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Abin fala em distorção da PF, e polícia aumenta pressão por troca na agência
Do lado da PF, investigadores dizem já haver uma série de elementos de obstrução de justiça por parte da direção atual da Abin
Por Folhapress
A operação que mirou nesta quinta-feira (25) o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) evidenciou em um novo episódio de conflito entre as cúpulas da Polícia Federal e da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
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A operação que mirou nesta quinta-feira (25) o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) evidenciou em um novo episódio de conflito entre as cúpulas da Polícia Federal e da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
De um lado, integrantes da agência afirmam ver uma narrativa distorcida da PF nos relatos enviados ao ministro relator do caso, Alexandre de Moraes, do STF. De outro, integrantes da polícia dizem nos bastidores acreditar que os indícios mostram a necessidade de troca no comando da agência.
As duas instituições têm se estranhado desde o começo do governo Lula (PT).
Nesta quinta-feira, a PF cumpriu busca e apreensão relativas a policiais federais envolvidos no uso do FirstMile, o software espião que teria sido usado pela gestão de Jair Bolsonaro (PL) em uma espécie de "Abin paralela" para espionagem ilegal.
Um dos alvos de busca foi Ramagem, chefe da Abin no governo Bolsonaro, hoje deputado federal e pré-candidato do PL à Prefeitura do Rio de Janeiro.
De acordo com trechos do relatório da PF citados na decisão de Moraes, a direção da Abin sob o governo Lula (PT) "realizou ações que interferiram no bom andamento da investigação".
Para a PF, houve "conluio de parte dos investigados com a atual alta gestão da Abin", no sentido de não atribuir a devida gravidade aos fatos apurados.
O relatório cita o número dois da agência, Alessandro Moretti, dizendo que, em reunião com investigados, ele afirmou que a apuração sobre o caso tinha "fundo político e iria passar".
O investigador responsável pelo caso diz que a postura de Moretti, que é delegado da PF, não é a esperada de um servidor que, até dezembro de 2022, ocupava a função de diretor de Inteligência da Polícia Federal.
Integrantes da Abin afirmam ser completamente descabida a afirmação de que a atual direção faria um conluio para proteger atos da gestão Bolsonaro. Eles dizem que a menção é uma tentativa de causar desgaste político e forçar uma troca, desejo da cúpula da PF desde que os nomes da agência foram anunciados.
A reunião ocorrida no final de março, afirmam, foi feita a pedido dos investigados e teve como objetivo viabilizar a apuração, o contrário do que diz a PF agora. Além de Moretti, participou do encontro o atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa.
Segundo relatos, a rotina de sindicâncias da Corregedoria da Abin até então era de apurações que não davam em nada porque os servidores sob suspeita sempre se recusavam a depor e a colaborar.
Com a reunião, os investigados teriam tido a garantia de que sigilos inerentes à função não seriam afetados e teriam concordado em depor na sindicância interna aberta e, depois, na investigação da Polícia Federal.
Ainda de acordo com servidores da Abin, a fala de Moretti sobre "fundo político" na reunião seria uma referência à briga de bastidores entre a agência e a PF e não teria relação com a apuração contra os investigados.
Na busca e apreensão desta quinta foram encontrados com Ramagem laptops e celular pertencente à Abin. A agência realizará uma apuração para saber como e por que esse material estava ainda de posse do ex-diretor.
Do lado da PF, investigadores dizem já haver uma série de elementos de obstrução de justiça por parte da direção atual da Abin.
Além da reunião com os investigados, integrantes da PF afirmam que a direção do órgão atrapalhou os trabalhos ao não fornecer informações solicitadas. Também chegaram a enviar documentos errados à PF, dizem.
Por isso, para esses investigadores, foi necessário realizar a operação de busca e apreensão na agência.
Um dos panos de fundo da rixa de bastidor entre Abin e PF diz respeito à indicação de Luiz Fernando Corrêa e depois do seu número 2 e 3. O grupo que hoje comanda a PF também tinha uma indicação para a direção-geral da Abin, mas não teve êxito.
Além de Moretti, diretor de Inteligência da PF no último ano de Bolsonaro, Paulo Maurício Fortunato -que ocupou cargos de chefia na agência durante a gestão de Ramagem- foi alocado na Secretaria de Planejamento e Gestão, o terceiro posto mais alto da agência.
Fortunato foi alvo de operação da PF em outubro de 2023, ocasião em que os policiais encontraram US$ 171 mil em sua casa, e acabou deixando o cargo.
Integrantes da PF dizem que as suspeitas sobre o uso do software surgiram antes da nomeação de Corrêa como diretor-geral da Abin e que ele poderia ter evitado esse desgaste.
Integrantes da Abin rebatem esse argumento, afirmado que Moretti e Fortunato não podem ser classificados como bolsonaristas e só viraram alvo de artilharia interna devido à disputa de poder dentro da área de inteligência e segurança pública do governo Lula.