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Publicada em 06 de Março de 2024 às 21:38

STF tem maioria para separar usuário e traficante; Senado já prepara resposta

A análise do caso foi suspensa por um pedido de vista do ministro Dias Toffoli

A análise do caso foi suspensa por um pedido de vista do ministro Dias Toffoli

Nelson Jr./SCO/STF/JC
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Agência Estado
Em meio à tensão com o Congresso, que discute a PEC das Drogas, o Supremo Tribunal Federal formou um placar de 5 votos a 3 nesta quarta-feira (6) pela descriminalização do porte de maconha para uso pessoal. De outro lado, a maioria do colegiado já se manifestou no sentido de fixar uma quantidade da droga para diferenciar consumo próprio de tráfico no momento da abordagem policial - um ponto que pode ser revisto pela proposta no Senado, que deve ter discussão retomada hoje.A análise do caso foi suspensa por um pedido de vista, desta vez, do ministro Dias Toffoli. E antes da retomada (o pedido vale por 90 dias úteis) o Congresso pode se pronunciar a respeito."Temos já uma maioria de votos pela fixação de uma quantidade diferenciadora, apenas com alguma divergência de qual será a quantidade. Considero que esse é o aspecto mais importante do nosso julgamento: fixar uma quantidade que valha indistintamente para pobres e ricos relativamente a ser ou não traficante", afirmou o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, ao proclamar o resultado do julgamento até ontem.Barroso, ao lado dos ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, defende que sejam consideradas usuárias pessoas que portarem 60g de maconha ou que tenham a posse de seis plantas fêmeas. Cristiano Zanin e Kassio Nunes Marques votaram por fixar a quantidade de 25 gramas ou seis plantas fêmeas para a distinção entre consumo pessoal e tráfico.André Mendonça sugeriu fixar a quantidade diferenciadora em dez gramas. Só Edson Fachin entende que a quantidade deve ser definida pelo Legislativo e Toffoli (que pediu vista) indagou se não seria o caso de remeter tal definição para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em meio à tensão com o Congresso, que discute a PEC das Drogas, o Supremo Tribunal Federal formou um placar de 5 votos a 3 nesta quarta-feira (6) pela descriminalização do porte de maconha para uso pessoal. De outro lado, a maioria do colegiado já se manifestou no sentido de fixar uma quantidade da droga para diferenciar consumo próprio de tráfico no momento da abordagem policial - um ponto que pode ser revisto pela proposta no Senado, que deve ter discussão retomada hoje.

A análise do caso foi suspensa por um pedido de vista, desta vez, do ministro Dias Toffoli. E antes da retomada (o pedido vale por 90 dias úteis) o Congresso pode se pronunciar a respeito.

"Temos já uma maioria de votos pela fixação de uma quantidade diferenciadora, apenas com alguma divergência de qual será a quantidade. Considero que esse é o aspecto mais importante do nosso julgamento: fixar uma quantidade que valha indistintamente para pobres e ricos relativamente a ser ou não traficante", afirmou o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, ao proclamar o resultado do julgamento até ontem.

Barroso, ao lado dos ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, defende que sejam consideradas usuárias pessoas que portarem 60g de maconha ou que tenham a posse de seis plantas fêmeas. Cristiano Zanin e Kassio Nunes Marques votaram por fixar a quantidade de 25 gramas ou seis plantas fêmeas para a distinção entre consumo pessoal e tráfico.

André Mendonça sugeriu fixar a quantidade diferenciadora em dez gramas. Só Edson Fachin entende que a quantidade deve ser definida pelo Legislativo e Toffoli (que pediu vista) indagou se não seria o caso de remeter tal definição para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

JULGAMENTO

A retomada do julgamento se deu com a apresentação do voto-vista do ministro André Mendonça, que, logo no início da sessão, adiantou que acompanharia a linha de voto do colega Cristiano Zanin. Este votou contra a descriminalização do porte de maconha, sob entendimento de suposto agravamento de problemas de saúde relacionados ao vício. De outro lado, ele sugeriu fixar a quantidade máxima de 25 gramas para diferenciar usuário de traficante.

Em seu voto, Mendonça ressaltou os "malefícios" do uso da maconha, frisando as "consequências notáveis para a saúde e a sociedade". Após ler uma série de estudos em tal conclusão, o ministro afirmou: "Isso faz a maconha, isso faz fumar maconha. É o primeiro passo, se é para dar o primeiro passo, para o precipício".

Na avaliação do magistrado, a descriminalização do porte da maconha para uso pessoal é uma tarefa do Poder Legislativo. "Vamos jogar para um ilícito administrativo. Qual autoridade administrativa? Não é para conduzir para a delegacia. Quem vai conduzir quem? Pra onde? Quem vai aplicar a pena? Ainda que seja uma medida restritiva. Na prática, nós estamos liberando o uso."

Mendonça ainda defendeu que seja dado prazo de 180 dias para que o Congresso estabeleça critérios objetivos para diferenciar usuários de possíveis traficantes. O ministro ainda propôs que, enquanto o Legislativo não se manifeste sobre o tema, seja fixada a quantidade de 10 gramas para orientar o enquadramento como consumo próprio e tráfico.

O ministro Kassio Nunes Marques também votou contra a descriminalização do porte da maconha para uso pessoal, o que fez o placar do julgamento ir a 5 votos a 3. Ao final, ainda rememorou sua infância em Teresina, no Piauí, e fez um apelo para "manter com a família brasileira o importante argumento de que o uso de maconha é um ilícito".

RESPOSTA DO CONGRESSO

O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), convocou para hoje uma reunião com os membros do colegiado para definir a votação da proposta de emenda à Constituição. Em uma reunião fechada, os senadores vão avaliar uma data para votar a PEC, que é de autoria do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Ela endurece ainda mais a legislação antidrogas do País, punindo tanto posse quanto porte.

A proposta deve ser votada pelo colegiado na próxima quarta-feira, dia 13. Desde setembro, Pacheco considera "equívoco grave" a análise do Supremo sobre o tema. O relator da PEC na CCJ é o senador Efraim Filho (União-PB).

No texto do parlamentar, é prevista uma diferenciação entre quem apenas usa qualquer tipo de droga - incluindo a maconha - e quem trafica as substâncias. A classificação, contudo, não descriminaliza o uso. A partir da distinção, são previstas penas diferentes: mais rigorosas para quem vende e mais brandas ao usuário.

Conforme revelou a Coluna do Estadão, o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e partidos que compõem a base governista e apoiam a descriminalização devem manter uma "distância de segurança" da PEC. O tema pode desgastar a popularidade do petista e prejudicar uma aproximação com a bancada evangélica.

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