Franz Kafka faleceu em 1924, um mês antes de completar 40 anos. É uma das maiores expressões da literatura do século XX e, sem dúvida, um dos mais criativos e importantes escritores da história da Literatura Mundial. Carlos Castelo escreveu na revista Bravo! que Kafka é o John Lennon da literatura universal, pois sempre aparece um fragmento desconhecido e indispensável de sua obra. O adjetivo kafkiano segue em nossas conversas até hoje e é, mais do que nunca, adequado para falar de nossos dias pós-modernos tão confusos, inexplicáveis e tumultuados.

Blumfeld, um solteirão de mais idade e outras histórias (Civilização Brasileira, 336 páginas), coletânea de 36 contos traduzidos diretamente do alemão pelo premiado professor, tradutor e escritor Marcelo Backes, também responsável pela organização e pelo longo posfácio de 53 páginas sobre a obra, os personagens e as visões do escritor, que conseguiu ser claro, genial, aparentemente simples e que propicia, assim, muitos níveis de leitura. Com Proust e Joyce, Kafka forma um trio de autores que revolucionaram a escrita e deixaram legados que permanecem vivos e inspiradores. Há quem diga que, depois deles, é difícil escrever de modo diferente e criativo, mas a literatura é essa sucessão de autores e histórias que atravessam os séculos e os milênios.

O volume cuidadosamente preparado por Backes traz histórias clássicas do autor, como Um médico rural, Um artista da fome, Josefine, a cantora ou O povo dos camundongos; e o conto inédito O guarda da cripta, na verdade o único drama escrito pelo autor de O processo, Na colônia penal, Carta ao pai, O castelo e A metamorfose, entre outras grandes obras.

Kafka soube como ninguém retratar a estranheza, o fracasso, aquelas coisas tidas como menores ou insignificantes. Na apresentação está dito: os personagens não se encontram no lugar opressor do poder. Até mesmo aqueles que realizam grandes feitos importam pelo próprio fracasso - como o recordista olímpico de natação que não sabe nadar ou o mítico Ulisses, que se lança corajoso às sereias, amarrado por correntes, com os ouvidos tapados por cera, incapaz sequer de perceber que elas não apresentam qualquer perigo, pois não sentem necessidade de seduzi-lo.

Como se vê, esta coletânea de contos do genial Franz Kafka é diferenciada, e seu lançamento deve ser saudado.

Ildefonso Soares Pinto e sua contribuição ao Rio Grande do Sul na Primeira República (Gráfica e Editora RJR, 160 páginas), de Mário Xavier, consagrado jornalista, professor e assessor de comunicação, traz a vida do engenheiro, advogado, jornalista e parlamentar Ildefonso Soares Pinto (1878-1925), e interessante recorte histórico do Rio Grande do início do século XX. Apresentação do embaixador Colbert Soares Pinto Junior; prefácio do professor doutor Paulo Pinheiro Machado.

Pesquisa sobre currículos, gêneros e sexualidades (Mazza Edições, Belo Horizonte, 368 páginas), organizado pelas professoras Marlucy Alves Paraíso e Maria Carolina da Silva Caldeira, traz textos delas e de especialistas sobre pesquisas de várias universidades brasileiras em torno de questões de gênero e sexualidades. Obra pioneira no gênero, aborda, com base em pesquisas inéditas, a relação das questões de gênero com os currículos, tema de relevância na atualidade.

A nova ordem e a última orientação - História das Ideias Políticas - Volume VII (É Realizações, 400 páginas) de Eric Voegelin, filósofo e escritor alemão, radicado nos EUA, explora aspectos da modernidade, oferecendo relatório sobre a situação da Europa no século XVII, depois do declínio da Igreja e da morte do império. O autor mostra como as desordens intelectual e política do período foram enfrentadas por respostas díspares, como a teoria do direito natural e a obra Leviatã, de Hobbes.

