A produtora cinematográfica Aleteia Selonk há 12 anos comanda a Okna Produções. Também responde como coordenadora do Centro Tecnológico Audiovisual do RS (Tecna), e é professora do curso de Tecnologia em Produção Audiovisual da Pucrs (Teccine). Com 42 filmes no catálogo da sua empresa e há 20 anos no mercado de conteúdo audiovisual para cinema e televisão, Aleteia este ano leva a produção do Rio Grande do Sul a patamares internacionais importantes. É uma dos 30 produtores do mundo inteiro selecionados para integrar a plataforma Co-Production Market, do Festival de Berlim (Berlinale), com o longa a ser filmado no final deste ano, "A primeira morte de Joana". A iniciativa irá potencializar o posicionamento do projeto no mercado internacional. Nesta entrevista, conversamos sobre particularidades do mercado audiovisual, como manter a criatividade ativa e problemáticas em tempos de crise. Confira:

Aleteia Selonk - Já é um papo velho o que vou dizer, que quando as instituições de ensino criaram seus cursos de produção audiovisual, isso gerou um baque no mercado gaúcho. Falo que é velho porque os cursos já estão aí completando 14, 15 anos. Mas foi muito marcante porque passamos de uma era onde os realizadores eram autodidatas ou vindos de outras áreas, para ter um jovem profissional que parte de um entendimento do processo audiovisual como um todo.

Aleteia - Quem trabalha na área de comunicação ou audiovisual, e eu digo isso para meus alunos de primeiro semestre, tem que ter um quê de empreendedorismo. Quando a gente é freelancer, tem que fazer a gestão da nossa carreira, pensar o que o trabalho de hoje pode gerar de oportunidade amanhã e ir criando estes vínculos. Se não tiver esse perfil, dança.

Aleteia - Ainda que eu tenha começado fazendo direção, fui para a produção por um aproveitamento de perfil meu. Vi que ali talvez eu fizesse mais diferença.

Aleteia - O audiovisual ainda não é o mais prejudicado, temos aí o teatro que sofre bem mais, por exemplo. Acho que esse é o momento de pensar: como é que a gente cria outras formas de modelagem de negócios? De um lado, o mercado tem lá as grandes corporações que acabam ditando algumas regras, mas acho que existem brechas e que os jovens empreendedores podem ter vantagem com relação a isso. Quanto melhor fizer o lado concreto, mais o lado artístico vai ser beneficiado. Em tempos atuais, trabalhar com cultura é uma escolha muito relevante para a sociedade. Se os recursos são escassos e as coisas estão instáveis, aos 20 anos de profissão eu acho que nossas funções e escolhas por empreender na área cultural ficam mais relevantes ainda.

Aleteia - Bom, eu hoje lido bem com esses tempos, sou amiga deles e tiro proveito. Por exemplo, a pessoa começa a escrever um roteiro e já sabe que vai levar dois anos para conseguir o dinheiro. Esse tempo existe, e posso fazer dele algo significativo. E a gente gosta disso, de ficar pensando, questionando, desmonta, começa de novo. Ser bem fiel na hora de escolher os projetos para se envolver contempla essa perspectiva de relação a longuíssimo prazo. E depois que um filme fica pronto, ele é para sempre. Eu acho que o tempo é um recurso, e não um obstáculo.

Aleteia - Não se pode perder o encanto de se abastecer com coisas novas, senão a gente fica no mais do mesmo, ou só em volta de uma autorreferência. A primeira forma é ir atrás, como consumidor mesmo. As referências que me inspiram a trabalhar criativamente não vêm só do audiovisual, vêm de todo lado. Se manter com a mente criativa ativa é uma tarefa.