Para tudo na vida há um limite e cada indivíduo tem os seus limites também. Quando essa reflexão é relativa à vida profissional - continuar ou não em um emprego -, estabelecer qual limite e que fatores serão criteriosamente avaliados antes de uma tomada de decisão são essenciais. Com o futuro não se brinca.
O País vive uma avassaladora onda de desemprego. Dados recentes apontam que cinco milhões de pessoas estão em busca de uma oportunidade há pelo menos um ano. Estatística cruel, que exclui de uma vida digna quem a integra e desequilibra emocionalmente quem vive sob o constante medo de ser demitido a qualquer momento.
Todo esse clima impacta empresas e profissionais numa ampla esfera de decisões. A organização revê caixa, investimentos, planos de carreira, benefícios, organograma. As pessoas passam a ter que administrar níveis de estresse, cobranças por resultados e cargas horárias mais pesadas.
Existem adicionais de desgaste em algumas realidades. Um líder truculento, que não consegue conduzir o dia a dia de forma saudável ou ter claro o direcionamento de projetos e metas. Um ambiente assim potencializa o estresse entre colaboradores e liderança. Nesse cenário, alguns podem ter baixa produtividade, medo de decidir sobre as mínimas coisas, sentir-se sem perspectivas e até ficar doentes.
É o seu caso? Se a resposta for sim e você já tentou reverter os pontos de atrito e insatisfação sem sucesso, então este artigo é para você. Trabalhar nessas condições acaba por arrastar o profissional para um ciclo nocivo, que vai contaminando todas as áreas da vida - essa pessoa passa a ter baixa performance, leva problemas do trabalho para casa constantemente e isso gera um ambiente ruim também em casa e com a família. O humor, a saúde e o sono vão embora.
Sair dessa nuvem é a decisão correta. Porque o terreno não permite mais um futuro promissor. Organize-se financeiramente e vá, sim, em busca de uma oportunidade em outra organização. Satisfação pessoal. Outro contexto que leva uma pessoa a pedir demissão, mesmo diante da realidade adversa do País ou do mercado em que ela atua, são as travas em relação ao propósito.
A empresa trabalha de uma forma e, em determinado momento, revê seus objetivos e valores, mesmo que não seja de forma explícita. O cotidiano não mais segue no alinhamento anterior e os colaboradores vivenciam esse choque.
Alguns assimilam bem, outros não. Se os novos valores, se o "propósito" da empresa não é mais compatível com os propósitos de determinada pessoa, ela acabará optando por sair. Falta de aderência cultural é um forte fator de perda de talentos hoje em dia.
Empresas do setor de consumo, por exemplo, viveram intensamente essa situação. Muitas precisaram mudar a forma de operar para sobreviverem aos novos tempos. E isso redesenha processos, metas e valores, claro.
Como headhunter não raro recebo currículos de pessoas que querem mudar rapidamente de emprego porque a empresa onde trabalham mudou a forma de conduzir os negócios e de tratar os colaboradores.
Esse é um processo diferente. Quando o líder é o peso mais relevante na tomada de decisão, a motivação é o desgaste psicológico que o colaborador está vivendo. No outro, o que acontece é a falta de identificação com o propósito ou o novo rumo que a organização está tomando.
No primeiro caso, a despedida acontece repentinamente. A corda arrebenta, o elo de confiança se rompe e a pessoa vai embora. Na outra situação, o processo é mais planejado e a análise, mais cautelosa. A pessoa busca entender se é um momento que pode ser revertido ou se realmente a afinidade entre o colaborador e organização acabou. Em um cenário a decisão é mais racional, no outro, mais emocional.
Olhar sensível. Como a empresa olha para esses movimentos? Algumas têm a percepção de que sua mudança de rota gerou um novo ambiente e nem todos estão felizes. Elas buscam promover as melhorias possíveis que a nova realidade permite. Outras têm a percepção, mas não têm flexibilidade para agirem.
Também é assim quanto à percepção de um líder problemático. O turnover sinaliza claramente onde existe um gestor nocivo. E a organização precisa assumir uma postura, tomar uma atitude ou assumir o ônus que um líder nocivo trará para sua organização.
Managing partner da Signium