Das 28.902 candidaturas registradas nas eleições municipais deste ano no Rio Grande do Sul, entre concorrentes a prefeito, vice e vereador, 66,1% preferiu não declarar sua orientação sexual à Justiça Eleitoral. O dado, um dos itens que traça o perfil sócio-econômico das candidaturas junto à Justiça Eleitoral, está sendo usado pela primeira vez nas eleições de 2024 e a marcação desse campo é opcional no registro das candidaturas
Dentre os 9.771 candidatos que informaram o dado, a grande maioria – 98%, equivalente a 9.576 candidaturas, se declarou como heterossexual; há 82 homens que se declararam gays, 0,84% do total; 45 mulheres lésbicas, 0,46%; além de 38 pessoas que se autodeclararam bissexuais, 0,39%.
No caso da identidade de gênero, houve maior adesão dos candidatos gaúchos: 15% não informaram, enquanto 84% se declararam como cisgênero e a minoria, 0,75%, declarou que é transgênero: apenas 75 dentre as quase 30 mil candidaturas do estado. A identidade de gênero é a maneira como uma pessoa se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer. Cisgênero é quando o individuo se identifica com o gênero em que nasceu e transgênero é a pessoa que não se identifica com o gênero em que lhe foi atribuído.
Segundo o diretor-executivo da ONG Somos, o advogado Caio Klein, que presidiu até abril deste ano o Conselho Estadual de Promoção dos Direitos LGBT, a diferença de declarações entre os dois dados não é surpreendente. “A identidade de gênero é uma característica bastante material. Não só nas eleições, mas no geral, as pessoas se sentem convocadas a informar sua identidade de gênero, ao passo que a orientação sexual não é algo que se perceba ‘de cara’. Em alguma medida, nem sempre as pessoas irão desejar que sua orientação sexual seja algo presente em sua luta”, analisa.
No caso específico da orientação sexual, dado que a maioria dos candidatos no RS omitiu, Klein crê em dois fatores. “As pessoas são chamadas a declarar sua orientação sexual apenas quanto elas não são heterossexuais. Como a heterossexualmente é normativa, esperada, a gente nunca diz que é hétero. Outra questão, e creio que seja o maior número dentre quem não declara, é porque acredita que isso tudo é uma bobagem, porque não enxerga a importância disso, ou que a declaração não agrega. Quem se declara como LGBT, o faz porque, na maioria das vezes, isso agrega algo à sua campanha, porque é um ponto de mudança na sociedade”, completa.
Segundo o ativista, ao incluir esses dados nas candidaturas, a Justiça Eleitoral segue uma tendência que já existe, acatando uma pressão crescente da sociedade civil, que prega a importância de coletar dados estatísticos da população LGBT+. “Quando um político quer investir dinheiro em políticas públicas, precisa saber quantas pessoas isso vai afetar, por exemplo”. Para Caio, é importante promover educação “para que as pessoas saibam preencher esses formulários, compreendam os conceitos e também para que se saiba que essas pessoas existem”. “Dentro da eleição, por menor que seja o número, hoje a gente sabe que há cerca de 70 pessoas trans concorrendo. Se a gente faz um histórico, isso é muito mais do que havia antes”, conclui.