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Publicada em 29 de Dezembro de 2024 às 20:17

Darlene quer desenvolver infraestrutura do Porto de Rio Grande e investir na educação

Darlene Pereira, prefeita eleita de Rio Grande, em entrevista ao Jornal do Comércio

Darlene Pereira, prefeita eleita de Rio Grande, em entrevista ao Jornal do Comércio

TÂNIA MEINERZ/JC
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Bolívar Cavalar
Bolívar Cavalar Repórter
Eleita prefeita de Rio Grande após o abandono da campanha eleitoral de Halley de Souza (PT), Darlene Pereira (PT) será a primeira mulher na história a comandar o executivo do município da região Sul do Estado. Derrotando o atual prefeito Fábio Branco (MDB) com 49,13% dos votos e confirmando o retorno de um governo petista na cidade, após dois mandatos de Alexandre Lindenmeyer (2013-2020), ela buscará investimentos junto ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para desenvolver a infraestrutura do Porto de Rio Grande. Entre as prioridades da gestão estará a educação, a partir da garantia de haver professores nas salas de aula.
Eleita prefeita de Rio Grande após o abandono da campanha eleitoral de Halley de Souza (PT), Darlene Pereira (PT) será a primeira mulher na história a comandar o executivo do município da região Sul do Estado. Derrotando o atual prefeito Fábio Branco (MDB) com 49,13% dos votos e confirmando o retorno de um governo petista na cidade, após dois mandatos de Alexandre Lindenmeyer (2013-2020), ela buscará investimentos junto ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para desenvolver a infraestrutura do Porto de Rio Grande. Entre as prioridades da gestão estará a educação, a partir da garantia de haver professores nas salas de aula.
Darlene detalha nesta entrevista ao Jornal do Comércio os principais desafios para o próximo governo, como o objetivo de retomar o polo naval de Rio Grande e efetivar a construção lote 4 da BR 392, avaliado pela prefeita eleita como estratégico para o município e o entorno. A petista também opina sobre o projeto de uma obra para criação de um porto em Arroio do Sal, o que, na avaliação dela, impactaria negativamente na economia do município.
Jornal do Comércio - Inicialmente, o candidato do PT à prefeitura de Rio Grande era Halley de Souza, que declarou problemas de saúde e abandonou a campanha. Como foi este processo?
Darlene Pereira - Na verdade, eu já vinha acompanhando. Eu estava na coordenação da campanha do Halley desde a construção do programa de governo, então vínhamos acompanhando junto todo esse processo. Com o problema de saúde que o Halley teve, acabou meu nome sendo colocado pelo próprio partido como uma possibilidade, considerando a minha votação de 2020, e eu também estar apropriada de todo o processo que nós vínhamos vivendo na campanha. Eu não tinha sido candidata por opção. A gente teve essa discussão no início do ano, entendendo que o Halley, neste momento, estaria mais pronto para ir - ele também tinha sido candidato a deputado (estadual), tinha feito uma boa votação e gente entendeu que era momento para ele. O problema de saúde impediu, acabou que eu que eu entrei na campanha, e entrei em um ritmo aceleradíssimo, porque foram 35 dias de campanha corrida. Mas quando eu tomei a decisão e aceitei esse desafio, fui para rua, fui trabalhar, fomos conversar com a comunidade e a campanha foi ganhando também volume, e crescendo, chegando ao resultado que chegou.
JC - Se tornou a primeira mulher eleita à prefeitura do Rio Grande na história. O que significa este marco?
