�scar M. Chaves
A febre amarela é uma doença produzida por um Flavivirus, um vírus de origem africana que chegou ao Brasil no ano de 1685 trazido pelo homem. No ciclo silvestre da doença, o vírus é transmitido principalmente pela picada de mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes, embora, no ciclo urbano, seja transmitido pelo pernilongo-rajado, Aedes aegypti. O habitat natural dos mosquitos silvestres são as matas nativas, particularmente as copas das árvores, onde as fêmeas se alimentam do sangue dos macacos, infectando-os com o vírus. Na maioria dos casos, todos estes animais (às vezes populações inteiras com centenas de macacos) infectados morrem de forma fulminante no decorrer de uma ou duas semanas, o que representa valioso indicador da chegada do vírus a uma determinada localidade.
Graças a isto, as autoridades de saúde podem acompanhar a trajetória exata da doença e ativar as campanhas de vacinação na população humana. Porém, não são raros os casos de execuções de macacos por pessoas desinformadas em vários estados de Brasil. No Rio do Janeiro quase a metade dos 602 primatas de diversas espécies que foram mortos em 2017 não tinham a doença, mas foram executados com tiros, pedras ou envenenados.
A razão para este tipo de atitude é a crença errada de que os macacos são a "causa" da febre amarela e que por isso representam uma "ameaça" para a saúde. Isto não é somente um crime ambiental grave, mas também deixa as populações humanas mais vulneráveis à doença, já que com a desaparição dos macacos as pessoas tornam-se o principal alvo dos mosquitos. Consequentemente, o sucesso no combate da febre amarela não dependerá somente da abrangência das campanhas de vacinação, mas também do sucesso no combate à ignorância e erradicação dos mitos no entorno da doença. É crucial que o poder público e a iniciativa privada apoiem e promovam ativamente as campanhas de divulgação e de educação ambiental em todo o País.
Médico, Faculdade de Biociências/Pucrs