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Publicada em 29 de Janeiro de 2024 às 18:30

Após reveses, Fortunati sai da atividade pública para a iniciativa privada

Em 2023, a Câmara concedeu o título de Cidadão de Porto Alegre a José Fortunati

Em 2023, a Câmara concedeu o título de Cidadão de Porto Alegre a José Fortunati

Fernando Antunes/CMPA/Divulgação/JC
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Diego Nuñez
Diego Nuñez Repórter
Ex-prefeito de Porto Alegre (2010-2016), vereador, deputado estadual e federal, José Fortunati deve se afastar da vida pública para se dedicar a uma nova atividade privada. Apesar da vontade de contribuir com a campanha que deve definir prefeitos para a Capital e outras 496 cidades gaúchas neste ano eleitoral, o foco de Fortunati estará em Viadutos, cidade que receberá uma nova usina de etanol, com investimento de R$ 800 milhões. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, o ex-prefeito fala sobre suas funções como sócio-administrador da FZ BioEnergia, empresa criada para coordenar o processo de construção da usina, e os motivos que o levaram a se afastar da política. Acreditando que as últimas duas gestões da prefeitura de Porto Alegre estejam pegando nas políticas sociais, Fortunati decidiu não ser candidato em 2024, após reveses sofridos nos últimos dois pleitos. Em 2022, os 24,3 mil votos recebidos não o tornaram deputado federal e a eleição lhe deixou uma dívida de R$ 600 mil, após, segundo ele, o União Brasil não ter cumprido acordo referente a recursos. Em 2020, sua chapa à prefeitura da Capital foi cassada, em um movimento que o ex-prefeito acredita que tenha sido articulado. Jornal do Comércio - Como foi o convite para coordenar a construção de uma usina de etanol em uma mudança drástica na carreira?José Fortunati - Foi no início de 2023. Fui convidado pelo Edemar Tutikian, sócio da Conexão Sul Brasil Holding SA, que tinha sido secretário de Desenvolvimento durante minha gestão na prefeitura, para participar do processo de construção de uma usina de etanol e ser um representante da Conexão nesse processo. No início, eu não entendia nada de usina de etanol. Para ser franco, nem sabia que existia usina de etanol de milho. Tendo o Valdir Zonin como um grande professor, ele é engenheiro agrônomo da Emater e foi responsável pelos estudos do (programa) Pró-Etanol aqui no Estado. Fiz leituras, assisti vídeos, conversei com amigos que trabalham em uma usina de etanol no Mato Grosso e, em um ano, acho que aprendi bastante. Minha função, junto com o Zonin, é discutir a contratação de empresas que farão a obra e fazer todo o acompanhamento. Vou tratar na ótica de quem está acostumado com obra pública, fazendo levantamento de preços, escolhendo pela qualidade e pelo preço, tentando realmente apresentar para os investidores o melhor produto possível.JC - Se dedicará 100% a esse projeto? Como fica sua vida política?Fortunati - Exatamente isso que estou discutindo com a Conexão. Obviamente, a Conexão está exigindo de nós uma dedicação exclusiva. Tanto é que o Zonin vai se afastar da Emater também. Eu estou refletindo com eles até que ponto vai essa exclusividade e até que ponto posso ter atividades políticas, que em princípio os investidores não querem que eu faça. JC - O senhor ainda tem vontade de participar, de alguma forma, da campanha?Fortunati - Não como candidato. Isso eu já tinha descartado. Mas, para quem faz política há 48 anos, sente cócegas para participar do processo. Isso está em aberto. Em princípio, vou ter dificuldade. Vou passar a maior parte do meu tempo em Viadutos, com atribuições bastante pesadas, porque o acompanhamento da obra é algo que exige muita seriedade. JC - Para alguém que já foi prefeito da Capital, deve ser especialmente difícil se afastar do debate. Fortunati - Exatamente. Das eleições, certamente é a que mais me motiva. Quero deixar claro que a motivação para essa nova atividade é fantástica. É uma guinada muito forte na minha vida, saio da atividade pública para a atividade privada. JC - Sua participação na campanha ainda está em discussão, porém, a tendência é que fique afastado?Fortunati - Essa é a situação atual.JC - Como vê o quadro eleitoral de Porto Alegre, a alguns meses da eleição?Fortunati - Acho que é cedo. Sebastião Melo (MDB) certamente será candidato, e um candidato forte. Nos demais partidos, se percebe a Maria do Rosário ou a Luciana Genro, pelo PT e PSOL (respectivamente). Depois, PDT e PSB poderão se aliançar com o PSDB, é uma incógnita, e teríamos uma outra candidatura. Acho que essas seriam as três candidaturas fortes. O Sebastião Melo aglutina basicamente os partidos que estão no seu governo, quase todos. De um lado tem a polarização, tem gente que vota na esquerda e não tem papo, tem gente que vota na direita e não tem papo. Há um percentual que já definiu o voto independente do candidato. Mas eu continuo acreditando que uma maioria de pelo menos 50% do eleitor, jogando baixo, continua votando naquele que entende que possa ser o melhor gestor para sua cidade. JC - O senhor continua sendo lembrado em pesquisas, inclusive nas espontâneas. O que passou pela decisão de não ser candidato?Fortunati - Fico feliz com a lembrança, caminho pela cidade e as pessoas me tratam com muito respeito, me chamando de prefeito. Há um reconhecimento, que guardo com orgulho e carinho. Eu já vinha pensando em dar um tempo da política, especialmente com a eleição do ano passado, que me foi muito dolorosa, não só pela derrota eleitoral, mas pelo fato de o União Brasil não ter cumprido com o acordo e eu ter ficado com uma dívida do tamanho de uma cão. O União Brasil não cumpriu com o combinado em termos de recursos. Eu acabei tendo que pagar as pessoas, busquei empréstimos pessoais. Mas já ganhei na justiça, já está em execução, mas isso leva tempo. Vou conseguir rever, são R$ 600 mil. É pesado para uma pessoa física. O partido não cumpriu com o que se comprometeu. JC - Como avalia Porto Alegre, oito anos após ter deixado a prefeitura?Fortunati - Desde o governo anterior, começou-se a ter de forma muito inadequado o atendimento às políticas sociais de Porto Alegre. Houve um esvaziamento muito forte e quem sente especialmente é a população de periferia, que não escreve jornal, não tem microfone, são os chamados invisíveis. É quem mais tem sofrido, e sei pois continuo indo a vilas populares. É um debate extremamente importante nessa campanha. JC - Na última eleição, o senhor chegou a ser candidato. O que aconteceu?Fortunati - Fui candidato a prefeito até uma semana antes. Tinha um candidato a vice. Nós protocolamos nossa chapa, foi aceita pela Justiça Eleitoral. Aí um indivíduo entrou com uma ação impugnando a candidatura do meu vice, pois não estaria filiado no tempo adequado no seu partido, o Patriota (hoje PRD). Tanto a lei geral das eleições quanto a súmula do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dizem claramente que todo ato de impugnação têm que ser avaliado em todas as instâncias até 20 dias antes das eleições, pois, se ocorrer impugnação, o partido ou a coligação pode trocar o candidato. Com menos prazo do que isso, inviabiliza a chapa, que foi o que aconteceu. Em vez de o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) cumprir com o que diz na lei geral das eleições, o TSE acabou julgando a ação faltando cinco dias para o processo eleitoral. Ao cassar o candidato a vice, acabou cassando a chapa. JC - O senhor sente que isso foi planejado de alguma forma?Fortunati - Hoje, tenho convicção, plena certeza, de que foi articulado. Ponto. Não falo mais nada.
Ex-prefeito de Porto Alegre (2010-2016), vereador, deputado estadual e federal, José Fortunati deve se afastar da vida pública para se dedicar a uma nova atividade privada. Apesar da vontade de contribuir com a campanha que deve definir prefeitos para a Capital e outras 496 cidades gaúchas neste ano eleitoral, o foco de Fortunati estará em Viadutos, cidade que receberá uma nova usina de etanol, com investimento de R$ 800 milhões.

Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, o ex-prefeito fala sobre suas funções como sócio-administrador da FZ BioEnergia, empresa criada para coordenar o processo de construção da usina, e os motivos que o levaram a se afastar da política.

Acreditando que as últimas duas gestões da prefeitura de Porto Alegre estejam pegando nas políticas sociais, Fortunati decidiu não ser candidato em 2024, após reveses sofridos nos últimos dois pleitos. Em 2022, os 24,3 mil votos recebidos não o tornaram deputado federal e a eleição lhe deixou uma dívida de R$ 600 mil, após, segundo ele, o União Brasil não ter cumprido acordo referente a recursos. Em 2020, sua chapa à prefeitura da Capital foi cassada, em um movimento que o ex-prefeito acredita que tenha sido articulado.

Jornal do Comércio - Como foi o convite para coordenar a construção de uma usina de etanol em uma mudança drástica na carreira?

José Fortunati - Foi no início de 2023. Fui convidado pelo Edemar Tutikian, sócio da Conexão Sul Brasil Holding SA, que tinha sido secretário de Desenvolvimento durante minha gestão na prefeitura, para participar do processo de construção de uma usina de etanol e ser um representante da Conexão nesse processo. No início, eu não entendia nada de usina de etanol. Para ser franco, nem sabia que existia usina de etanol de milho. Tendo o Valdir Zonin como um grande professor, ele é engenheiro agrônomo da Emater e foi responsável pelos estudos do (programa) Pró-Etanol aqui no Estado. Fiz leituras, assisti vídeos, conversei com amigos que trabalham em uma usina de etanol no Mato Grosso e, em um ano, acho que aprendi bastante. Minha função, junto com o Zonin, é discutir a contratação de empresas que farão a obra e fazer todo o acompanhamento. Vou tratar na ótica de quem está acostumado com obra pública, fazendo levantamento de preços, escolhendo pela qualidade e pelo preço, tentando realmente apresentar para os investidores o melhor produto possível.

