, ao PSC.