A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal de Porto Alegre que investiga a atuação do Grupo Equatorial na CEEE se reuniu nesta quinta-feira (18) para ouvir o depoimento de três testemunhas. O principal ponto abordado foi a suposta falta de treinamento adequado às equipes da concessionária, apontada nas falas de dois dos depoentes.
Um rápido depoimento foi prestado logo ao início da sessão pelo comandante do 1º Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS), coronel Ricardo Mateei. Originalmente, o convidado era o comandante-geral do CBMRS, coronel Eduardo Estêvam Camargo, que enviou Mateei como seu representante. O foco da oitiva foi referente aos procedimentos padrões dos bombeiros em chamados decorrentes de eventos climáticos.
Mateei destacou que durante o temporal ocorrido em janeiro, houve uma quantidade elevada de chamadas para todos os números de serviços de emergência. Além disso, ressaltou que é de responsabilidade da CEEE Equatorial o desligamento de redes de energia, que podem gerar riscos às próprias equipes de resgate.
O comandante afirmou que, em janeiro, o evento climático “ultrapassou a capacidade de respostas da própria empresa (CEEE Equatorial), a gente teve dificuldades nas primeiras 48 horas para que se conseguisse ter o respaldo de segurança nessa ação conjunta, principalmente nessa questão da distribuição da rede elétrica”. Além disso, em resposta ao vereador Adeli Sell (PT), pontuou que a quantidade de equipes da concessionária de energia foi insuficiente para a demanda.
Em seguida, iniciaram-se os depoimentos de duas testemunhas convocadas após aprovação de requerimento apresentado pelo vereador Roberto Robaina (PSOL). Ambos trataram sobre a capacitação e a formação dos funcionários a serviço da CEEE Equatorial para suas atuações profissionais.
A primeira delas a ser ouvida foi a diretora do Centro de Educação e Cultura Cecília Meireles, Camilla Calvete Portela Barbosa. Localizado em Eldorado do Sul, o Centro teria sido contratado pela terceirizada Setup, que presta serviços de manutenção à CEEE Equatorial, para fornecer cursos de formação aos seus funcionários.
À CPI, Camila afirmou que a empresa buscou o Centro para a realização de cursos de formação e não para uma formação técnica. No entanto, o contrato não teria sido efetivado por uma questão de custos. O curso teria um investimento de cerca de R$ 1.000,00 por pessoa, com duração de seis meses.
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Camila teria descoberto posteriormente que a empresa optou por uma formação online dez vezes mais barata do que a orçada por ela. “Imagina capacitar pessoas para trabalhar na rua com um curso online, que elas podem assistir ou não. E, no final do curso, sair com um certificado qualquer que capacita essa pessoa a trabalhar na rede?”, questionou a diretora. Acrescentando, ainda, ter percebido que “eles (Setup) não queriam uma qualidade técnica. Eles queriam comprar assinatura do diploma”.
Por fim, foi a vez da fala do ex-gerente de treinamento e formação da CEEE pública, Maurício Flores dos Santos. Quando questionado pela presidente da CPI, vereadora Cláudia Araújo (PSD), sobre como funcionavam os treinamentos da concessionária antes da privatização, Santos relatou que, na sua época, os novos funcionários participavam de uma imersão de três meses com oito horas de aulas diárias.
Ele também alegou ter se reunido com a Setup e desaconselhado a preferência por cursos de educação a distância. “Não é uma capacitação capaz de preparar o indivíduo para trabalhar no sistema elétrico de potência. Isso é uma coisa séria, é uma coisa que mata e a gente tem visto isso frequentemente”. Santos acrescentou que nos treinamento de eletricista “além do conhecimento teórico e prático, ainda requer um conhecimento de segurança muito importante. Porque os eventos de segurança negativos que acontecem na rede precisam ser tratados de maneira muito rápida para que não haja o óbito do profissional”.
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De acordo com Santos, os profissionais, muitas vezes, têm consciência de que a formação oferecida pelas empresas é deficitária e, ao perceberem o risco que correm devido a isso, optam por pedir demissão. “Quando (o funcionário) chega lá (na manutenção da rede) e percebe a encrenca que ele está se metendo, pensa ‘bom, vou morrer’”, pontuou.
Ao final da sessão, diante dos depoimentos prestados, a presidente da CPI refez um pedido de requerimento apresentado por Robaina e que havia sido rejeitado. No documento, ele havia solicitado que a Comissão convocasse a oitiva de responsáveis pela Setup. Dessa vez, a decisão foi favorável e unânime.