O que vem acontecendo no Brasil nos últimos dias exige reflexão sobre nossas demandas e objetivos. Uma coisa é nossa indignação com a alta carga tributária. Outra, é achar que o governo tem que controlar o preço do combustível, mesmo aumentando seus gastos para subsidiar o valor. O apoio popular à segunda ideia decorre da ilusão à qual fomos induzidos. Historicamente, o governo se apropriou de setores produtivos, espalhando estatais monopolistas, criando a ilusão de que o domínio dos preços de alguns bens e serviços está em suas mãos.
Com uma estatal controlando a produção de combustíveis, a tendência do governo foi manter preços artificialmente baixos quando os custos aumentam para agradar a população. Os prejuízos são invisíveis para nós, pois são custeados por aumento de dívida pública, deixada para nossos filhos pagarem. Conceitualmente, repudiamos esse comportamento dos governos, mas, na prática, estamos viciados nele. Achamos um absurdo o preço da gasolina aumentar porque estamos acostumados com a ilusão de que é o governo que controla.
Devido a essa miopia induzida, a solução do impasse foi um acordo que envolveu subsídios com dinheiro público, reservas de mercado e tabelamento de preços, uma política dos anos 1980, desastrosa. Devemos fatiar e privatizar a Petrobras para reduzir a participação estatal e aumentar a competição. A concorrência contribuirá para reduzir preços de combustíveis e sua variabilidade, pois aumenta o poder dos usuários, que poderão forçar suas demandas - quando viáveis - por meio da escolha de seu fornecedor, ao invés de necessitarem de uma greve. Devemos nos indignar com a carga tributária, que tira o dinheiro dos nossos bolsos para o setor público. Ela não foi inventada, foi sendo construída para financiar o gasto público. Mesmo arrecadando R$ 2 trilhões em impostos, o setor público no Brasil é deficitário. Se queremos menos tributos, dediquemos a energia de repúdio dos últimos dias às iniciativas governamentais que geram aumento de gastos, principalmente se for para subsidiar grupos ou setores específicos.
Presidente da Fecomércio-RS