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Publicada em 01 de Novembro de 2024 às 01:25

Bancada do PT terá três novos vereadores

Emergência climática pautará mandatos dos estreantes na bancada petista

Emergência climática pautará mandatos dos estreantes na bancada petista

/Foto colagem/Divulgação/JC
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Ana Carolina Stobbe
Ana Carolina Stobbe
O Partido dos Trabalhadores (PT) conseguiu ampliar sua bancada na Câmara Municipal de Porto Alegre e agora contará com cinco cadeiras. Além dos reeleitos Aldacir Oliboni e Jonas Reis, atuarão como vereadores a partir do próximo ano três novos vereadores: o médico Alexandre Bublitz, a professora Juliana de Souza e a travesti Natasha Ferreira. Confira a entrevista exclusiva dos três parlamentares estreantes ao Jornal do Comércio.
O Partido dos Trabalhadores (PT) conseguiu ampliar sua bancada na Câmara Municipal de Porto Alegre e agora contará com cinco cadeiras. Além dos reeleitos Aldacir Oliboni e Jonas Reis, atuarão como vereadores a partir do próximo ano três novos vereadores: o médico Alexandre Bublitz, a professora Juliana de Souza e a travesti Natasha Ferreira. Confira a entrevista exclusiva dos três parlamentares estreantes ao Jornal do Comércio.
Jornal do Comércio - O que essa vitória representa para você?
Alexandre Bublitz - Representa muito, na verdade. Essa é a primeira vez que eu estou concorrendo e, sendo bem sincero, não estava necessariamente pensando que fosse ser eleito agora. Tem sido um momento muito importante. Acho que a gente tem a possibilidade de trazer uma renovação na política, que vai além de ter nomes novos, mas, sim, uma nova forma de fazer política. Espero que a gente possa voltar a debater os assuntos realmente importantes para a nossa cidade.
Juliana de Souza - Mais do que para mim, ela representa para o nosso partido uma continuidade de um processo de transição geracional e de gênero das nossas representações políticas. Isso carrega não só um símbolo, mas uma nova forma de construção da luta política, de construção e de atuação junto com a nossa sociedade. Também traz uma visão nova dos instrumentos de atuação conjunta entre a representação institucional no parlamento e a luta popular na nossa cidade.
Natasha Ferreira - Eu acho que representa uma forma de revolução moderna. A gente fala muito na esquerda das revoluções e eu acho que quando a gente elege pessoas trans em um país tão violento, que mata pessoas como nós e que não nos dá direitos, é um fenômeno. E eu e a Atena (Roveda, eleita pelo PSOL) também conseguimos trabalhar a ideia do termo travesti, que é latinoamericano. Quando a gente fala em travestis de esquerda, isso tem um impacto maior. Mas eu acho que essa relação é de uma revolução moderna. E isso é complexo, elegemos uma bancada de esquerda forte, mas também quase foi reeleito em primeiro turno o prefeito que deixou alagar a cidade. Acredito que essa cidade está sem rumo e essa vitória representa também um norte e um novo começo. É uma nova história a ser escrita.
JC - Quais as principais pautas que pretende levar para a Câmara Municipal ao longo do mandato?
Bublitz - Eu sou médico pediatra. Então, a saúde sempre foi a luta e a pauta da minha vida, a defesa do SUS (Sistema Único de Saúde). E esse com certeza vai ser o foco do meu mandato. Mas não é só isso que a gente tem que resolver em Porto Alegre. Eu sou também professor universitário e sei que a educação básica na nossa cidade vai muito mal e é necessário que a gente faça uma mudança. Precisamos também olhar para o meio ambiente, que acredito que seja a pauta da nossa geração. A gente vem de um governo que tinha uma visão muito negacionista em relação ao clima e se a gente não começar a olhar para essa questão com um pouco mais de carinho e mais técnica, a gente pode padecer muito enquanto sociedade.
Juliana - Nós somos um mandato de toda a cidade e de muitas pautas. Mas temos quatro eixos estruturantes do nosso mandato. O primeiro é a construção de uma cidade resiliente em emergência climática, que esteja preparada para as mudanças climáticas. O segundo é uma cidade que tenha um planejamento urbano feminista, quero apresentar um projeto de lei para que sejam apresentados relatórios de impacto de gênero em novas construções em Porto Alegre. O terceiro é a promoção e a defesa dos direitos humanos por meio de políticas públicas transversais. O último deles, que é um marco também da minha atuação profissional, é construir um mandato de educação inclusiva. E dentro desses pilares entram outros temas, como a saúde e a cultura. Queremos também que seja um mandato combativo, fiscalizador e que traga as demandas dos grupos da nossa sociedade.
Natasha - Precisamos reassentar na esquerda os direitos humanos. A gente vê como os direitos humanos estão completamente corrompidos pela extrema direita. E direito humano é direito à educação, à creche, à habitação, ao transporte público de qualidade, à tarifa zero, à luz, à água, ao encanamento… E também é ter uma cidade onde quando chove as pessoas não tenham medo. Sabemos que a pauta da justiça climática é hoje fundamental. Vamos ter (a elaboração) do Plano Diretor no próximo ano, precisamos falar do clima, dessa relação nossa com a natureza, do desmatamento e diminuirmos esses impactos. Eu acho que esses são eixos fundamentais e neles podemos falar de LGBT's, de mulheres, de pessoas negras e de quem vive nas periferias. Existem várias cidades em Porto Alegre. Tem bairros com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Noruega e outros com o do Haiti. A gente precisa começar a falar sobre isso.
JC - Quem é a sua principal inspiração política?
Bublitz - O (ex-governador) Olívio Dutra (PT). É uma pessoa que eu gosto muito, que é daqui do Rio Grande do Sul, e com quem eu já me aconselhei várias vezes. Posso dizer com felicidade que temos uma boa relação. Ele é uma pessoa muito íntegra, muito correta e que mesmo estando anos dentro da política se manteve fiel aos seus ideais e sempre esteve trabalhando ao lado do povo. Se eu fizer 1/3 do que ele fez, eu já vou ficar muito feliz.
Juliana - A (ex) presidenta Dilma Rousseff (PT).
Natasha - Dilma Rousseff (PT). É uma mulher que superou a Ditadura Militar e seus horrores, instaurou a Comissão Nacional da Verdade e virou presidenta do País. Ou seja, todo mundo que adora os militares precisa bater continência para a presidenta Dilma. Foi vítima de um golpe misógino e que abriu a porta para a extrema direita com esses vícios nacionalistas e fascistas. Temos hoje pessoas reivindicando a Ditadura Militar, mas temos uma ex-presidenta golpeada e que é símbolo de resistência. Não é à toa que ela anda de cabeça erguida. E ela dizia quando caiu 'não esperem de mim o silêncio dos covardes'. E eu estou aqui para seguir essa voz da Dilma Rousseff.
 

