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Publicada em 06 de Agosto de 2024 às 11:08

Primeiro debate entre candidatos à prefeitura de Porto Alegre foca em enchente e troca de farpas

Principal tema discutido no primeiro debate das eleições municipais foi combate às cheias e enchentes

Principal tema discutido no primeiro debate das eleições municipais foi combate às cheias e enchentes

TÂNIA MEINERZ/JC
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Lívia Araújo
Lívia Araújo Repórter
O primeiro debate realizado entre os candidatos oficializados à prefeitura de Porto Alegre, veiculado na manhã desta terça-feira (6) na Rádio Gaúcha, foi marcado por tensões ocorridas principalmente nos primeiro e último blocos, dedicados ao embate direto entre dois candidatos posicionados frente a frente.
O primeiro debate realizado entre os candidatos oficializados à prefeitura de Porto Alegre, veiculado na manhã desta terça-feira (6) na Rádio Gaúcha, foi marcado por tensões ocorridas principalmente nos primeiro e último blocos, dedicados ao embate direto entre dois candidatos posicionados frente a frente.
Ataques mútuos aconteceram principalmente a partir do principal tema discutido no espaço: as propostas e iniciativas para combate às cheias na Capital, acometida pelas enchente do mês de maio e com inundação e danos em diversos de seus bairros. Além de ter permeado todo o primeiro bloco do programa, a questão acabou também sendo retomada principalmente pelos adversários do atual prefeito, Sebastião Melo (MDB), candidato à reeleição, em diferentes ocasiões.
Após as apresentações iniciais, o primeiro bloco começou com a questão das enchentes como pergunta única a todos os candidatos. Após a resposta, podiam escolher um oponente para debater a respeito.
A primeira a falar foi Juliana Brizola (PDT), que propôs “pensar a reconstrução de diques e comportas e ampliar e otimizar o sistema de bombeamento”, apontando que já pediu a técnicos da área propostas de reconstrução do sistema. Chamando Melo para o debate, Juliana acusou Melo de ter ignorado avisos de técnicos quanto à falibilidade do sistema de contenção e a ocorrência de chuvas excessivas. Em resposta, o prefeito alegou que o sistema, datado dos anos 1960, é antigo. “Desde lá já passaram 12 prefeitos. Tem responsabilidade também do governo federal, e ele fez alguma proteção contra cheia ao longo desses anos?”, justificou e acusou Juliana de trazer “narrativas ideológicas”. A seguir, a conversa se embolou e o tema acabou desviado para corrupção, com acusações mútuas relacionadas a denúncias em autarquias no governo atual e em anteriores.
Na sequência, Maria do Rosário (PT) disse que irá começar a agir já em uma possível transição de governo, com a busca de recursos federais e ação para “o básico”. “Já vou cuidar da limpeza de bueiros, vedar comportas”, disse, propondo também a reativação do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), extinto durante a gestão de Nelson Marchezan Júnior (PSDB, 2017-2020), bem como a consulta a técnicos da Ufrgs e CREA-RS para o projeto de reconstrução do sistema. Chamando Juliana para o debate, Rosário e a pedetista se uniram nos ataques a Melo, acusando o emedebista também de falta de transparência na gestão.
Na vez de Melo, o prefeito se referiu às duas oponentes como “esquerda radical (que) já se juntou para bater no prefeito”. “Nós vamos refazer diques e casas de bombas, porque o sistema é incompleto”, pontuou. O emedebista chamou o deputado estadual Felipe Camozzato (Novo), pontuando que “não só Porto Alegre, mas também a Região Metropolitana teve várias falhas na contenção”. Camozzato disse que “tende a concordar com Melo” na questão, e que há “múltipla responsabilidade” de falhas no sistema nas diferentes administrações municipais.
Por fim, na vez de Camozzato, o deputado pregou uma “revisão geral do sistema” de contenção de cheias, apontando que “as casas de bombas precisam ter suas cotas elevadas e que “poucos governos fizeram sua parte”, questionando “o que o DEP fez nesses anos além de ocupar as páginas policiais”? Ao chamar Rosário para debater, Camozzato afirmou que há um laudo de 2014 colocando a insuficiência do muro da Avenida Mauá. Rosário respondeu que Camozzato “queria derrubar o muro. O muro aguentou. O que a cidade não aguenta é discurso vazio e transferência de responsabilidade”.

 

