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Publicada em 03 de Novembro de 2024 às 09:00

Adiló Didomenico avalia que novo aeroporto é estratégico para a Serra Gaúcha

Prefeito reeleito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico (PSDB) avalia concessão ou PPP do parque da Festa da Uva

Prefeito reeleito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico (PSDB) avalia concessão ou PPP do parque da Festa da Uva

Sérgio Gonzalez/Especial/JC
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Bolívar Cavalar
Bolívar Cavalar Repórter
Prefeito reeleito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico (PSDB) quer dar sequência aos projetos iniciados na atual gestão e avançar com as propostas afirmadas ao longo da campanha eleitoral. Entre os destaques, estão um projeto de concessão ou parceria público-privada (PPP) do parque da Festa da Uva e as tratativas junto ao governo federal para iniciar a construção de um novo aeroporto no município, que, na avaliação do prefeito, é estratégico para o desenvolvimento econômico da Serra gaúcha.
Prefeito reeleito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico (PSDB) quer dar sequência aos projetos iniciados na atual gestão e avançar com as propostas afirmadas ao longo da campanha eleitoral. Entre os destaques, estão um projeto de concessão ou parceria público-privada (PPP) do parque da Festa da Uva e as tratativas junto ao governo federal para iniciar a construção de um novo aeroporto no município, que, na avaliação do prefeito, é estratégico para o desenvolvimento econômico da Serra gaúcha.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Adiló conta sobre o andamento dos projetos e avalia a atual situação política do PSDB, que vem perdendo representatividade nos últimos anos. O prefeito também fala de sua entrada na prefeitura de Caxias do Sul, que ocorreu após imbróglios envolvendo o chefe do Executivo municipal anterior, Daniel Guerra (REP), que sofreu um processo de impeachment.
Adiló Didomenico ainda comenta sobre como o poder público pode ajudar a impulsionar as feiras e indústrias de Caxias do Sul, que tradicionalmente são relevantes para a economia da segunda cidade mais populosa do Rio Grande do Sul.
Jornal do Comércio - Como avalia a gestão 2021-2024?
Adiló Didomenico - Assumimos o município talvez no pior momento que um prefeito pudesse assumir, em meio à pandemia, com um orçamento deficitário em R$ 230 milhões, com uma ação de indenização de uma área de quase 40 anos estourando - o pessoal já ameaçando bloquear as contas na segunda semana. O Fundo de Aposentaria dos Servidores, com um déficit de R$ 6,6 bilhões, consumiu R$ 780 milhões do (caixa)livre nos três primeiros anos. Aí tivemos dois anos de estiagem severa, que quase todo o Rio Grande do Sul passou, tendo que levar água para os agricultores. Depois disso, nós já fizemos 172 quilômetros de rede para levar água para o interior, coisa que nunca tinha sido feita um quilômetro. E aí, depois, convivemos com as quatro maiores enchentes da história: setembro, novembro, janeiro e a de maio, que foi avassaladora. Apesar de tudo isso, a gente conseguiu organizar as finanças do município e resolver o problema da Previdência dos funcionários, uma tarefa muito difícil, um desgaste político enorme. Imagina enfrentar isso, que eles tinham derrubado a obrigação de contribuir até o teto da Previdência e nós retomamos isso, com a base de um projeto de lei aprovado pela Câmara. Com tudo isso, conseguimos fazer muitas entregas, claro que nem perto daquilo que a gente gostaria de fazer, mas temos muitos projetos em andamento.
JC - Para próxima gestão, o que acredita que pode ser feito?
Adiló - Na próxima já está no nosso plano de governo a construção de uma nova UPA, temos duas, e vamos construir uma na zona sul para desafogar a UPA central. Já estamos em processo de licitação da telemedicina, que é uma necessidade até para tirar as filas dos postinhos e das próprias UPAs, e temos o Agenda UBS, que é a marcação de consulta por telefone que a gente começou, implantou em 14 - nós temos 48 UBS -, e a meta para esse próximo ano é levar para todas elas. Estamos também apoiando e trabalhando junto com a prefeitura de Vacaria para conquistar o terminal ferroviário em Vacaria, que para Caxias é muito importante porque teremos a vinda do aço - Caxias é o maior consumidor de aço do RS. Ele viria por linha féria até Vacaria, que dá 120 quilômetros. Hoje vem por via rodoviária, e custa muito caro. Então estamos apoiando, também vamos apoiar e trabalhar politicamente a conquista do porto de Arroio do Sal, que já foi assinada a ordem de início, e o aeroporto da Serra Gaúcha de Vila Oliva, que é o objetivo de no ano que vem a gente estar já, se Deus quiser, em obras.
JC - Sobre a questão aeroportuária, por que a decisão de construir um novo em vez de investir no Hugo Cantergiani?
