Cerveja como um norte
Fernanda Meybom, 38 anos, é engenheira química, mestre em estilos e avaliação de cervejas, além de ser uma conceituada sommelière de cerveja do País. A inserção no mundo cervejeiro começou por hobby, em 2012, em uma viagem à Califórnia, onde Fernanda experimentou cervejas locais. Ao concluir o curso de sommelier de cervejas, foi chamada para trabalhar como mestre do ramo. A partir daí, atuou em cursos, palestras, degustações, júris e eventos. Fernanda foi convidada para compor as mesas de avaliação no Festival da Cerveja de Porto Alegre, que aconteceu durante fins de semana do mês de novembro.
GeraçãoE - Quando seu gosto por cervejas virou profissão?
Fernanda Meybom - A chave de hobby para profissão virou quando fui chamada para dar aulas em um curso de tecnologia cervejeira, na Uniasselvi, em Blumenau, Santa Catarina. Hoje, na mesma cidade, sou professora na Escola Superior de Cerveja e Malte. Quando comecei a dar aulas, vi que a coisa estava ficando séria. Em 2014, viajei para Chicago para fazer uma especialização na área. A minha carreira começou a convergir para isso.
GE - Ser sommelière de cervejas é sua principal função hoje?
Fernanda - Sim. Eu também trabalho como engenheira química no Conselho de Engenharia. Só que até mesmo lá a minha profissão se voltou para isso, porque eu trabalho com a parte de alimentos, voltada para área de faculdades. Então eu comecei a incentivar os alunos a pesquisarem e estudarem mais sobre a produção de cervejas e insumos. Hoje, leciono cursos e palestras tanto para a questão de processos cervejeiros quanto para a parte da análise sensorial.
GE - Qual a importância dos avaliadores de cerveja atualmente?
Fernanda - Hoje, na indústria, um dos maiores controles de qualidade são feitos por pessoas especializadas que fazem a análise sensorial da cerveja. Claro, existe a análise química. Precisamos estar treinados para avaliar se algo não está de acordo com o produto, saber dizer se aquilo foi um erro de processo ou contaminação, por exemplo. Hoje em dia, ainda é muito caro realizar uma análise química. Nem todas cervejarias têm acesso. E se pensarmos em microcervejarias, fica ainda mais difícil. Ter um profissional especializado ajuda.
GE - Como você enxerga o mercado de cervejas artesanais no Brasil hoje?
Fernanda - Ainda estamos em crescimento. Nos dois últimos anos, tivemos uma evolução muito grande. É incrível a quantidade de novas cervejarias que estão surgindo. Porém ainda somos iniciantes. Acredito que ainda há muito para crescer. E eu vejo que o mercado tem grande potencial também. Só é preciso dedicação para fazer um trabalho de qualidade e ter bons profissionais na equipe. Não apenas porque esse ramo está na moda. O Rio Grande do Sul, nacionalmente, tem um destaque, é o segundo maior produtor de cerveja artesanal. Um número que vem crescendo exponencialmente.
GE - Porque eventos como o Festival da Cerveja de Porto Alegre são importantes para o mercado das cervejas artesanais?
Fernanda - À medida que as cervejarias estão entrando no mercado, a concorrência amplia. Logo, se uma cerveja é avaliada e recebe um prêmio, ganha destaque. A marca da cerveja aparece como uma cerveja que foi avaliada por especialistas do mercado. E neste concurso temos profissionais, inclusive de outros países. Receber uma medalha em um concurso como este é quase como um atestado de um produto de qualidade. É muito importante para as cervejarias que, ganhando a premiação ou não, recebem uma ficha de avaliação técnica. As cervejas são avaliadas a partir de padrões técnicos. O cervejeiro recebe o feedback do pessoal do concurso. E é sempre mais de um jurado que avalia o produto. Ele sai com a informação de como está o produto dele. Então, quem produz sempre sai ganhando. Eu vejo como uma oportunidade de melhorar o produto.
GE - Como funciona a rede de contatos na indústria da cerveja?
Fernanda - Nós nos conhecemos em eventos cervejeiros profissionais. Normalmente, pessoas que organizam os concursos também são do meio. São selecionadas pessoas com diferentes pontos de vista, como sommeliers, mestres cervejeiros e até jornalistas especializados em cervejas. É importante ter um mix de pessoas com diferentes especialidades. Para compor júris. Eu participo de vários, no Brasil e no exterior. É interessante ter pessoas de outras regiões para contribuir com suas diferentes percepções.
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