Tema da cheia foi retomado no segundo bloco

O segundo bloco do debate teve o tradicional formato das réplicas e tréplicas, com os candidatos escolhendo com quem queriam debater. Optando por debater com Melo, Maria do Rosário manteve a questão da cheia em foco, dizendo que Melo transfere a responsabilidade pelos problemas, tendo acusado Marchezan por alagamentos e agora acusando os demais prefeitos. Melo se defendeu dizendo que “no primeiro pingo d’água estava cuidando das pessoas”. Ele também apontou que entre as primeiras obras a serem realizadas é a reconstrução do dique do Sarandi.
Em seguida, Melo também escolheu Rosário para continuar conversando, e perguntou à petista seus planos para a mobilidade urbana na Capital. “Vou olhar com lupa a privatização da Carris”, respondeu Rosário, que acusou o emedebista de “lesar o interesse público”. Ela prometeu fiscalizar a tabela horária dos ônibus, retomar o tempo de rodagem para 10 anos e a frequência dos ônibus para o nível pré-pandemia. Melo reclamou das acusações de Rosário, por sua vez acusando o governo federal de negar subsídio à tarifa. “O preço poderia ser de R$ 4,00”. Melo também apontou a integração do transporte na Região Metropolitana como “um desafio posto que ainda não aconteceu”.
Na vez de Juliana, a pedetista escolheu Camozzato para responder sobre educação, levando em conta o déficit de 3 mil vagas em creches. Tratando como “tema fundamental”, o candidato do Novo disse que pretende recorrer a parcerias privadas para ampliar vagas em convênios e na melhoria da estrutura já existente. O candidato também apontou a relação entre saneamento básico e educação, apontando estudos que mostram que a falta de saneamento provoca prejuízos a saúde das crianças em idade escolar e a seu aprendizado. A pedetista disse que criaria 3 mil vagas públicas imediatas em bairros como Rubem Berta e Restinga, e prometeu ampliar o ensino integral a 50% das escolas municipais até o fim de seu mandato.
Com apenas Juliana para responder, Camozzato lhe perguntou como pretende abordar a questão dos aplicativos de transporte. A candidata disse que pretende priorizar a questão do transporte público, dizendo que “para quem mora na Restinga, o Uber não serve e é muito caro”. O oponente considerou a importância da integração de transporte, defendendo que o “o aplicativo é o que resta para muitas pessoas”, que muitas vezes partilham carros de aplicativo e apontando projetos da bancada de vereadores do Novo para facilitações ao setor.

Terceiro e quarto blocos respondem a indagações de moradores e trazem temas ideológicos à tona


A terceira etapa do debate trouxe perguntas de moradores de Porto Alegre, coletadas em entrevistas, e de jornalistas do grupo. Ao responder sobre investimentos em saúde, Camozzato apontou importância da telemedicina e qualificação de logística de medicamentos especiais; falando sobre transporte público, Rosário disse que retomará o Orçamento Participativo para consultar a população sobre a necessidade de novas linhas; Juliana falou sobre a população no entorno da Arena do Grêmio, dizendo que a população não pode “ser jogada em lugar sem estrutura”; Melo falou que sua gestão promoveu avanços na educação, com a nomeação de 1,5 mil professores e a modernização de salas de aula, pontuando a necessidade de expansão da rede de ensino.
Respondendo a perguntas de jornalistas, Rosário falou sobre investimentos na área ambiental, buscando corforto climático, e, na prevenção a desastres climáticos, a criação do comitê de bacia do Rio Guaíba; falando novamente sobre educação, Camozzato prometeu ampliação de parcerias público-privadas para creches conveniadas; Juliana falou de empreendedorismo, prometendo crédito subsidiado a pequenos e micro empresários e ações de capacitação e diminuição de burocracia; sobre a população das ilhas, Melo disse que está cadastrando famílias para as casas oferecidas pelo governo federal e falou sobre a contratação de uma universidade holandesa para plano de reconstrução.
Antes das considerações finais, o quarto bloco do programa teve a retomada do modelo do primeiro bloco, com embate livre entre os candidatos, o que trouxe de volta momentos de tensão.
Ao chamar Maria do Rosário, Camozzato apostou em um tema ideológico: a eleição na Venezuela. Ele acusou o PT de defender o regime de Nicolás Maduro e perguntou se Rosário defendia o autocrata. A petista disse que defende a democracia “em qualquer circunstância” e que prefere “focar na cidade”, tratando de “problemas reais como o sistema de saúde”. O oponente seguiu acusando Rosário de “escapar” da pergunta e insistiu no tema até o fim do tempo disponível.
Ao discutir com Melo, Juliana Brizola trouxe novamente à tona a investigação de irregularidades na Smed, o que levou oprefeitoa pedir um direito de resposta, concedido pela produção um pouco mais tarde. Ali, o prefeito disse que ele é o primeiro a pedir investigações e a encaminhar para os órgãos competentes, pontuando que “quem fez besteira deve ser punido”.
Rosário e Juliana usaram seu debate para acusar Melo de incompetência na gestão municipal e sucateamento de serviços públicos.Por fim, Melo e Camozzato falaram sobre liberdade econômica, diminuição de burocracia e impostos para empreendedores e a população. Em uma última alfinetada em Rosário, Melo se referiu indiretamente a ela como “gente que defende estatização de lancheria”.

Nos bastidores, clima foi de cordialidade e reação de vices



Na chegada dos candidatos, vices e suas equipes, o clima foi de cordialidade. Maria do Rosário (PT) cumprimentou Felipe Camozzato (Novo), lembrando que ainda não tinha tido a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente.
Em uma sala separada, assessores e os candidatos a vice em suas respectivas salas acompanhavam as discussões, reagindo às perguntas e réplicas de seus adversários tanto em aprovação quanto contrariedade. Um dos mais inquietos era o vice de Juliana Brizola, o deputado estadual Thiago Duarte (União Brasil), que se levantou bruscamente da cadeira diante de algumas declarações de Melo, e também interagia com Raqueli Baumbach (Novo), vice de Camozzato.

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