O que voc� tem feito no seu tempo livre?
O publicitário Luciano Braga, 32 anos, virou empreendedor após apostar em projetos autorais que desenvolvia no seu tempo livre - mesmo que trabalhasse oito horas por dia, tivesse duas de almoço e mais duas no trânsito para ir e voltar pra casa. Ou seja, praticamente metade do dia ocupado, sem contar as horas de sono. Sua experiência gerou o livro O Poder do Tempo Livre, lançado pela editora Belas Letras neste mês. De leitura leve e rápida, o objetivo do volume é dar referências e criar gatilhos para que as pessoas aproveitem o tempo que sobra para tocar projetos próprios. Confira a conversa:
GeraçãoE - Como foi a sua própria descoberta do poder do tempo livre?
Luciano Braga - Não foi consciente. Eu trabalhava em agência de publicidade, oito horas por dia, mais duas horas de almoço e, como morava na zona Sul, mais duas horas no trânsito para ir e voltar. Ou seja, tomava metade do meu dia. Fiz alguns cursos na Perestroika, e eles têm muito esse conceito de botar as coisas em prática. Então decidi fazer meu blog de quadrinhos, uma paixão de infância. Em um ano trabalhando fora do horário, se elevou muito o meu portfólio, eu já era o Braga Comics. Isso me fez ver que tinha valor usar o pouco tempo que eu tinha para fazer o que eu realmente queria. E isso me deu mais potencial, reconhecimento, satisfação mesmo. Isso tudo em 2010, aos 25 anos. No final daquele ano, me demiti e achei que, com mais tempo de sobra, iria produzir muito mais e gerar ainda mais resultados. Mas em nove meses não ganhei R$ 1,00. Não foi tão trágico, porque eu morava com meus pais.
GE - E como foi a virada?
Luciano - Hoje, um dos projetos paralelos virou a minha empresa, a Shoot the Shit. Ela paga as minhas contas. Criamos projetos de impacto dos mais variados tipos e isso vira comunicação depois. Eu ganho mais e tenho mais tempo livre.
GE - Como você gerencia o tempo livre de agora para manter-se com ele?
Luciano - Estou num momento de não dizer sim para tudo nem querer fazer tudo. Quando tu tens 20 e poucos anos, pode experimentar e aprender de tudo. Agora, tenho mais tempo livre por dizer mais "nãos" e ter liberdade de escolha no meu dia.
GE - O que você acha que mais rouba o tempo livre?
Luciano - O celular e as redes sociais. A gente não percebe o quanto fica no Facebook e no Instagram. Você pega o celular e, quando vê, está lá por uma hora. Em uma hora, você pode ver um documentário, dar uma volta de bicicleta, ler. A galera jovem é muito ligada nisso, e não percebe o quanto faz mal. Eu tiro 20 minutos à noite para olhar o celular - tem muito conteúdo e tecnologia interessante, mas a gente se perde nele. Além disso, as pessoas da minha idade são muito ansiosas, e eu acho que o celular contribui.
GE - Por que devemos ter projetos próprios?
Luciano - A sociedade é boa em matar desejos e sonhos, a gente aprende a escolher uma coisa de faculdade e ter que fazê-la até o fim da vida. Mas nós somos seres muito complexos para fazer uma coisa só. Nenhum emprego jamais iria suprir tudo o que eu queria fazer. Ainda quero criar uma escola e ser comediante (risos). O projeto paralelo é uma válvula para colocar as paixões no mundo sem o peso da grana e de dar certo. As pessoas tinham que pensar mais nelas mesmas, e não só no dinheiro e na formação.
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