Darlene - Isso é uma coisa que me honra muito, mas que também traz uma responsabilidade muito grande. Quando a gente fala nisso, Rio Grande tem 287 anos, e quando eu assumir já serão 288, e nunca teve uma mulher. Já tiveram outras mulheres candidatas, inclusive a primeira mulher candidata em Rio Grande foi a professora Marlova Finger, que era também do PT, em 1985. Depois, em 2020, quando eu concorri, nós éramos três mulheres concorrendo. Mas dessa vez eu percebi a diferença, o sentimento das próprias mulheres. Foi um processo muito bonito que a gente viveu na campanha, apesar do susto inicial dessa mudança, acabou que o processo foi crescendo, e muito, com apoio e com acolhimento das mulheres. A relação com as mulheres, eu percebia diferente. Claro que em 2020 tinha todo aquele processo de pandemia, foi uma campanha muito difícil, a gente em casa, com o uso da máscara, não podendo se aproximar das pessoas. Para mim foi muito difícil, e esse ano foi diferente. Aí eu dizia: independente do resultado que desse, tinha sido a minha redenção por poder estar mais perto das pessoas, que é uma coisa que para mim faz muito bem. Mas eu quero dizer que essa expectativa e esse fato de ser mulher, ele aumenta mais ainda a minha responsabilidade. A gente sabe que todos erram, podem errar, mas sobre nós mulheres, às vezes a cobrança tem um peso maior. Então a gente precisa estar mais organizadas.
JC - O PT retorna à prefeitura de Rio Grande após um mandato de Fábio Branco (MDB). O que observa que a fez perder em 2020 e o que a levou à vitória neste ano?
Darlene - O Alexandre (Lindenmeyer) administrou o município por dois mandatos. O Alexandre é o único prefeito na história de Rio Grande reeleito, e a gestão do Alexandre foi excelente, e eu passei por isso na campanha. Foram muitas tentativas de acusar a gestão do PT, da qual eu participei durante os 8 anos. Então, teve essa tentativa, mas a gente sabe que acertou muito, mas também tiveram falhas, e o povo é soberano para fazer as suas escolhas. Mas um dos fatores que foi bem preponderante naquele período de 2020 foi a pandemia. Aquele momento de pandemia, em que a gestão Alexandre tomou uma medida - que a gente entende até hoje que foi a melhor medida, a medida mais correta - que foi a do cuidado, a da proteção, a do cuidar cidade, e isso acabou sendo cobrado e sendo colocado de uma forma errônea naquele momento, que a gente estaria parando a cidade, que o PT não queria o desenvolvimento. E pode ver o número de pessoas que morreram naquele período e o número de pessoas que (morreram) depois, no ano seguinte, com a abertura do comércio.
JC - A partir da posse, em 1º de janeiro de 2025, quais as prioridades e principais desafios para a prefeitura?
Darlene - A gente tem urgências, que é a questão da medicação e dos contratos que estão vencendo, mas a gente tem prioridades. Além de dar conta dessas urgências, que é isso que vai ser feito na primeira semana, a gente tem uma prioridade, que eu falei durante toda a campanha, que é o cuidado com a educação. Foi uma queixa muito grande da comunidade a falta de professores e as crianças sem aula. Eu não fiz grandes promessas, mas essa promessa foi uma que eu fiz e que quero trabalhar muito para cumprir, que é professor em sala de aula - o ano letivo começar com professor em sala de aula, com merenda nas escolas para as crianças. E até hoje nós não recebemos ainda do Executivo qual o quadro atual de professores para a gente ter noção da dimensão do que isso vai ter, da quantidade de pessoas. E se o município não nos passar, a gente não consegue ter essa informação. Mas falando em prioridade, a educação vai ser uma, e a gente sabe que para começar o ano letivo em fevereiro com um professor na escola, nós já deveríamos estar trabalhando agora em dezembro, então janeiro vai ter que ter esse cuidado, esse levantamento. Além disso, a questão da zeladoria, da limpeza urbana, foi um problema e continua sendo um problema e a gente vai precisar cuidar disso, e eu dizia isso na campanha. Qual o problema que nos está estabelecido? Os vários contratos nesta área da limpeza urbana estão finalizando. São muitos contratos vencendo no dia 31 de dezembro, inclusive do transporte coletivo. A gente conseguiu ter acesso, porque entramos com pedido de renovação, porque são não são licitações, são todos contratos precários, com prazo limitado.
JC - E pretende mudar esta política de contratos precários e abrir licitações?
Darlene - A licitação do transporte coletivo está em andamento. É uma questão que já está judicializada, então o atual prefeito tem a obrigação de fazer até o final do ano, de colocar a licitação no ar. Mas a gente vai ter que dar a continuidade.
