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Publicada em 19 de Maio de 2024 às 14:15

Empresas do setor de construção farão casas para atingidos pelas enchentes, afirma presidente do Sinduscon-RS

Teitelbaum explica como deverá ser viabilizada a iniciativa e com qual parceria o setor espera contar do poder público

Teitelbaum explica como deverá ser viabilizada a iniciativa e com qual parceria o setor espera contar do poder público

TÂNIA MEINERZ/JC
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Bruna Suptitz
Bruna Suptitz
Atuando na recuperação das cidade e das moradias atingidas pelas enchentes que há três semanas impactam o Rio Grande do Sul, a exemplo do que fez no ano passado, o Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon-RS) fará casas permanentes para a população atingida que perdeu até mesmo a chance de voltar para algum lugar.
Atuando na recuperação das cidade e das moradias atingidas pelas enchentes que há três semanas impactam o Rio Grande do Sul, a exemplo do que fez no ano passado, o Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon-RS) fará casas permanentes para a população atingida que perdeu até mesmo a chance de voltar para algum lugar.
"Queremos em 90 dias estar com essas casas prontas, queremos entregar mais rápido que todo mundo, para resolver o problema", projeta Claudio Teitelbaum, presidente da entidade empresarial.
Para o projeto, será usado o recurso arrecadado na campanha SOS Chuvas, lançada em 2023 em resposta às enchentes que atingiram principalmente o Vale do Taquari, e reativada no início deste mês. Os financiadores são principalmente empresários do ramo, fornecedores e outras entidades do ramo de todo o país.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Teitelbaum explica como deverá ser viabilizada a iniciativa e com qual parceria o setor espera contar do poder público.
Jornal do Comércio - Em quais ações emergenciais o Sinduscon está envolvido?
Claudio Teitelbaum - Logo que se formou o fenômeno climático extremo, abrimos de novo o SOS Chuvas. Só que desta vez, extrapolamos um pouco mais, indo também para a Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), Sinduscons do Brasil inteiro e Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Fizemos isso tentando pegar um valor consideravelmente maior do que foi arrecadado da outra vez, até pelo estrago generalizado na infraestrutura e no modelo habitacional do Estado. Nos concentramos no esforço emergencial, que era a viabilização dos abrigos. Várias das nossas incorporadoras entraram com colchões, caminhões pipa, reservatórios e com a doação de materiais de toda ordem. Muitos colaboradores dessas incorporadoras ficaram dentro dos abrigos servindo como voluntários. No entanto, a gente fez isso tudo de boca fechada, internamente, porque cada um sabia o que podia fazer. Em algumas incorporadoras, 10% da força de trabalho perdeu tudo. Por isso, também vai ter um trabalho de reconstrução individual das casas desses funcionários.
JC - E por Porto Alegre?
Teitelbaum - Fizemos uma força-tarefa muito grande com o Dmae. Apoiamos com engenharia, conhecimento, mergulhadores, barcos e alimentação. Fizemos um trabalho de muita parceria com toda a área técnica do Dmae, como o (diretor-geral) Maurício Loss e todos os diretores, que trabalham dia e noite.
JC - Quais as ações de médio e longo prazo?
Teitelbaum - Estamos partindo agora para alguns modelos, seja de construções temporárias, seja definitivas. A gente está com dois grupos principais de trabalho formados nessa parte das construções. Em um deles, estamos fazendo uma inteligência de pesquisa, mapeando todos os modelos de construção modular e o melhor custo-benefício para implementar. Já selecionamos um deles e, dentro de uns 15 dias, a casa modelo já estará pronta em Porto Alegre. Vamos montar essa casa modelo para ver toda a engenharia, o melhor custo-benefício, que parcerias vamos conseguir e com qual fabricante. Esse é o modelo da casa definitiva. Cada casa terá de 40 a 45 metros quadrados, dois dormitórios, cozinha integrada com a sala e um banheiro.
JC - Como serão custeadas e que público será beneficiado?
Teitelbaum - A construção dessas casas será feita pelo Sinduscon com os valores arrecadados (na campanha SOS Enchentes). Algumas das pessoas querem doar o equivalente a 10, 50 e até 100 casas. Também estamos fazendo um trabalho de priorização de grupos, por exemplo mães com filhos pequenos e pessoas com necessidade de atenção especial. É um investimento privado, então a gente vai organizar isso da melhor forma.
