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Porto Alegre, domingo, 04 de maio de 2025.

DITADURA MILITAR

- Publicada em 30 de Agosto de 2013 às 00:00

Comunista Raul Carrion depõe à Comissão da Verdade


JONATHAN HECKLER/JC
Jornal do Comércio
Instalada em agosto do ano passado pelo governador Tarso Genro (PT) para analisar violações dos direitos humanos praticadas por agentes do Estado no Rio Grande do Sul entre os anos de 1961 e 1988, a Comissão Estadual da Verdade (CEV) segue trabalhando no 12º do prédio do Instituto de Previdência do Estado (IPE), em Porto Alegre, analisando documentos e ouvindo testemunhas e vítimas dos anos de chumbo.
Instalada em agosto do ano passado pelo governador Tarso Genro (PT) para analisar violações dos direitos humanos praticadas por agentes do Estado no Rio Grande do Sul entre os anos de 1961 e 1988, a Comissão Estadual da Verdade (CEV) segue trabalhando no 12º do prédio do Instituto de Previdência do Estado (IPE), em Porto Alegre, analisando documentos e ouvindo testemunhas e vítimas dos anos de chumbo.
Nesta quinta-feira, foi a vez de o deputado estadual Raul Carrion (PCdoB) relatar aos integrantes da comissão as violações sofridas após ser preso e levado ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em maio de 1971, em Porto Alegre, onde hoje é o Palácio da Polícia. Carrion havia deixado a organização de esquerda Ação Popular em 1969 e se integrado ao PCdoB, atuando na militância junto a operários e estudantes na resistência ao regime militar. A reunião foi fechada, mas antes de depor, Carrion conversou com a reportagem do Jornal do Comércio.
Foi detido quando levava textos a um companheiro para publicação no jornal O Proletário. Permaneceu no Dops entre 28 de maio e 6 de junho daquele ano “sendo submetido às mais selvagens torturas”, relata, descrevendo que um dos militantes presos com ele chegou a ter uma parada cardíaca por causa dos choques elétricos.
“Fui embarcado em um avião da FAB no dia 6 de junho de 1971 - coberto de hematomas, urinando sangue, com uma costela fraturada e um tímpano descolado - juntamente com o psiquiatra Bruno Mendonça Costa, com destino ao centro de torturas clandestino da Oban (Operação Bandeirante - estrutura criada pelo Exército para integrar o sistema repressivo), em São Paulo”, recorda Carrion. “Lá, submetido a torturas e interrogatórios diários, permaneci por mais de 20 dias em regime de total incomunicabilidade”, tendo o primeiro atendimento de saúde somente após este período.
Além de depor à comissão, o deputado entregou alguns documentos relativos ao período da repressão e ao processo de reparação movido contra o Estado. Um deles traz uma cópia da ficha de Carrion no Dops.  Outro tem um relato de seu irmão, o hoje professor de Direito Constitucional Eduardo Carrion, que foi com o pai a São Paulo, na época, para tentar libertá-lo, pois a família temia que Raul Carrion fosse assassinado. Depois de 40 dias na Oban, ele foi transferido para Porto Alegre.
“Na mesma noite em que cheguei a Porto Alegre, fui levado para a sala de torturas, onde já se encontrava o estudante de Ciências Sociais Ney de Grandi, sendo submetido a choques elétricos no pau-de-arara. Acareado com ele, também fui submetido a torturas com choques elétricos, socos e pontapés”, lembra o deputado, que acabou libertado em 2 de agosto daquele ano.
“Havia perdido o emprego, tivera que interromper o curso na universidade e encontrava-me com a saúde abalada. Perseguido e ameaçado por torturadores - que desfilavam na maior impunidade -, decidi afastar-me do País por uns tempos”, conta o comunista, que acabou se exilando no Chile.
Entre os documentos entregues à comissão, Carrion também mostra uma cópia de um relatório da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio Grande do Sul, intitulado “Relação de elementos que interessam ao Departamento Central de Informações”, datado de fevereiro de 1972, no qual é tratado como “elemento foragido”, “fanático militante do partido socialista” e “agitador”.
Em outro documento, Carrion apresenta uma declaração afirmando que os depoimentos feitos naquele período às autoridades de segurança do Estado brasileiro deveriam ser desconsiderados, por terem sido feitos “sob violenta coação física, psicológica e moral”.

Deputado espera que trabalhos resultem em justiça

De acordo com o deputado Raul Carrion (PCdoB), o papel que vem sendo realizado pelas comissões estadual e nacional da Verdade é “de extrema relevância” para dar conhecimento à sociedade  - especialmente à juventude - sobre as atrocidades cometidas por agentes do Estado brasileiro. 
“A ditadura só caiu porque houve resistência”, avaliou o comunista. “Estamos contribuindo para que esta história seja escrita - ou reescrita - porque pouco se conhece”, argumenta, acrescentando que espera que os trabalhos das comissões estaduais e nacional tragam algo além da memória e da verdade: “a justiça”.
“Esta anistia que foi autoconcedida pelo regime militar aos ataques políticos que se fez contra a democracia não se confunde com os crimes como estupro, tortura, homicídio de pessoas aprisionadas, sequestro e ocultação de cadáver. Essas pessoas fizeram crimes de lesa-humanidade e não estão abrigadas pela anistia. Essas pessoas precisam pagar pelos crimes que cometeram”, defende.
O deputado Raul Carrion também diz creditar que a publicização dessas violações levem a sociedade a cobrar alterações na aplicação da Lei de Anistia, criada em 1979.
O primeiro relatório semestral da comissão estadual foi entregue ao governador Tarso Genro (PT) em fevereiro deste ano, bem como uma cópia foi encaminhada à Comissão Nacional da Verdade (CNV).
O documento pode ser acessado no site na comissão estadual: www.comissaodaverdade.rs.gov.br. O segundo relatório está em fase de conclusão e deve ser tornado público nas próximas semanas.
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