Adiló - A Secretaria da Aviação Civil fez um estudo e não recomendou a ampliação do Hugo Cantergiani pela sua posição, pela incidência de neblina, mas acima de tudo pela proximidade dos prédios. Ao longo dos anos houve um descuido, e hoje ele não tem condições de alargamento de cone de aproximação, que é o grande problema para a aviação de maior porte. O novo local foi escolhido pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) em 2003 pela ausência total de neblina diurna, em uma área totalmente favorável, e nós adquirimos 453 hectares. Acredito que é uma das maiores áreas de destinação de aeroporto aqui da Região Sul. Com esses 453 hectares, temos condições de fazer um aeroporto de carga, cujo projeto é o que está pronto, e já está na Casa Civil. O ministro anunciou a liberação de recursos, o que depende agora de alguns detalhes de cronograma financeiro, físico, e também de a gente superar ali alguma questão ambiental que ainda está pendente. Mas a gente tem uma expectativa muito favorável, que, no máximo até janeiro, vá para a licitação de fazer a parte de infraestrutura. A parte de benfeitorias, que é a parte dos imóveis, esse é um projeto que está sendo finalizado agora, que está no seu prazo tranquilamente, porque enquanto você vai preparando a infraestrutura, você complementa o projeto dos prédios.
JC - É provável que a conclusão das obras ocorra após o seu mandato, que se estende até 2028. Mesmo assim, que benefícios acredita que este aeroporto pode trazer para Caxias e região?
Adiló - O aeroporto vai trazer um desenvolvimento muito grande para a Serra gaúcha, porque hoje mais de 60% dos passageiros que desembarcam no Salgado Filho têm o destino da Serra. Mas, para nós, além da questão do passageiro, o aeroporto da Serra gaúcha nos interessa muito para o transporte de carga. Mandamos hortifrutigranjeiros para 18 estados brasileiros, até para o Amazonas. O custo e a qualidade do produto que chega lá não são os mesmos se pudermos colocar no avião, e também para receber carga. Caxias hoje recebe carga rodoviária ou pelo porto de Rio Grande. É muito longe, custa muito caro. Para Caxias o terminal ferroviário de Vacaria é importante, mas o aeroporto é estratégico, é fundamental.
JC - Sua gestão apresentou uma proposta de PPP do parque da Festa da Uva. Como está o andamento deste projeto?
Adiló - No parque da Festa da Uva talvez a gente faça uma concessão. Mas é possível que seja uma PPP, talvez, mas acredito que ele se adéqua muito mais a uma concessão. É um parque maravilhoso, são 37 hectares no coração da cidade, e o que tem de melhor esse parque? Ele tem oito acessos. Isso é uma raridade para um parque. Ou seja, tem oito entradas ou saídas, tem uma boa área de estacionamento, mas ele precisa investimentos pesados para tornar ele muito mais rentável e também que ele seja o motor do turismo. Para isso precisamos ou a parceria ou a concessão, porque o poder público hoje não tem os recursos para fazer investimento. E outra: o nosso poder público, para esse tipo de função e investimento, o setor público não é o mais indicado. A iniciativa privada faz melhor que nós. A gente vai reservar algumas datas de interesse do município, como Festa da Uva, Festa do Agricultor, que a gente já começou, nos anos impar, é Festa do Agricultor, e, nos anos pares, é Festa da Uva.
JC - As feiras de Caxias têm grande relevância econômica. O que a prefeitura tem feito para potencializar estes eventos?
Adiló - Caxias tem hoje como segunda ferramenta que mais traz o público a área esportiva, por incrível que pareça. Incluindo os dois clubes de futebol, o Juventude e o Caxias, e o Caxias Basquete, mas também maratona, meia maratona, canoagem etc. Por isso, estamos investindo no parque automotivo. Agora, as feiras hoje ainda têm um peso maior. 
JC - E como impulsionar mais?
Adiló - Precisamos espaços com maior conforto, porque uma das reclamações de feiras é que os nossos pavilhões não têm uma climatização, eles sofrem um pouco com problemas ainda de estrutura, de concepção, porque ele é um pavilhão aberto, então se gasta muito para fazer o isolamento. Caxias é sabido que tem um inverno muito rigoroso, e a gente se ressente de não poder fazer eventos no período de inverno, porque os nossos pavilhões não têm estrutura adequada.
JC - Resolvendo essa questão da climatização, Caxias poderia ter novos eventos no inverno?
Adiló - Com certeza, que é o que a Fenavinho (em Bento Gonçalves) fez. O nosso inverno seria muito propício pra trazer eventos gastronômicos etc. E aí tem um pavilhão que não tem uma boa estrutura.
JC - Caxias tem a marca de ser uma cidade industrializada. Como manter e incentivar essa tradição?
