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Publicada em 08 de Setembro de 2024 às 19:51

Juliana Brizola priorizará proteção contra cheias, educação e saúde em Porto Alegre

Juliana Brizola (PDT), candidata à prefeitura de Porto Alegre, quer zerar o déficit de vagas em creches e alcançar 50% de escolas com turno integral

Juliana Brizola (PDT), candidata à prefeitura de Porto Alegre, quer zerar o déficit de vagas em creches e alcançar 50% de escolas com turno integral

Fotos: THAYNÁ WEISSBACH/JC
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Lívia Araújo
Lívia Araújo Repórter
Em meio às ações de campanha e debates nos meios de comunicação, a pedetista Juliana Brizola vem dizendo que em Porto Alegre "não falta dinheiro, falta gestão". Apesar de pregar ações de fiscalização e transparência para evitar mau emprego dos recursos públicos, a ex-deputada estadual pretende priorizar três áreas no orçamento municipal. Além da proteção contra novas cheias, em parceria com as esferas estadual e federal, ela e o vice, Thiago Duarte (União Brasil), elegeram saúde e educação como prioritárias no orçamento municipal. "Vamos gestionar para que se tenha dinheiro para fazer isso tudo", promete.
Em meio às ações de campanha e debates nos meios de comunicação, a pedetista Juliana Brizola vem dizendo que em Porto Alegre "não falta dinheiro, falta gestão". Apesar de pregar ações de fiscalização e transparência para evitar mau emprego dos recursos públicos, a ex-deputada estadual pretende priorizar três áreas no orçamento municipal. Além da proteção contra novas cheias, em parceria com as esferas estadual e federal, ela e o vice, Thiago Duarte (União Brasil), elegeram saúde e educação como prioritárias no orçamento municipal. "Vamos gestionar para que se tenha dinheiro para fazer isso tudo", promete.
A ideia é proporcionar o principal plano educacional de Juliana, que é a expansão do ensino integral para 50% das matrículas da rede municipal. Ainda assim, já no primeiro ano a pedetista crê que "seja viável conseguir mais ou menos uns 15%".
Na saúde, o plano envolve a realização de um mutirão de cerca de seis meses para zerar as filas de consultas, cirurgias e exames, utilizando telemedicina entre médicos para agilizar o processo.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, a pedetista também resgata um plano que remonta à campanha de 2020, um projeto de obras públicas para fomentar o setor de construção civil e com a geração de empregos relacionados.
Jornal do Comércio - Qual seu plano para a Capital em relação à prevenção contra cheias e avisos para desastres?
Juliana Brizola - Em primeiro lugar, tem que fazer uma revisão completa desse sistema de proteção, que começa pelos diques, comportas, casas de bombas, mas não pode ser apenas uma revisão. Esse trabalho tem que ser contínuo. Nossa proposta é de instalar geradores nas casas de bomba. O próprio painel de controle precisa ser deslocado para cima para que, quando a água suba, também não molhe e continue funcionando. Na comunicação com a população, que ficou sem saber o que fazer, é muito importante que Porto Alegre desenvolva um sistema de monitoramento e alerta. Que a gente possa capacitar, inclusive, a população dentro da Defesa Civil, para que ela saiba o que fazer, com vários níveis de alerta. O governo do Estado já está trabalhando nesse sentido e nós podemos, inclusive, entrar nesse sistema mas criar, sobretudo nesses 46 bairros de Porto Alegre que sofrem mais imediatamente, um sistema de alerta que que possa conduzir a população de uma melhor forma em uma catástrofe. E realizar o trabalho básico da prefeitura. A gente caminhou pelo São Geraldo há poucos dias. Tinha chovido na véspera e água nos bueiros estava voltando. O Dmae fechou o caixa com R$ 400 milhões em 2023. Então eu não sei onde é que está indo o dinheiro, porque na verdade, a limpeza de bueiros e das galerias fluviais, que deveria ser básico, não está sendo feita.
