Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 25 de Junho de 2024 às 15:51

Banco Central faz contraofensiva no Senado por PEC de autonomia financeira

Pela PEC, BC passaria de autarquia especial para empresa pública de natureza especial

Pela PEC, BC passaria de autarquia especial para empresa pública de natureza especial

Marcello Casal Jr/Agência Brasil/Divulgação/JC
Compartilhe:
Folhapress
Assessores e técnicos do Banco Central têm percorrido gabinetes no Senado para pedir apoio à PEC (proposta de emenda à Constituição) que amplia a autonomia da autoridade monetária.
Assessores e técnicos do Banco Central têm percorrido gabinetes no Senado para pedir apoio à PEC (proposta de emenda à Constituição) que amplia a autonomia da autoridade monetária.
A medida é defendida pelo presidente da instituição, Roberto Campos Neto, cujo mandato termina em dezembro.
A ofensiva pela aprovação da PEC ocorre em meio à mobilização de uma ala dos servidores contrária à mudança de autarquia para empresa pública e à resistência de senadores governistas. Apesar de ter autonomia assegurada em lei desde 2021, a autoridade monetária não tem poder sobre o próprio orçamento.
A partir da PEC, o Banco Central passaria de autarquia especial para empresa pública de natureza especial, o que daria maior autonomia financeira, como ocorre no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Um assessor afirma, de forma reservada, que o BC deu início à agenda de visitas no início do mês, após a divulgação do relatório, para garantir que as sugestões feitas por membros da instituição haviam sido incorporadas pelo relator, senador Plínio Valério (PSDB-AM).
Um resumo de argumentos a favor da PEC tem sido levado aos parlamentares. Entre outros pontos, o documento afirma que a proposta vai trazer "economia de gastos fiscais" e liberar R$ 5 bilhões para "outras prioridades do governo, em especial, na área social".
O texto também diz que a medida vai beneficiar a sociedade, o BC, os servidores, o governo e o próprio Congresso, que cumpriria a "missão de consolidar a autonomia" da instituição e continuaria com o "papel fiscalizatório".
"Esta é uma proposta que apresenta ganhos em diferentes esferas: a sociedade brasileira, com novas e melhores entregas e inovações que o BC vai ter condições de fazer; o próprio BC, que vai ter as condições necessárias para fazer o seu trabalho de forma mais eficiente", diz trecho do resumo.
As conversas têm sido conduzidas no Senado pelo chefe do departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, o chefe de gabinete da diretora de Relacionamento, Arthur Campos, e o chefe da assessoria parlamentar, Bruno Peres.
Rocha participou da audiência pública na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado na terça-feira (18), entre os convidados favoráveis à PEC.
Por causa do compromisso no Congresso, ele não compareceu à sessão inicial do Copom (Comitê de Política Monetária), durante a qual funcionários do BC fornecem subsídio técnico ao colegiado para a calibragem da taxa básica de juros, a Selic.
Em sua argumentação na CCJ, Rocha disse que a ampliação da autonomia ocorreria "com a devida governança e os devidos controles" e que isso ajudaria a concluir "um longo processo de evolução institucional".
O técnico também mencionou alguns impactos sobre as estatísticas fiscais do país, uma vez que a autoridade monetária deixaria de compor a conta do governo central, que compreende hoje o Tesouro Nacional e a Previdência Social, além do BC.
Destacou a exclusão do resultado primário do BC, que em 2023 correspondeu a um déficit nominal de R$ 465 milhões, o que tornaria a conta do governo central mais superavitária.
Ressaltou ainda o alinhamento do cálculo da dívida bruta ao padrão internacional. O conceito do FMI (Fundo Monetário Internacional) engloba toda a carteira livre, não apenas as operações compromissadas (venda de um título com o compromisso de recompra em um prazo determinado).
Essas informações constam no material de apoio usado pelo chefe do departamento de Estatísticas -colocado à disposição dos parlamentares na contraofensiva do BC.
A audiência foi convocada depois que senadores governistas levaram ao presidente da CCJ, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), a informação de que o relatório de Plínio seria derrotado se fosse colocado em votação.
Após a sessão de debates, o relator disse que estava "preocupado" com a mobilização. "É o servidor que me preocupa. Embora eles estejam protestando por protestar, já ficou claro que o movimento ali é político e eu não quero me envolver nisso", afirmou o senador a jornalistas.
"Acho que o relatório não é ruim, mas ele está aberto, sim. Agora, eu acho que os senadores do governo devem apresentar emendas para tumultuar. Agora é um movimento político. O governo deixou claro que vai empurrar com a barriga. Vai depender do Davi [Alcolumbre]."
Como mostrou a Folha de S.Paulo, um parecer feito pela liderança do governo no Senado afirma que a PEC é inconstitucional, cria insegurança jurídica para os servidores e coloca em xeque a fiscalização de instituições financeiras.
Entre outros pontos, a nota técnica afirma que a proposta é ambígua e gera "incerteza quanto ao regime jurídico" ao criar uma empresa pública com funções incompatíveis com a exploração de atividade econômica, como a emissão de moeda e a gestão de reservas internacionais.

Notícias relacionadas