Pela abordagem da riqueza nas favelas
O porto-alegrense Vinicius Mendes Lima, 30 anos, é mestre em Marketing Estratégico pela Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales da Argentina (Uces) e, tanto no país vizinho quanto no Brasil, desenvolve pesquisa e leciona, além de prestar consultoria em plano de negócios de micro e pequenas empresas. Como especialista em empreendedorismo, atua pela MGN Consultoria em projetos de Responsabilidade Social Empresarial, tendo oferecido capacitações nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 e na Copa do Mundo Fifa 2014. Os anseios do jovem professor, administrador e empreendedor - que teve uma franquia de crepes na adolescência e hoje é proprietário do La Boca, um centro esportivo e cultural em Porto Alegre - o levaram a desenvolver sua pesquisa de mestrado sobre empreendedorismo periférico, que resultou no livro A riqueza das favelas: o empreendedorismo entre morros e vielas. Para o estudo, utilizou a Rocinha, no Rio de Janeiro, que é a maior favela da América Latina, e a Villa 31, a mais antiga de Buenos Aires, Argentina. Nesta conversa com o GeraçãoE, discorreu sobre o que conheceu e, especialmente, sobre o que aprendeu durante os dois anos de pesquisa.
GeraçãoE - De onde surgiu a ideia para o livro?
Vinicius Mendes Lima - Não foi intencional. Não era para ser um livro. Ele é minha tese de mestrado. Escrevi um artigo para uma revista de negócios de Buenos Aires (onde fez o mestrado) e a editora me convenceu a escrever o livro. Eu sei como funciona o mercado formal, mas não sei como esses caras fazem (nas periferias). Isso tudo mexeu comigo para que eu fosse atrás desse conteúdo para escrever a tese, para apresentar, comprovar e entender o que os empreendedores das favelas fazem de diferente do que está na rua.
GE - Fale sobre a experiência de subir o morro e adentrar em comunidades.
Vinicius - A discussão é diferente quando aborda a riqueza das favelas e não a pobreza, o tráfico, a insegurança, falta de saneamento, que é só isso que se fala, só os problemas. Na Villa 31, o dono da rádio me olhou e perguntou "o que é que tu queres?". Ele disse que para falar mal deles já tem um monte de gente. Mas eu fui lá justamente pelo contrário. Para mostrar quão rico eles são: "tem dinheiro aqui dentro, vocês são organizados", expliquei para ele. "Tu vais falar da riqueza?", ele me perguntou. (No livro) não estou falando só de cultura, estou falando de dinheiro. O Preto Zezé, presidente da Central Única da Favelas (Cufa) Global foi outro cara que abraçou, porque ele sempre é convidado para falar sobre o lado ruim.
GE - Qual é o perfil do empreendedor da periferia?
Vinicius - Tem o empreendedor por necessidade e o empreendedor por oportunidade. Na América Latina e Caribe, 70% dos empreendedores são por necessidade. E as favelas são a prova disso, porque 70% da população total dessas duas localidades é moradora da periferia. Esses caras não têm absolutamente nada de conhecimento técnico. E, muitas vezes, nesse caso das favelas, os caras pararam na 5ª série do Ensino Fundamental. No máximo, o cara aprendeu a ler e escrever, somar, subtrair, dividir e multiplicar. Mas, se parar para falar com eles, te dão uma aula de gestão. E tu não entende como isso é possível. Porque eu estudei, estudei, estudei e ainda não sei nada. Mas o cara monta um negócio para ti em 10 minutos e te dá todos os números. É um negócio impressionante.
GE - Qual é a maior diferença e a maior semelhança entre os negócios na Rocinha e na Villa 31?
Vinicius - Posso até colocar Porto Alegre no pacote, porque é muito parecido. Os empreendedores, todos eles, sem exceção, são felizes. Todos eles ganham mais de R$ 2 mil. Todos eles empregam pessoas e todos eles são chefes de família. Todos, sem exceção. Eles possuem negócios que geram ao menos um emprego, informal, na maioria das vezes. Então, estão gerando renda para mais de uma família, pelo menos.
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