JC - O que poderia ser feito com recursos da prefeitura, e o que precisaria ser realizado em parceria com os governos estadual e federal?
Juliana - A proteção da cidade vai ter que ser compartilhada. Isso é constitucional, mas também é pelo altíssimo valor (de investimentos). Aí a gente está falando da questão dos diques, das comportas, das próprias casas de bombas. O Dmae, por exemplo, na questão da limpeza dos bueiros, tem o dinheiro, talvez também para as comportas, alguns geradores. Mas todo esse sistema tem que ter uma parceria grande com o governo estadual e federal. E também Porto Alegre precisa apresentar bons projetos para que consiga trazer financiamentos internacionais. Porto Alegre é tida como uma cidade resiliente., o que nos capacita a ter esses projetos. E isso tudo, até agora, não foi feito. Porto Alegre tem um ótimo corpo técnico, na própria prefeitura e no governo do Estado. E pode também trabalhar junto às universidades para apresentar esse tipo de projeto.
JC - Porto Alegre é uma cidade que não universalizou o seu saneamento básico. Para tal, existe a possibilidade de conceder o Dmae?
Juliana - Não entendemos que seja necessária a privatização do Dmae. Temos de pensar sempre como o serviço chega para as pessoas. O que temos visto é que as privatizações vêm sendo mal feitas. Não quer dizer que as privatizações sejam ruins. Mas se o serviço público está bom, se existe dinheiro para investir e se a tarifa é justa, não vejo por que privatizar um serviço essencial. Em se tratando de água, energia, saneamento básico, por ser um serviço essencial, em muitas localidades apenas o Estado tem o interesse de entrar. A gente sabe que a privatização acaba mirando em primeiro lugar o lucro e não as pessoas, existem localidades aonde aquela empresa privada, não vai querer levar o saneamento, energia elétrica. Mas não é o caso do Dmae. O que eu vejo é uma má gestão, porque se ele fechou o caixa do ano passado com R$ 23 milhões e (a limpeza dos) bueiros, que é o serviço número um, não foi feito, é falta de gestão. Sem falar das denúncias de desvio de dinheiro.
JC - Pensa em recriar o DEP?
Juliana - Não pensamos em recriar a estrutura que tinha antes. Os técnicos do DEP, que são extremamente competentes, foram realocados, a maioria para dentro do Dmae. Queremos reorganizá-los, porque o que me interessa é a expertise desses técnicos. Claro, no primeiro dia como prefeita, quero fazer um diagnóstico desse corpo técnico para ver se a gente vai precisar fazer um concurso público para o Dmae. Mas, assim como há coleta de lixo diariamente, precisamos ter várias equipes todos os dias não só em relação aos bueiros e galerias pluviais, mas aos córregos. DEP e o Dmae andando em conjunto com o seu corpo técnico em toda a cidade.
JC - Seu plano fala de incluir representantes da Granpal no comitê de adaptação e resiliência climática criado pelo governo do Estado. Como funcionaria isso?
Juliana - Nossa proposta seria trazer a Granpal para este comitê, que debate todas essas questões de proteção. Não dá para tratar Porto Alegre isoladamente. O Guaíba é um estuário, recebe águas praticamente de todas as bacias. Temos que resolver a situação de Canoas, Eldorado e, claro, a proteção da cidade corresponder ao que já tem. A ideia é, no início, entrar com 17 municípios dentre os 30 membros da Granpal para colocar a Região Metropolitana nessa discussão como um todo.
JC - No âmbito da assistência social, como prover o serviço necessário para que as pessoas em situação de rua consigam sobreviver e alcançar dignidade?
