Michele Rolim
Os artistas Carlos Asp, Carlos Pasquetti, Clóvis Dariano, Mara Alvares, Vera Chaves Barcellos e Telmo Lanes estão novamente reunidos. O grupo foi o responsável pela renovação da linguagem artística através de posições experimentais e conceituais. Eles integravam o Nervo Óptico, título que abrange as ações desse coletivo de artistas desde o lançamento de um texto-manifesto em 1976, passando pelos cartazetes e pelas exposições realizadas até 1978, ano em grupo se desfez.
Quatro décadas depois da formação do Nervo Óptico, a Fundação Vera Chaves Barcellos (FVCB) apresenta Nervo Óptico: 40 anos, sob curadoria da professora do Instituto de Artes, Ana Albani de Carvalho. A exposição abre a programação expositiva de 2017 neste sábado, das 11h às 17h, na Sala dos Pomares da Fundação Vera Chaves Barcellos (Senador Salgado Filho, 8.450). Depois de uma temporada no Centro Cultural São Paulo (2016/2017), a exposição ganha inédita configuração, especialmente pensada para o espaço da FVCB.
A mostra tem trabalhos - em obras da época e em versões recentes - dos nomes que integraram o grupo, mais peças de Romanita Disconzi e Jesus Escobar, artistas que participaram das atividades anteriores à consolidação do Nervo Óptico. Documentos e registros fotográficos de performances e ações do período de atuação do grupo (1976 a 1978) também serão exibidos.
Também estão na exposição 13 cartazetes intitulados Publicação aberta a novas poéticas visuais. As publicações tiveram distribuição gratuita no Brasil e no exterior - aos moldes da arte postal - entre abril de 1977 e setembro de 1978, com tiragem de cerca de mil exemplares. Cada edição apresentou um trabalho desenvolvido especificamente por um artista, integrante do grupo idealizador ou convidado.
Na exposição também está o documento original do texto-manifesto de 1976, que tinha uma preocupação de não produzir obras condicionadas pelo mercado, como no trecho: "Não somos contra a venda da obra de arte. Não aceitamos, isto sim, que o mercado dirija o movimento artístico". "Sem dúvida, para o Sul do Brasil, o grupo teve uma ação pioneira no uso da fotografia, pelo menos, da forma e com a intensidade com a qual a fotografia foi explorada pelos artistas vinculados ao Nervo Optico", conta Ana, que também realizou uma dissertação sobre o grupo e suas ações.
O coletivo de artistas surge, portanto, no contexto dos anos 1970, no fluxo da contracultura, e em plena ditadura militar. "No Sul, do ponto de vista dos artistas mais jovens e interessados em uma perspectiva contemporânea para a arte, havia o desejo de ampliar as fronteiras, de realizar intercâmbio com outros centros nacionais e estrangeiros, ampliar os temas e investir em linguagens mais atuais", comenta Ana, que acrescenta: "Neste caso, o uso da fotografia assumiu uma posição central para o investimento em trabalhos mais experimentais, que não estavam tão preocupados com um 'produto final' (por exemplo uma pintura, uma escultura, que pudesse ser vendida em uma galeria)".
Segundo Ana, as questões colocadas pelos artistas nos anos 1970 permanecem no debate contemporâneo. "O uso da fotografia, a exploração de questões como corpo, natureza, cultura, o uso da ironia, enfim, toda a potência artística e estética das obras", ilustra. Todos os participantes do Nervo Óptico seguem produzindo, conforme a curadora, questões da imagem, da fotografia e as relações entre obra e espaço de exposição continuam ativas em seus trabalhos.
Para o dia da abertura, a FVCB disponibilizará transporte gratuito de Porto Alegre para Viamão (ida e volta) em dois horários: às 11h e às 14 horas, com saída em frente ao Theatro São Pedro (Praça da Matriz - Centro). É necessária inscrição prévia, por telefone ou e-mail: (51) 3228-1445 e
[email protected]. A visitação ocorre até o dia 22 de julho, de segunda a sexta-feira, das 14h às 17h30min.