Quem é Alexandre Bublitz

Alexandre Bublitz (PT) tem como principal pauta a defesa do SUS

Alexandre Bublitz (PT) tem como principal pauta a defesa do SUS

Instagram/Reprodução/JC
Alexandre Bublitz, 37 anos, é médico formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), pediatra pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e mestre em saúde coletiva pela Ufrgs. Hoje, atua como professor da Unisinos e é concursado no HCPA. Durante a pandemia de Covid-19 foi coordenador da UPA Bom Jesus e trabalhou em diferentes bairros da Capital, como Cruzeiro e Lomba do Pinheiro. Na mesma época, foi diretor de saúde do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa). Participou de missão humanitária na Nigéria atendendo refugiados de guerra e fez parte da Missão Yanomami com a Força Nacional do SUS no norte do país. Em 2024, concorreu pela primeira vez a um cargo político.

Quem é Juliana de Souza

Juliana de Souza (PT) pretende focar em pautas de educação

Juliana de Souza (PT) pretende focar em pautas de educação

Instagram/Reprodução/JC
Juliana de Souza, 32 anos, é professora de educação especial da rede municipal de educação e servidora de Porto Alegre. Além disso, é mestra em educação pela Ufrgs, especialista em gestão de políticas públicas, bacharela em relações internacionais e pedagoga. Em 2023, assumiu a coordenação da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativo a convite da deputada estadual Laura Sito (PT). Foi diretora da União Nacional dos Estudantes (UNE) lutando por assistência estudantil, pelas cotas e pela democratização da universidade. Militante do PT desde os 16 anos, desempenhou ao longo de sua trajetória funções na direção partidária. Atualmente, integra a executiva estadual e o diretório municipal da sigla. Ela se considera uma militante feminista, antirracista, ecossocialista, dos direitos humanos e da educação inclusiva. Em 2024, concorreu em uma eleição pela primeira vez.

Quem é Natasha Ferreira

Natasha (PT) acredita ser necessário retomar a pauta dos direitos humanos

Natasha (PT) acredita ser necessário retomar a pauta dos direitos humanos

Campanha/Divulgação/JC
Natasha Ferreira, 36 anos, ingressou na vida política aos 13 anos por meio do movimento estudantil, na época, também começou a sua transição de gênero. Militante pelos direitos humanos e autodeclarada travesti, ela concorreu às eleições outras vezes por outros partidos do campo da esquerda. A primeira vez foi nas eleições gerais de 2018, quando disputou uma vaga na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul pelo PCdoB. Depois, tentou ser vereadora pelo PSOL, mas ficou de suplente, chegando a protocolar projetos de lei quando substituiu ao longo de uma semana o titular Roberto Robaina em 2021. Pelo mesmo partido, buscou uma cadeira como deputada federal em 2022. Agora, em 2024, foi eleita pela primeira vez, pelo PT.

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