Ana Esteves
A lida com o gado na mangueira e as campereadas a cavalo são uma rotina para a administradora de empresas, Fernanda Gehling, que deixou para trás a vida na cidade grande, onde trabalhava em empresas como Renner e Gerdau, para retornar ao campo e gerenciar propriedade da família, em Camaquã. Ela foi uma das palestrantes do bate-papo Mulheres do Agronegócio, histórias inspiradoras, realizado nesse sábado, na Casa JC que reuniu cinco mulheres cujo trabalho está focado no meio rural.
“Já trabalhei com moda, tecnologia da informação, recursos humanos e resolvi deixar tudo isso e ir para a fazenda, administrar a propriedade junto com meu pai: eu na área da pecuária e ele na lavoura” diz Fernanda. Ela representa a quarta geração de uma família de produtores rurais de Camaquã e a decisão de voltar ao campo se deveu à preocupação com a sucessão na propriedade.
“Um dos grandes desafios é justamente mão de obra no campo e tenho trabalhado muito nisso. Fiz um guia de RH e uma revista interna para melhorar a comunicação entre os funcionários. Fazemos constantes reuniões de planejamento”. Além disso, ela trabalha pesado na mangueira: “já castrei potro, terneiro, vacinei e sempre trabalho de igual para igual com os homens, o que ajuda a reduzir o preconceito”.
Desde 2016, Fernanda realiza um trabalho junto às escolas rurais, com palestras que motivam as crianças a estudarem sem perderem o foco no campo. Focamos na valorização do campo, pois as crianças estão com os pés no campo, mas a cabeça na cidade. Eles veem o agro como restrição e não como opção e queremos mudar isso”.
Ao contrário de Fernanda, a bióloga e produtora rural Elizabeth Cirne-Lima concilia a vida na cidade, onde é coordenadora do laboratório de Embriologia e Diferenciação Celular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com a lida no campo, administrando a Fazenda São Bento. “Sou meio camaleoa, parte do meu tempo fico fechada em um laboratório, com luz artificial, ambiente controlado que eu adoro, mas chega uma hora que eu preciso ir para o campo”, diz.
Elizabeth, que também é presidente da associação Brasileira dos Criadores de Devon (ABCD) e vice-presidente da Federação Brasileira dos Criadores de Animais de Raça (Febrac), diz que as meninas da nova geração do agro enfrentam bem menos dificuldades do que as mulheres da geração dela. “Vivemos numa época de com maior respeito maior e valorização das pessoas, independente de gênero”.
A produtora será uma das palestrantes do 3º Congresso Mulheres do Agronegócio, que acontece em outubro, em São Paulo. No evento, Elizabeth discutirá a participação da mulher no agro em 2030. “Parece que falta muito, mas está logo ali e temos que estar preparadas para um cenário em que o avanço tecnológico é muito veloz, tendendo a reduzir o número de empregos. É preciso estudar e se preparar, cada vez mais”.