Ricardo Gruner
De tiradas humorísticas, atitude singular e frases que viraram bordões, o rio-grandense Apparício Torelly (1895-1779) foi um dos jornalistas mais estimados do seu tempo. Ao longo de sua trajetória, concedeu a si próprio o título de Barão de Itararé e - em palavras próprias - fundou e afundou jornais. O gaúcho agora é também o tema de uma autobiografia inventada: em A sobrancelha é o bigode do olho (Melhoramentos, 110 págs., R$ 43,00), o escritor Ivan Jaf busca apresentar o personagem para um novo público.
O ponto de partida é um monólogo que o próprio autor escreveu para o teatro anos atrás. O material tinha base nas célebres conferências que o Barão realizava pelo Brasil - inventando assuntos na hora e emendando frases sem sentido. "Me encanta a liberdade de pensamento, a luta por um Brasil mais legal e a defesa dos oprimidos. Era um cara engajado e com um humor imbatível", ressalta Jaf.
Para narrar as peripécias do Apparício Torelly, o autor escreve em primeira pessoa - assumindo a voz do jornalista. Testemunha da ditadura da Era Vargas, o Barão de Itararé usava o nonsense a serviço de mensagens contestatórias. "Ele é um símbolo do jornalismo combativo. Brigava com os poderosos mesmo. Foi preso, sofreu nas mãos de Getúlio", destaca o autor - que, na infância chegou a conhecer brevemente o biografado.
O livro ainda conta com cartuns de Orlando, em uma homenagem ao visual de A manha - publicação fundada por Torelly após deixar a redação de A Manhã. As ilustrações são inspiradas no trabalho de Andrés Guevara, parceiro do protagonista.
O resultado deve render um segundo volume baseado na obra do personagem. Ivan Jaf está em vias de lançar É o otimismo que faz o besouro voar, uma extensão da pesquisa sobre o Barão. Dessa vez, o foco serão crônicas esquecidas. "Durante anos ele escreveu uma coluna diária no Diário de Notícias aqui no Rio. Essas colunas ninguém estudou", afirma o autor. "Coletei e fiz mais ou menos o mesmo processo de recriação desse primeiro", completa.