Juliana - Não é digna a forma como a atual prefeitura vinha, já antes das enchentes, tratando essas pessoas que estão precisando de uma moradia. Acho que ficou comprovado isso ali na questão da Pousada Garoa. Locais que nem PPCI têm. Imagina, a prefeitura, alugando, pagando com dinheiro público um local que não tem PPCI, algo que ela também deveria É algo extremamente preocupante. Temos várias famílias que não vão poder voltar para suas casas. O problema das ilhas é extremamente crônico, mesmo sem a enchente, as poucas águas que vêm, já inundam. Tem pessoas que não querem mais voltar para lá. Tem outras que não querem sair. É uma situação extremamente complexa. O histórico é de tirar essas pessoas daqui sem observar a renda delas, se há uma infraestrutura adequada na localidade onde vão colocá-las. Nas colônias de pescadores, como fazer com que essas pessoas possam ter o seu trabalho, sua renda? No caso dos abrigos, além de não serem suficientes, são completamente desqualificados, muitas vezes com falta de tratamento digno àquelas pessoas que estão à margem da sociedade. Nesse sentido, temos um grande projeto que vem conjuntamente para fomentar nossa economia, de obras públicas, chamando a construção civil, que gera renda e emprego, envolvendo creches, escolas de educação infantil e moradias, em parceria com o governo federal, porque dentro do PAC tem espaço para esse tipo de projeto. É um projeto a longo prazo, mas que quem se eleger agora vai ter que encarar.
JC - O que precisa ser feito em relação a abrigos e convênios?
Juliana Brizola - O ideal seria se tivéssemos mais abrigos públicos, mas temos que aumentar o número de vagas mesmo nos conveniados. Eu escuto que tem gente que não quer sair da rua. Será? Eu não sei, porque as pessoas que eu converso que são moradores de rua, estão ali, vão levando aquela situação que talvez eles não queiram, são algumas limitações impostas nos abrigos. A vida da pessoa às vezes está dentro de um carrinho, aquele animalzinho que ele carrega também. A longo prazo, temos de pensar em moradia digna. E fazer um grande levantamento dessas pessoas, quantas são, para que a gente possa ter abrigos para todos, mas pensando também nesse projeto habitacional que Porto Alegre deve há muito tempo.
JC - Nessa questão das obras, o que seria prioritário? A ideia é entregar até o fim do mandato?
Juliana - Isso, até 2028. Habitação, com projetos junto ao governo federal, as creches que estamos precisando, escolas de educação infantil e um grande centro para a mulher, não é só de acolhimento em situação de violência, mas também onde haja um centro de atendimento à mulher, com mamografia, ecografia e um atendimento mais especializado. Ainda não identificamos o local da cidade, mas gostaríamos muito que fosse um local central para ter mais facilidade de acesso.
JC - Isso se integra ao tema da saúde. O que está em pauta no seu plano?
Juliana - Porto Alegre vive um drama na questão de marcação de cirurgias, exames e consultas. Tem muita doença curável que está se tornando crônica e muita doença crônica que está levando à morte. Outra questão que a gente vê também é uma desqualificação dos postos de saúde. Geralmente têm apenas um clínico geral lá, mas falta pediatra, ginecologista. Nossa proposta é, em primeiro momento, fazer um grande mutirão ao longo de uns seis meses para zerar essa fila, de cirurgias, exames, consultas. Dr. Thiago fala muito na telemedicina, ela é de médico para médico especialista. Em muitos lugares isso já funciona e dá uma desafogada na emergência dos hospitais. A gente tem também a extensão do horário dos postos de saúde.
JC - No tema da educação, seu plano de governo tem mais de 40 itens. É possível colocar tudo em prática? O que será priorizado?