JC - O Porto de Rio Grande é o principal motor econômico do município. Como potencializar ainda mais isso?
Darlene - A gente costuma dizer que o porto é, historicamente, a mola de desenvolvimento de Rio Grande e de tudo o que tem no entorno. O que a gente precisa, e nós fizemos já? Foram lideranças de Rio Grande conversar direto com o ministro dos Portos (Silvio Costa Filho) neste sentido de buscar o que é possível fazer para melhorar a competitividade do nosso porto, porque melhorando a competitividade o entorno cresce, e há a atração de outras empresas, porque a gente entende que Rio Grande não pode ficar dependendo de uma única fonte. A gente já passou por várias crises na história da cidade justamente por isso, por apostar em uma única coisa, então a gente precisa diversificar. Então, o que combinamos com o ministro nesta reunião? Estavam presentes vereadores, deputados da região, lideranças do porto, lideranças da comunidade, empresários, e combinamos de apresentar ao Ministério um levantamento do que é importante e prioritário de infraestrutura que o governo possa contribuir. E a primeira que a gente tem levado é a questão da construção do lote 4 da BR 392. O que é o lote 4? Quando foi feita a ligação de Rio Grande e Pelotas na BR 392, ela vai até o Porto por dentro, e essa parte não foi concluída, esse lote que são 9,5 km em uma área extremamente congestionada, onde está uma série de empresas que são da área portuária e que se vinculam à área do distrito industrial. Para que possa se desenvolver, ela precisa, no mínimo, ter estrada, tem que ter o fluxo. Então a nossa briga tem sido desde a campanha a conclusão desse lote 4, e a gente quer que isso entre no próximo PAC, para que o governo possa construir. Já existe um projeto que precisa ser revisado, porque ele é mais antigo, ainda é da época da presidenta Dilma. Mas depois da saída dela isso ficou parado, e a gente precisa retomar para construir ali um espaço que vai atrair novos empreendimentos, porque a gente tem um distrito industrial muito grande, com muito espaço ainda para atrair empresas.
JC - Rio Grande passou por instabilidades econômicas com o fim do polo naval, e há expectativas de que ele seja retomado. Como está este processo?
Darlene - A gente está no aguardo, ainda não fechou, não bateram o martelo na licitação, mas dois estaleiros apresentaram propostas. Foi aceito, só estão agora negociando os valores, fechando a questão econômica, que o valor está um pouco acima do que eles esperam. Tem espaço para crescer muito, e eu acredito muito no desenvolvimento da indústria naval ainda em Rio Grande. Por que que eu digo sempre isso? Porque ela precisa se desenvolver no País. E aí o governo Lula retomou a questão da indústria naval no País e a gente pode ver isso acontecendo. E às vezes as pessoas nos cobram: "mas vai para todos os lados e não vai para Rio Grande?". Não depende só do governo, depende também das empresas se colocarem nos leilões, apresentarem propostas. Mas o que eu digo é que a gente tem que ter a calma e a paciência, porque se tá acontecendo no País, a gente tem que ter a consciência que temos em Rio Grande um dos maiores estaleiros da América Latina, com condições de desenvolver muita coisa ali. Do outro lado, em São José do Norte, tem mais um, tem mais área reservada, área portuária reservada para estaleiros. Então Rio Grande tem a condição física disso e tem a mão de obra já.
JC - Há a previsão de execução das obras para construção de um porto no Arroio do Sal. Como seria o impacto econômico para Rio Grande?