 

Feliz n�ver, Porto Alegre! Campai, longa vida! Para teus 246 aninhos, at� que est�s mais ou menos conservada, como se dizia antigamente. N�o vou dizer que tuas ruas e tuas finan�as est�o esburacadas, que est�s mais insegura que mulher de vendedor viajante e que a Rua da Praia, no dizer do saudoso Iber� Camargo, revela o achinelamento nacional. N�o vou dizer que aterramos o Gua�ba, polu�mos suas �guas e colocamos um muro para conter os excessos que ele nunca cometeu.

N�o vou dizer que a Reden��o e outros espa�os p�blicos est�o mal cuidados e que v�rios equipamentos culturais est�o sem atividades culturais ou outras serventias. Prefiro n�o falar da sujeira e das pontas de cigarros que andam pelas ruas, e muito menos vou lembrar dos condom�nios horizontais de moradores de rua. N�o vou falar que pagamos pouco aos m�sicos da noite e que reclamamos das comidas e das contas dos restaurantes, nem quero lembrar que parecemos caranguejos dentro do balde, um botando o outro para baixo. N�o, n�o vou falar sobre a atual fase do Internacional, que a� j� seria demais.

N�o vou estragar tua merecida festa, querida Porto Alegre, a�orianazinha t�mida que se transformou em alem�, italiana, espanhola, africana, polaca, japonesa, chinesa, libanesa, judia e outras etnias cosmopolitas. Com teus 40 morros, teus 72 quil�metros de orla, tua diversidade, tuas religi�es e l�nguas, tua multiculturalidade e tua pluralidade, bem mereces o t�tulo de San Francisco da Calif�rnia do Cone Sul, que ora te outorgo com muito carinho, amor e desejos de que tu resolvas este monte de problemas que te tiram o sono. Tomara que te tornes uma San Francisco de verdade, inclusive com bondinhos, atividades de inform�tica e turismo e um bairro cheio de bandeiras do arco-�ris.

Tomara que o turismo de lazer aumente, tomara que aumente o entendimento entre n�s e a�, quem sabe, as obras e as realiza��es decolem. Tomara que a gente siga tendo dois campe�es mundiais botando as m�os nas ta�as e que a rivalidade Grenal seja civilizada e am�vel, se � que isso � poss�vel ainda neste mil�nio. Porto Alegre n�o � apenas um lugar �timo para voltar e h� muito deixou de ser uma prov�ncia. Porto Alegre � muito mais do que a Capital cultural do Mercosul e deve ser muito maior do que os limites que, tantas vezes, n�s mesmos colocamos para ela.

Porto Alegre tem que ser dim���iss, como diz o Pedro Ernesto, e dim���iss n�o s� na linda can��o do Foga�a. Porto Alegre tem que ser o �timo amanh� e o palco da continua��o dos nossos sonhos de inf�ncia que est�o plantados nas aleias ensaibradas do Parque da Reden��o, no Parc�o, no Marinha e em todas as zonas que a gente consegue contemplar l� do alto do fant�stico Morro do Osso, que merece mais aten��o e visita��o.

Feliz anivers�rio, Porto Alegre! Desejo que o teu presente de anivers�rio, o Cais Mau�, seja entregue bem bonito. Vamos fazer as pazes com o Gua�ba e um dia, quem sabe, tomar banho nele. Deus queira que a gente consiga te cuidar. Quem ama cuida.

Sinceramente, amada Porto Alegre, desejamos que a Administra��o e os Vereadores se acertem e acertem a cidade, que est� incerta, e isso n�o est� certo, com o perd�o do (des)necess�rio trocadilho infame. Tomara que o Cais Mau� e a Ponte do Gua�ba deem certo, que o metr� entre de uma vez nas tocas e desentoque nossa esperan�a e orgulho de ser da cidade que j� foi refer�ncia econ�mica, pol�tica, cultural, art�stica, social e otras cositas m�s. Tomara que a Rua da Praia vista de novo seus trajes elegantes e jogue fora esses trapos a�. Desejo que a gente limpe o Gua�ba, que se ocupe mais e melhor os 40 lindos morros, que s�o 65% de nossa �rea e lembram formas femininas, tipo as colinas do Rio de Janeiro, que inspiraram Niemeyer e Tom Jobim. Beij�o, Porto Alegre, te amamos! (Jaime Cimenti)