JC - Onde serão construídas essas casas?
Teitelbaum - Sobre os terrenos, poderão ser de três modalidades. Uma diz respeito aos terrenos que eventualmente a prefeitura tenha. Em outra modalidade, vão ser terrenos que a iniciativa privada tenha e possa ceder de maneira gratuita. Na terceira estão os terrenos que a iniciativa privada tenha e que ofereça quase que por um valor simbólico. Nós obviamente vamos priorizar áreas não alagáveis, mais altas, assim como fizemos em Arroio do Meio e Roca Sales (após as enchentes de 2023). Esses terrenos ficaram em zonas não atingidas por essa enchente de 2024. Em paralelo, também tem um grupo de atuação estratégica. Passamos 20 demandas ao Ministério das Cidades, onde estivemos reunidos, e na Caixa também, e praticamente todos esses anúncios feitos pelo Governo Federal (programa de moradia) são fruto de uma atuação direta do Sinduscon-RS junto com a CBIC. Existe também um outro grupo de atuação estratégica. Como já estamos fazendo todo esse mapeamento e temos todos os números de pessoas desabrigadas e de habitações de interesse social disponíveis no Estado, estamos nos colocando à disposição tanto do governo do Estado, quanto da prefeitura da Capital, para ser uma interlocução entre as consultorias contratadas e o setor de habitação.
JC - A prefeitura fala sobre uma cidade provisória no Porto Seco. O governo também falou que outros municípios terão essas cidades provisórias. Seria isso, ou vocês pensam em algo mais definitivo?
Teitelbaum - Estamos nos propondo a entregar algo mais definitivo. A gente fez aquelas cidades provisórias no Vale Taquari, mas agora, mesmo que elas saiam um pouco mais caras, estamos nos propondo a construir menos casas, porém mais definitivas. Porque aí já consegue entregar uma solução para sempre para as pessoas. Vamos fazer agora esse trabalho de mapeamento, elegendo determinados públicos-alvo e cidades mais atingidas, como Porto Alegre, Eldorado e Canoas. E aí vamos realmente tentar atacar onde o braço do governo não está. O que sabemos é que vamos fazer moradias. Não sabemos ainda exatamente os pontos, até porque depende de terreno disponível, de disponibilidade. Por exemplo, a Prefeitura vai ter que ser flexível para ter uma aprovação expressa, para não trancar na burocracia. A gente quer em 90 dias estar com essas casas prontas, a gente quer entregar mais rápido que todo mundo, para resolver o problema. Só não podemos ficar esperando. E a Prefeitura de Porto Alegre já nos procurou e, na terça-feira, o prefeito Melo esteve na reunião do Comitê de Desenvolvimento Econômico no Sinduscon. Também já conversamos com o Germano Bremm, que montou dentro da Smamus (Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade) um comitê de crise para ajudá-lo a levantar todos esses dados. Já tem uma equipe de engenheiros, técnicos e pessoal de TI trabalhando com ele. O governo do Estado não nos procurou ainda.
JC - Esse recurso está vindo das doações de empresários e de outros Sinduscons, auxiliando agora na elaboração do projeto e para saber quanto vai custar cada moradia. Mas, para a aquisição dos terrenos…
Teitelbaum - A gente vai precisar da parceria tanto do governo quanto das prefeituras. Eu sei que muitas prefeituras acabam resolvendo preliminarmente a questão com o aluguel social, porém grande parte dessas cidades foram devastadas. Aquele vídeo do antes e depois de Arroio do Meio é impactante. É a segunda vez em 6 meses que acontece uma coisa dessas. A estrutura da cidade tem que ser repensada. Não dá para colocar aquelas pessoas morando ali de novo. É diferente de Porto Alegre. No Sarandi, na Zona Norte (de Porto Alegre) ou no Lami, é possível, com engenharia, resolver o problema da cota de cheia. Nas outras regiões, não tem o que fazer para resolver o problema.
JC - Como resolver essa cota de cheia?
Teitelbaum - Nas regiões que envolvem o dique de Porto Alegre, com engenharia consegue resolver. Isso envolve subir a cota das bombas das estações de bombeamento, geradores, graus de redundância de abastecimento, ou seja, não ter só uma fonte de abastecimento, subir a altura de diques, reforçar algumas estruturas e trabalhar com bases de amortecimento de chuvas maiores. Mas nem toda cidade se consegue resolver com engenharia. Tem lugares que realmente vão ter que ser repensados.
JC - Pegando o exemplo ali de Arroio do Meio, essa cidade teria que ser reconstruída em outro lugar? A parte do planejamento urbano, vocês também estão envolvidos?
