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Publicada em 24 de Dezembro de 2024 às 09:01

Referências do Trabalhismo lamentam morte de Alceu Collares

Corpo de Alceu Collares será velado no Palácio Piratini, aberto ao público a partir das 11h

Corpo de Alceu Collares será velado no Palácio Piratini, aberto ao público a partir das 11h

CLAITON DORNELLES /JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
A morte do ex-governador Alceu Collares, na madrugada desta terça-feira (24) lançou um tom pesado nas vozes de tradicionais nomes do PDT gaúcho. Exaltando sua trajetória de luta e conquistas, diversos representantes do partido lamentaram a perda e a referência.
A morte do ex-governador Alceu Collares, na madrugada desta terça-feira (24) lançou um tom pesado nas vozes de tradicionais nomes do PDT gaúcho. Exaltando sua trajetória de luta e conquistas, diversos representantes do partido lamentaram a perda e a referência.
Conforme o presidente estadual do PDT, Romildo Bolzan Jr., Collares era o “último exemplar da tradição trabalhista do partido”. Embora já não tivesse participação ativa e rotineira na atividade político-partidária, o “Negrão”, como gostava de referir a si mesmo, ainda podia ser consultado diante de situações mais delicadas.
“Apesar de sua ausência física, ele deixa um legado de comportamento, um exemplo de homem vocacionado para a vida pública. Os quadros políticos – e a política atual – não são o Collares da origem, que buscou, desbravou e teve os caminhos abertos por conta própria. Ele era todo o pacote. Um homem negro, vindo do interior, sem nada, e construindo a história que teve”, comentou Bolzan Jr.
No Facebook, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, também falou sobre o político gaúcho. "É com o coração apertado que nos despedimos de Alceu Collares, um amigo querido e parceiro de tantas batalhas no PDT. Ele foi um exemplo de coragem e dedicação à justiça social, e tive o privilégio de viver ao lado dele momentos marcantes na luta por um Brasil mais justo. Sua ausência será profundamente sentida, mas o legado que ele deixa continuará nos inspirando. Meus sinceros sentimentos à família e a todos que compartilham essa grande perda comigo".
Ex-secretário de comunicação de Alceu Collares no governo do Estado (1991-1994), o jornalista Carlos Bastos o comparou a Leonel Brizola, morto em 2004, e Darci Ribeiro, dois dos maiores líderes do partido no Brasil. Destacou a caminhada desde Bagé, a aprovação no vestibular para o curso de Direito e a relação com os Parlamentos desde 1964, quando foi eleito vereador, ainda pelo PTB.
Segundo ele, Collares realizou grandes obras em suas gestões à frente da Capital e do Palácio Piratini, tendo construído mais de 100 escolas de tempo integral.
Olhando para o momento atual, está faltando reposição à altura na política e no partido. Temos de lutar bravamente e construir uma lista de nomes fortes de candidatos para ocupar postos eletivos no Estado e no Congresso Nacional. Nos resta manter a bandeira do trabalhismo, a herança de Jango, Brizola e, agora, do Collares”.
Ligado ao PDT desde a década de 1980, na Juventude Socialista, o ex-deputado federal Carlos Eduardo Vieira da Cunha conhecia bem Alceu Collares. Eles trabalharam juntos em duas oportunidades. Vieira foi diretor-geral do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) quando o bageense foi prefeito de Porto Alegre e presidiu a CEEE no mandato como governador.
Segundo ele, a política gaúcha e brasileira perde um grande líder. "O Dr. Collares ultrapassou as divisas e fronteiras do Rio Grande do Sul. Alcançou projeção nacional desde cedo. Foi um deputado federal com voz muito atuante em Brasília. Saiu dos confins da pobreza, venceu o preconceito e chegou a governador do Estado. Era um animal político".
Vieira descreve Alceu Collares como "uma fortaleza". Destacou a firmeza das convicções e resgatou uma frase que o líder morto costumava repetir. "Só convence quem está convencido".
Procurador de Justiça aposentado, Vieira aponta um dos ingredientes da receita de sucesso de Collares como administrador público: a alegria ao governar. "Nas maiores crises, ele enfrentava com humor e alegria. E isso contaminava o ambiente e todos à sua volta. Trazia uma leveza a uma tarefa pesada, que é governar".
Segundo ele, o PDT teve seu auge nas décadas de 1980 e 1990, com Collares no governo do RS e Brizola no Rio de Janeiro. "Vinte anos depois da morte do Brizola, perdemos o Collares. É uma geração que sai, abrindo espaço para outra. É um ciclo natural de renovação".
Vieira avalia que o campo político em que está o PDT enfrenta momento difícil, com o avanço da direita e o encolhimento das forças progressistas. Mas aposta que a situação é "conjuntural" e que o trabalhismo  irá voltar mais forte, em um futuro próximo.
"Pela ideologia da igualdade. E a educação é uma bandeira que não morre", concluiu.
O ex-deputado federal Airton Dipp, que foi secretário de Estado de Minas e Energia no governo de Alceu Collares em 1993, e colega na Câmara Federal, classificou o ex-governador morto como a figura mais importante depois de Brizola na refundação do trabalhismo no Brasil através do PDT. E salientou que sua trajetória política foi marcada pela defesa dos trabalhadores e do trabalhismo.
"Com muita convicção, com posições fortes, porque eram um político bastante extrovertido, um político atuante e que gostava de uma discussão política. Tanto é que as suas campanhas políticas a cargos majoritários sempre foram defendidas com muita convicção e, muitas vezes, até com muita polêmica".
O Vereador Pedro Ruas (PSOL) que labutou na vida política e como amigo pessoal do ex-governador Alceu Collares, manifestou seu sentimento através de nota. No texto, enviado por sua assessoria de comunicação, afirma que a morte é uma grande perda, mas seu exemplo de luta permanece.
“A morte do governador Collares representa um duro golpe para todos os que militam contra o racismo, pois ele foi o grande símbolo de enfrentamento desse preconceito perante a sociedade. Vereador, deputado federal mais votado, prefeito da capital e governador do Rio Grande do Sul, Collares enfrentou o preconceito, muitas vezes de forma velada ou explicita, do racismo estrutural que sempre existiu na sociedade brasileira e, particularmente, no Rio Grande do Sul", diz a nota, que segue:
"Tive a honra de militar por muitos anos, ao lado de Collares, como amigo pessoal, e compartilhei com ele a defesa dos ideais do brizolismo, o que torna esse momento triste e difícil para mim. Sei, contudo, que seu exemplo de coragem e capacidade de luta vai permanecer e servir de guia para muitas pessoas que enfrentam preconceitos ainda existentes ou que sonham em alçar voos capazes de criar condições de melhorias à sociedade em geral”.

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