Adiló - Somos o segundo polo metalmecânico e pertencemos a uma região onde, num raio de 100 quilômetros, tem a maior diversidade industrial da América Latina. A nossa região de Caxias, englobando os municípios vizinhos, é da maior diversidade industrial. E como município, como é que a gente tem tratado isso para incentivar que não cesse o crescimento? Primeiro, com curso de capacitação de mão de obra, que é uma demanda constante dessas empresas. Segundo, baixamos o imposto para tudo que diz respeito à inovação e à tecnologia, para incentivar justamente a retenção de novos talentos em Caxias, e isso vem dando bom resultado. Então, reter novos talentos, dar curso de capacitação de acordo com a demanda dos sindicatos patronais, desburocratizando, tornando a máquina pública o mais leve possível e o mais ágil possível, dando a resposta para esses empresários - seja na área de licenciamento, seja na área de liberação de projetos. Nós alteramos o nosso código de obras recentemente para facilitar a vida de quem quer empreender em Caxias, aonde o nosso fiscal não entra mais da porta para dentro. A porta para dentro é uma relação profissional: técnico e seu cliente. Então isso já começa a trazer de volta a confiança dos investidores, porque é muito importante que se diga que se tem algo que não aceita ser maltratado em lugar nenhum do mundo é o capital. E pegamos 59 leis esparsas, confusas, uma sobreposta à outra, porque eram leis muito antigas, uma centena de decretos, revogamos todos os decretos e as 59 leis, e, em parceria com a Câmara de Vereadores, a gente escreveu uma única lei, simples, clara, objetiva, dando segurança jurídica para quem quer empreender em Caxias. Então esse é um gesto que hoje reputo muito importante para quem quer se instalar em Caxias.
JC - Como prefeito reeleito, se consolida como um dos principais nomes do PSDB ao lado do governador Eduardo Leite. Pretende concorrer a outros cargos?
Adiló - Eu vou cumprir esse mandato, até porque eu tenho compromisso com a população, mas veja bem: eu ajudei a fundar o PFL em 1984, e em 1986 saí do PFL, porque houve o ingresso de todo aquele grupo do ex-governador Jair Soares, do PDS e tal, e em 1988 eu ajudei a refundar o PTB e fiquei até 2020 no PTB. Foram 32 anos no PTB, fui presidente três vezes, me elegi vereador duas vezes pelo PTB. Só saí do PTB porque o presidente da época, Roberto Jefferson, não permitiu que eu fizesse coligação com a Paula Iores, que era do PSDB. E aí ficamos tentando que ele nos liberasse para concorrer a dobradinha que seria PTB e PSDB, o inverso do governo de Estado, já que o governo de Estado era PSDB e PTB, faríamos o contrário em Caxias. Chegou o momento da janela partidária, apertou, e aí tive o convite do Mateus Wesp, que era o presidente do PSDB, e fui para o PSDB e concorremos com chapa própria, foi muito arriscado. E hoje me sinto muito bem pela parceria que a gente tem com o governador Eduardo Leite, que é uma promessa, é um político jovem, eu dou certeza que é uma das grandes promessas da área política, e a gente tem tido uma parceria muito favorável com o governo do Estado, e Caxias precisa disso.
JC - Sobre o PSDB, o partido vem perdendo capital político ao longo da última década. Como avalia o futuro da legenda?
Adiló - Acho que muitas siglas no Brasil passarão por fusão ou reformulação, e é possível que com o PSDB também aconteça isso, porque acho que o partido errou estrategicamente na última eleição para presidente em não colocar candidato. Encolhemos muito o número de deputados por essa estratégia equivocada. O partido deveria ter colocado o candidato a presidente da República. Não importa se era o Eduardo Leite ou outro nome, enfim. E eu vejo, sim, hoje com muita preocupação esse declínio do PSDB, que tinha 32 deputados, na janela baixou para 20, e das urnas saiu com 13, então isso preocupa. Embora seja um partido que tem uma filosofia muito interessante, um partido de centro, um partido que tem valores muito importantes e lideranças aqui no RS muito boas. Estava aqui o prefeito de Santa Maria, (Jorge) Pozzobom, o prefeito eleito de Santa Maria, (Rodrigo) Decimo. Temos uma boa bancada liderada pelo deputado (Professor) Bonatto na Assembleia. Mas sim, hoje reconheço que o PSDB vai ter que se reinventar. Ou buscar a fusão, a federação com algum partido - e nós já temos ela com o Cidadania. Mas alguma coisa a mais tem que ser feita porque o partido precisa chegar mais forte na próxima eleição de presidente e governador.
 

Perfil

Adiló Didomenico tem 72 anos e é natural de Marau, Rio Grande do Sul. É graduado em Ciências Econômicas pela Universidade de Caxias do Sul e pós-graduado em Marketing pela Fundação Getulio Vargas. Foi comerciante por mais de 40 anos em Caxias do Sul. De 1989 a 1997, presidiu o Conselho Administrativo da Codeca e, entre 2005 e 2012, atuou como diretor-presidente da empresa, onde implantou a coleta mecanizada pioneira no País. Em 2012, elegeu-se para o primeiro mandato como vereador. No início de 2013, licenciou-se das atividades parlamentares para assumir como Secretário Municipal de Obras e Serviços. Em 2016, reelegeu-se à Câmara Municipal. Em 2018, concorreu a deputado estadual e ficou como suplente. Elegeu-se prefeito de Caxias do Sul em 2020 e, neste ano, foi reeleito, em segundo turno, com 51,38% os votos válidos.

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