A auxiliar de enfermagem Fabiana Sanguiné (PSTU) candidatou-se à prefeitura de Porto Alegre por sua trajetória pessoal, que define como "de muita luta", e por ver que as "necessidades da população mais pobre não foram atendidas" pelas gestões municipais. Nessa entrevista para o Jornal do Comércio, ela detalha suas motivações, avalia a catástrofe causada pelas enchentes na Capital e diz querer ser lembrada por governar junto aos conselhos populares.
Jornal do Comércio — Como avalia o problema das enchentes e o que acredita que deve ser feito?
Fabiana Sanguiné - Elas são reflexo de duas situações. Primeiro, o projeto de gestão que privilegia o desmonte das estruturas de serviço público do município em benefício da iniciativa privada. Por outro lado, tem a questão da emergência climática, que a partir daqui vai ser cada vez mais realidade e isso está relacionado com o modo de produção que a gente vive. A gente precisa enfrentar o problema que é o capitalismo e por isso que a gente apresenta uma saída socialista e revolucionária. Defendemos os conselhos populares para que as pessoas discutam a prioridade das suas necessidades, vejam qual caminho elas querem que a cidade tome e decidam 100% do orçamento público. Defendemos que se exproprie os mais de 100 mil imóveis vazios de Porto Alegre e destinar para aqueles que foram atingidos pelas enchentes, assim como aumentar a renda familiar máxima do Compra Assistida para R$ 10 mil. Propomos a criação de uma empresa pública e de um plano de obras públicas tocado por ela para a reconstruir toda a estrutura que foi perdida, ampliar a estrutura de proteção da cidade e reconstruir a casa das pessoas.
JC — Com os conselhos populares, como seria a relação com a Câmara Municipal?
Fabiana — A câmara de vereadores vai continuar exercendo o papel que ela exerce. O que tiver que ser decisão nossa vai ser junto com os conselhos populares. O que tiver que ser encaminhado para a Câmara vai ser. A gente entende que a população tem condições de decidir as prioridades. Governo de gabinete para nós não funciona, precisa estar na rua junto com as pessoas e com as pessoas decidindo o que fazer. A gente vai defender na Câmara o que os conselhos definirem, esse é o nosso papel.
JC — Por que quer ser prefeita de Porto Alegre?
Fabiana — Nasci e me criei na periferia, na Lomba do Pinheiro. Até hoje a rua onde eu morava não tem saneamento básico, pavimentação ou asfalto e ônibus na quadra. Eu comecei a trabalhar na enfermagem com 18 anos e sou mãe solo desde os 21 anos. Então minha realidade sempre foi de ter que se organizar para fazer muita luta, seja na periferia, seja pela minha categoria de trabalho. Vendo, inclusive, que passam governos e as necessidades da população mais pobre não são atendidas. Eu quero um governo que governe junto com os conselhos populares em que finalmente a classe trabalhadora vai poder decidir por 100% do orçamento, porque é a gente que sustenta essa cidade.
JC — E, caso eleita, que marca gostaria de deixar?
Fabiana — Quero ser conhecida como a prefeita que propôs que as pessoas pudessem definir os rumos da cidade. A gente não propõe governar nada sozinhos. Apresentamos uma saída socialista e revolucionária que rompa com essa barbárie e com o poder dos grandes bilionários. Nossas propostas não são eleitoreiras, não proponho resolver o problema do mundo, o que nós propomos é que a classe trabalhadora tome em suas mãos o rumo do seu futuro e da sua história. E é não só possível como é necessário.