Juliana - A prioridade número 1 é terminar com déficit de 3 mil crianças fora da creche, que na verdade a gente acredita que esse é um déficit que pode até aumentar, porque nem tudo é notificado. É um direito constitucional garantido que Porto Alegre não enfrenta. Eu até vi o atual prefeito dizendo que vai zerar, mas não entendo por que que ele não fez isso até hoje. Precisamos qualificar as conveniadas. Outra questão é que temos hoje 20% dos alunos do ensino fundamental, nos anos finais, que não terminam. Queremos incentivar que eles permaneçam, então criaremos uma bolsa-escola para os anos finais do ensino fundamental, de R$ 150 para que a gente possa ter a universalização do ensino fundamental de verdade. Também não tem como valorizar a educação sem valorizar o professor. Hoje o professor inicial em Porto Alegre recebe R$ 2,2 mil por 20 horas semanais. Vamos aumentar para R$ 3 mil esse salário para dar uma dignidade maior ao professor e vamos oferecer oportunidades de aprendizagem, de uma contínua melhora, no aperfeiçoamento deles. E o aumento das vagas nas escolas de tempo integral para 50% das matrículas. Brizola, em um dado momento, destinou 43% do orçamento do Estado para construir e melhorar a educação. E isso hoje é comprovado, que o tempo que a criança passa dentro da escola, melhora a qualidade do ensino. Essa escola oferta para a criança, além do estudo normal, alimentação, cultura, esporte, dentista. É uma mudança a longo prazo, mas a gente precisa investir, porque o nosso Ideb caiu muito.
JC - No primeiro ano seria viável proporcionar quanto, nessa ampliação do ensino integral?
Juliana - Creio que seja viável conseguir mais ou menos uns 15% das matrículas.
JC - Levando em conta o tema do Plano Diretor, o que prevê para o planejamento urbano da Capital?
Juliana - Tem de haver uma transição desse plano diretor atual para um plano sustentável, que pense na questão do meio ambiente. As contrapartidas de um grande empreendimento normalmente não são na própria localidade e nem para o meio ambiente. O que a gente vê hoje é uma especulação desenfreada na cidade, muito asfalto, muito cimento. As pessoas não gostam do paralelepípedo, mas ele escoava água muito mais do que o asfalto. Precisamos de asfaltos mais permeáveis. Muitas cidades já desenvolveram o conceito de cidade-esponja e isso não é tão difícil. Jardins de chuva, com plantas que não só sugam a água, mas purificam, por exemplo.
JC - A senhora vem que não falta dinheiro na prefeitura. Mas que áreas seriam prioritárias no recebimento de recursos?
Juliana - Em primeiro lugar, é preciso transparência, fiscalização, e não deixar roubar. Segundo, Porto Alegre tem um orçamento de R$ 11 bilhões. Tem gente que prioriza a especulação imobiliária. Eu e Dr. Thiago entendemos que a cidade precisa enfrentar a questão da proteção da cidade, porque (a água) está batendo na casa das pessoas. Mas elegemos duas áreas nas quais temos bastante conhecimento. Ele, na área da saúde, e eu na área da educação. E vamos gestionar para que se tenha dinheiro para fazer tudo isso.

Assista trechos da entrevista:

 

Perfil

Neta do ex-governador Leonel Brizola, Juliana Brizola nasceu em Porto Alegre em 1975. Tem um irmão gêmeo, Leonel Brizola Neto, vereador no Rio de Janeiro pelo PSOL. Aos três anos de idade, sua família se mudou para o Uruguai, por conta do exílio imposto pela ditadura militar ao avô. Retornou ao Brasil somente em 1979, com a o início do processo de reabertura democrática. Em 1982, quando seu avô se elegeu governador do estado do Rio de Janeiro, mudou-se para a capital fluminense. Lá, graduou-se em Direito pela Universidade Santa Úrsula. Depois da conclusão do curso, retornou a Porto Alegre, onde fez especialização e mestrado em Ciências Criminais na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs). É filiada ao PDT, partido fundado pelo seu avô, desde os 18 anos e ajudou na campanha de diversos parentes e amigos da família. Em 2008, elegeu-se vereadora de Porto Alegre pela primeira vez. Em 2010, conquistou uma cadeira na Assembleia Legislativa. Reelegeu-se deputada estadual em 2014 e 2018. Em 2020, concorreu à prefeitura de Porto Alegre e ficou em 4º lugar, com 41.407 votos.

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