JC - Se dedicará 100% a esse projeto? Como fica sua vida política?

Fortunati - Exatamente isso que estou discutindo com a Conexão. Obviamente, a Conexão está exigindo de nós uma dedicação exclusiva. Tanto é que o Zonin vai se afastar da Emater também. Eu estou refletindo com eles até que ponto vai essa exclusividade e até que ponto posso ter atividades políticas, que em princípio os investidores não querem que eu faça.

JC - O senhor ainda tem vontade de participar, de alguma forma, da campanha?

Fortunati - Não como candidato. Isso eu já tinha descartado. Mas, para quem faz política há 48 anos, sente cócegas para participar do processo. Isso está em aberto. Em princípio, vou ter dificuldade. Vou passar a maior parte do meu tempo em Viadutos, com atribuições bastante pesadas, porque o acompanhamento da obra é algo que exige muita seriedade.

JC - Para alguém que já foi prefeito da Capital, deve ser especialmente difícil se afastar do debate.

Fortunati - Exatamente. Das eleições, certamente é a que mais me motiva. Quero deixar claro que a motivação para essa nova atividade é fantástica. É uma guinada muito forte na minha vida, saio da atividade pública para a atividade privada.

JC - Sua participação na campanha ainda está em discussão, porém, a tendência é que fique afastado?

Fortunati - Essa é a situação atual.

JC - Como vê o quadro eleitoral de Porto Alegre, a alguns meses da eleição?

Fortunati - Acho que é cedo. Sebastião Melo (MDB) certamente será candidato, e um candidato forte. Nos demais partidos, se percebe a Maria do Rosário ou a Luciana Genro, pelo PT e PSOL (respectivamente). Depois, PDT e PSB poderão se aliançar com o PSDB, é uma incógnita, e teríamos uma outra candidatura. Acho que essas seriam as três candidaturas fortes. O Sebastião Melo aglutina basicamente os partidos que estão no seu governo, quase todos. De um lado tem a polarização, tem gente que vota na esquerda e não tem papo, tem gente que vota na direita e não tem papo. Há um percentual que já definiu o voto independente do candidato. Mas eu continuo acreditando que uma maioria de pelo menos 50% do eleitor, jogando baixo, continua votando naquele que entende que possa ser o melhor gestor para sua cidade.

JC - O senhor continua sendo lembrado em pesquisas, inclusive nas espontâneas. O que passou pela decisão de não ser candidato?

Fortunati - Fico feliz com a lembrança, caminho pela cidade e as pessoas me tratam com muito respeito, me chamando de prefeito. Há um reconhecimento, que guardo com orgulho e carinho. Eu já vinha pensando em dar um tempo da política, especialmente com a eleição do ano passado, que me foi muito dolorosa, não só pela derrota eleitoral, mas pelo fato de o União Brasil não ter cumprido com o acordo e eu ter ficado com uma dívida do tamanho de uma cão. O União Brasil não cumpriu com o combinado em termos de recursos. Eu acabei tendo que pagar as pessoas, busquei empréstimos pessoais. Mas já ganhei na justiça, já está em execução, mas isso leva tempo. Vou conseguir rever, são R$ 600 mil. É pesado para uma pessoa física. O partido não cumpriu com o que se comprometeu.

JC - Como avalia Porto Alegre, oito anos após ter deixado a prefeitura?

Fortunati - Desde o governo anterior, começou-se a ter de forma muito inadequado o atendimento às políticas sociais de Porto Alegre. Houve um esvaziamento muito forte e quem sente especialmente é a população de periferia, que não escreve jornal, não tem microfone, são os chamados invisíveis. É quem mais tem sofrido, e sei pois continuo indo a vilas populares. É um debate extremamente importante nessa campanha.

JC - Na última eleição, o senhor chegou a ser candidato. O que aconteceu?

Fortunati - Fui candidato a prefeito até uma semana antes. Tinha um candidato a vice. Nós protocolamos nossa chapa, foi aceita pela Justiça Eleitoral. Aí um indivíduo entrou com uma ação impugnando a candidatura do meu vice, pois não estaria filiado no tempo adequado no seu partido, o Patriota (hoje PRD). Tanto a lei geral das eleições quanto a súmula do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dizem claramente que todo ato de impugnação têm que ser avaliado em todas as instâncias até 20 dias antes das eleições, pois, se ocorrer impugnação, o partido ou a coligação pode trocar o candidato. Com menos prazo do que isso, inviabiliza a chapa, que foi o que aconteceu. Em vez de o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) cumprir com o que diz na lei geral das eleições, o TSE acabou julgando a ação faltando cinco dias para o processo eleitoral. Ao cassar o candidato a vice, acabou cassando a chapa.

JC - O senhor sente que isso foi planejado de alguma forma?

Fortunati - Hoje, tenho convicção, plena certeza, de que foi articulado. Ponto. Não falo mais nada.

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