Percorrer o Brasil e o exterior é o desejo de grande parte dos artistas. Nem todos, é verdade, conseguem alcançar tal objetivo. O funkeiro gaúcho, Franccesco Finizio, 28 anos, reconhecido por onde passa como
MC Tchesko, levou o funk gaúcho fronteira acima. Em 2006, aos 16 anos, já escrevia suas primeiras letras e se apresentava junto com o grupo Arrastão do Funk. De espectador dos bailes que aconteciam perto de casa, no Teresópolis Tênis Clube, na Zona Sul de Porto Alegre, Tchesko tornou-se um espelho para a nova geração de MCs gaudérios.
"O funk é o grande empreendimento da favela. Além de salvar vidas, digamos assim, ele ajuda às famílias", defende. Um só MC, segundo Tchesko, pode gerar entre cinco e 15 novos empregos. Nessa conta, entram: motorista, produtor musical e de palco, DJ, segurança, entre outros, além do giro econômico que as casas noturnas - e seus funcionários - são incluídos.
Mas a missão não foi fácil. O início conturbado se deu pela falta de compreensão da mãe, dona Luísa. "Ela criticava por medo, por trocar o certo pelo duvidoso", explica, contando que esteve durante quatro anos a serviço do Exército Brasileiro e que, no último de seus quatro anos, precisou negar uma promoção a Cabo para seguir sua carreira artística.
"Ela gostaria que eu seguisse como militar. Porém, meu sonho falava mais alto", lembra. Depois de uma apresentação em Belo Horizonte, Minas Gerais, a "ficha caiu" para ela. Ali, percebeu que aquela "brincadeira" havia se tornado uma profissão séria.
Além da dificuldade enfrentada dentro de casa, Tchesko precisou enfrentar o preconceito com o gênero musical e o fato de ser do Rio Grande do Sul. "O eixo do funk é Rio de Janeiro e São Paulo." O MC aponta que o mercado carioca, por ser o berço do estilo musical, está saturado e dificilmente recebe artistas de outras localidades.
Os paulistas, no entanto, descentralizam as cidades que recebem apresentações. Não é apenas a capital que "bomba", o que expande o mercado - tornando mais acessível para a entrada de músicos vindos de outros lugares. E foi o que aconteceu com Tchesko. Quando uma de suas músicas, intitulada
É bem assim que a gente tá, ganhou o Brasil em 2012, precisou morar na Praia Grande, litoral paulista. "Fazia de 10 a 15 bailes por semana - são mais de 800 bailes no estado de São Paulo", conta.
Enquanto elogia o mercado paulista, o MC não esquece de criticar a desvalorização dos artistas gaúchos pelos produtores locais. "Eles reconhecem os de fora, mas esquecem da gente." Para ele, é mais fácil - e vantajoso financeiramente - fazer uma apresentação no Rio Grande do Sul para quem não é do Estado. Enquanto o funkeiro local recebe entre R$ 2 mil e R$ 6 mil - dependendo do momento de suas músicas -, quem vem de fora do Rio Grande do Sul chega a receber R$ 20 mil. "O funk gaúcho é um grande diamante, porém não é lapidado", metaforiza.
Mais do que um negócio rentável, Tchesko vê no funk uma ferramenta para dar uma profissão para os jovens da periferia. "Por ser de comunidade, muita gente pode fraquejar nessa hora, por necessidade, pela família estar passando uma grande dificuldade de vencer na vida. O funk vai salvar essas pessoas, essa juventude", sentencia.
Ouvindo de um número cada vez maior de mães que os filhos querem se tornar MCs, Tchesko percebeu a necessidade de conversar com os menores. Um desses bate-papos foi na Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase). "Com a palavra que a gente dá lá, pode despertar o interesse em alguma profissão. Como falei para eles: se não forem MCs, podem ser médicos, engenheiros ou a mais simples que seja. Mas que seja uma profissão digna."
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