Teitelbaum - Não, a gente não consegue abraçar tudo. Então, estamos realmente focados nessa parte de habitação. Entramos nessa fase mais estratégica de diálogo com o Ministério das Cidades, com o Governo Federal, que contempla todas as áreas atingidas do Estado, e essa outra (do Sinduscon) que vai contemplar a construção de casas para acolher mulheres solteiras, mães de crianças pequenas, pais e mães de crianças autistas… Não dá para deixar essas pessoas em abrigo por muito tempo. Essas crianças e essas mulheres não têm condições de estar ali. A gente sabe que a convivência no abrigo replica o que é a vida real. Tudo que acontece de ruim na vida real está sendo potencializado ali dentro. E daqui a pouco a Esef começa a dar aula, o Bom Conselho, o prédio do IPA... Daqui a pouco tem que colocar outras crianças lá estudando. Então, isso aí tem que ser resolvido muito rápido.
JC - Há alguma outra frente de trabalho em andamento?
Teitelbaum - Imaginamos fazer um grupo de longo prazo para pensar a Porto Alegre do futuro. Ainda estamos num processo de revisão do Plano Diretor, que eu imagino dará um passo para trás, exatamente para quem sabe trazer de novo alguns grandes pensadores, como o escritório Jaime Lerner, o Josep Piquet, de Barcelona, e o Felipe Cavalcante, que é uma das pessoas que mais entende de comunidades planejadas. Qual é a dotação da orla de Porto Alegre? Qual a dotação de Eldorado e de Guaíba? A região toda deve ser reconstruída em que cota, como fazer a reconstrução? Então é ver como Porto Alegre vai realmente pensar para que a cidade seja um modelo de ocupação urbana sustentável. Obviamente também estamos muito preocupados com a infraestrutura, a viabilização do corredor humanitário e o mapeamento da infraestrutura do estado. E temos que pensar numa infraestrutura de drenagem urbana do Estado e dos rios, canais e lagos. Como reduzir a vazão dos rios? Como criar as zonas de amortecimento? Como as cidades vão se preparar? Tem exemplos no mundo que temos que aproveitar aqui. O olhar está sobre o Rio Grande do Sul, então temos que deixar ele realmente ser o Estado da arte dentro dessa questão.
JC - O setor da construção civil é muitas vezes apontado como vilão ou inimigo do meio ambiente. Ao mesmo tempo, é à construção civil que os governos recorrem para essa retomada da vida urbana e para a construção das moradias.
Teitelbaum - A pessoa que diz que a condução civil é vilã, ou é irresponsável, ou não estuda, ou não sabe o que está falando, ou tem um viés político eleitoral. A construção civil constrói escolas, constrói parques, infraestrutura, hospitais, postos de saúde, constrói Minha Casa. Minha Vida faixa 1, faixa 2, faixa 3. A condição civil no Rio Grande do Sul emprega de carteira assinada 130 mil pessoas. Se contar empregos diretos e indiretos, vai a um milhão de pessoas, isso é 10% da população do Estado. Nos anos depois da pandemia, o setor teve 17% de crescimento do PIB frente a 8% da economia no Brasil, ou seja, ela puxou toda a geração de riqueza do país. A construção civil faz infraestrutura, gera empregos. Por causa do pedreiro que ganha R$ 1,5 mil, R$ 2 mil por mês, o mercadinho ali da zona dele funciona. A construção civil de Porto Alegre é quase que modelo para o resto do Brasil todo com sustentabilidade, com boa arquitetura. Tem que parar um pouco com essa história de querer achar vilões, a gente tem que achar soluções.
JC - Não tem essa dualidade?
Teitelbaum - Exatamente, é uma indústria. Se for falar "qual é a indústria de Porto Alegre?", é a da construção civil, todo mundo foi embora. Quem segue aqui investindo na cidade somos nós. E volto a dizer, a gente constrói hospitais, escolas, obras públicas, postos de saúde. A construção civil está em tudo, ela impacta outras 94 cadeias produtivas. Eu vejo que é a hora de construir soluções, de gerar valor, com responsabilidade social, e depois, lá no futuro, as páginas da história vão contar quem é que ajudou a construí-las.
 

Perfil

Claudio Teitelbaum, engenheiro e presidente Sinduscon-RS

Claudio Teitelbaum, engenheiro e presidente Sinduscon-RS

/TÂNIA MEINERZ/JC
Claudio Teitelbaum é mestre em Administração de Empresas pelo Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Engenheiro Civil formado pela mesma universidade em 1997. É diretor do Escritório de Engenharia Joal Teitelbaum, atuando no ramo imobiliário, gerenciamento de obras e desenvolvimento de bairros planejados. É presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS) em seu segundo mandato. Antes havia sido vice-presidente da entidade. É Associado Honorário do Instituto de Estudos Empresariais (IEE).

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