Darlene - Se acontecer, certamente vai impactar. Por isso essa nossa preocupação, por isso a reunião com o ministro, para que a gente melhore, porque se acontecer vai demorar. O que aconteceu agora com Arroio do Sal, e o ministro explicou, foi que o governo federal disse que é possível construir. Ele precisava dizer isso para dar início ao processo de licença ambiental. Agora imaginem naquela área ali, que é uma área turística, uma área de balneário, uma área de veraneio, que não tem infraestrutura - e daí a nossa briga pela infraestrutura -, o quanto isso vai demorar num licenciamento. E será que será licenciado? Mas eu não quero nem discutir isso, se vai acontecer o (o porto do) Arroio do Sal ou se não vai acontecer. O que me preocupa agora é cuidar do nosso porto, é melhorar a qualidade e a competitividade do Porto do Rio Grande, que é o porto do estado do Rio Grande do Sul.
JC - Na questão ambiental, Rio Grande foi afetado pelas cheias de maio e está cercado por águas. Como a prefeitura pode trabalhar para evitar catástrofes climáticas?
Darlene - A gente tem a clareza de que começaram (os eventos climáticos extremos), e não é de agora que isso começou, mas que vai continuar e serão mais frequentes. E a nossa cidade é extremamente fragilizada neste sentido, porque é cercada de águas. Então, quando eu digo que Rio Grande foi atingida, não foi como Canoas, por exemplo, como Eldorado, mas hoje Rio Grande ainda continua sofrendo, porque toda a água que passou pelo Estado sai em Rio Grande. Então, todo o lixo passa por onde? Pelos nossos canais. Os valores que o Porto de Rio Grande está gastando para dragagem tiveram que ser renovados tudo de novo. Então Rio Grande sofre muito e, além disso, essa fragilidade do nosso ambiente. Rio Grande é uma cidade que cresceu desordenadamente, então a gente tem muita moradia irregular no entorno da Lagoa. Nós precisamos proteger essas pessoas, proteger essas áreas. Tive uma reunião com a secretária (federal da Casa Civil) Miriam Belchior, em que a gente apresentou uma proposta de projeto de contenção para o município. Só que a gente entende também que Rio Grande, diferente de outros municípios, é toda cercada. Então nós precisamos pensar em tudo isso. É um projeto muito audacioso, muito caro, mas isso não vai nos impedir de pensar a proteção.
JC - Durante a campanha, afirmou que sua gestão teria um enfoque na educação. Quais as prioridades nesta área?
Darlene - Tem várias coisas desenhadas e escritas, inclusive no programa de governo, mas o que eu tenho dito que nesse primeiro ano é o básico, fundamental. Porque o direito da criança aprender, ele é muito importante, ele é necessário. E a gente trabalha em escolas de periferia com crianças que a única saída é a escola. A única possibilidade dessa criança crescer e se desenvolver melhor é frequentando a escola, estando na escola. Então, a prioridade é dar direito a aprender. O que é dar direito a aprender? É botar professor em sala de aula, porque esse foi o grande problema. É botar monitor para atender as crianças que precisam da atenção, as crianças da educação especial. Não adianta fazer uma inclusão sem dar condições. Acaba excluindo mais ainda essa criança, e essa foi uma queixa que eu ouvi durante todo o processo da campanha. O Halley já ouvia e eu continuei ouvindo essa falta de atenção às crianças com deficiência, que estão incluídas, porque para estar incluído tem que participar do processo de aprendizagem. Então, essas três coisas são fundamentais e prioritárias para este primeiro ano. Assim como revisar o projeto político pedagógico das escolas da educação do nosso município, qualificar a alfabetização, que hoje é uma dificuldade e não é à toa.
 

Perfil

Darlene Torrada Pereira (PT) tem 62 anos, é assistente social, e foi servidora da Universidade Federal de Rio Grande (Furg) e foi chefe de Gabinete do prefeito do ex-prefeito de Rio Grande Alexandre Lindenmeyer (PT), quando liderou o Gabinete de Programas e Projetos Especiais. Trabalhou na FURG por 28 anos, foi pró-reitora de Extensão e também de Assuntos Comunitários e Estudantis. Casada com o Alberto há 38 anos, é mãe da Daniela e do Eduardo e tia/mãe da Lara e do Vinicius. Concorreu à prefeitura de Rio Grande em 2020, quando foi derrotada por Fábio Branco (MDB), e foi eleita ao Executivo do município em 2024, computando 49,13% dos votos e será a primeira mulher a governar a cidade na história.

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