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Entrevista especial

- Publicada em 30 de Julho de 2023 às 21:20

Ranolfo avalia que BRDE já atua como ‘banco verde’

O ex-governador Ranolfo Vieira Júnior assumiu há 40 dias um novo desafio na instituição

O ex-governador Ranolfo Vieira Júnior assumiu há 40 dias um novo desafio na instituição


TÂNIA MEINERZ/JC
Fernando Albrecht e Guilherme Kolling 
Fernando Albrecht e Guilherme Kolling 
O ex-governador Ranolfo Vieira Júnior assumiu há 40 dias um novo desafio: ser vice-presidente e diretor de Operações do BRDE. Entusiasmado, ele acredita que sua experiência no Piratini ajudará no desempenho do banco, por ter dado a ele conhecimento das diferenças no desenvolvimento regional no Rio Grande do Sul. Também vê sinergia entre o papel da instituição financeira e as potencialidades para o crescimento do Estado.
Nesta entrevista - concedida na quinta-feira passada, após Ranolfo ter sido recebido pela direção do Jornal do Comércio - o vice-presidente do BRDE destaca a importância da sustentabilidade ambiental nos financiamentos, observando que o banco já é "verde".
O dirigente aponta, por exemplo, que a maior parte dos empreendimentos que receberam crédito do BRDE no ano passado estão em sintonia com pelo menos um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Jornal do Comércio - Como foi o convite para o BRDE e a decisão de aceitar o desafio de comandar o banco?
Ranolfo Vieira Júnior - Quando decidimos, na metade do ano passado, que o governador Eduardo (Leite, PSDB) deveria representar a continuidade desse projeto (candidato à reeleição ao Piratini), o Eduardo disse: "Ranolfo, tu tens que estar no governo - escolhe o local que queres estar e vamos tocar o governo juntos". Quando venceu a eleição, essas conversas acabaram sendo mais seguidas, mas, naquele momento, chegar ao cargo máximo do Poder Executivo, como governador do Estado, e no dia seguinte assumir uma secretaria de Estado, me pareceu que não seria o momento mais adequado. Então, começamos a pensar uma série de oportunidades. Se falava muito na época, "Ranolfo volta para a (Secretaria da) Segurança". Tenho minha origem na segurança, me orgulho de tudo que fiz, mas tinha que ir em busca de novos desafios. Até que surgiu, em uma dessas conversas, o convite para assumir uma diretoria (de Operações) no Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). Uma diretoria que estava vaga desde julho (de 2022)...
JC - A saída de Leany Lemos...
Ranolfo - Era a vaga em que estava a nossa ex-secretária de Planejamento e Gestão Leany Lemos (hoje no governo federal). E o Eduardo efetuou o convite. Bom, pensei um ou dois dias e acabei dando um ok para ele. Claro, depois de formalmente indicado, temos a morosidade (da tramitação): comitê de elegibilidade do banco que precisa verificar se o candidato tem as condições necessárias...
JC - Chancela da Assembleia Legislativa, Banco Central...
Ranolfo - Banco Central é o último. Tem análise da Procuradoria Geral do Estado (PGE), a Casa Civil, que remete esse processo para a Assembleia Legislativa, a sabatina pelos deputados na Comissão de Finanças, a escolha do relator, a votação do relatório na comissão para ir a plenário para aprovação pela Assembleia Legislativa.
JC - Passa pelo crivo de todos os deputados estaduais...
Ranolfo - Eu fiquei muito honrado com a aprovação no plenário da Assembleia Legislativa por unanimidade: todos os deputados - esquerda, direita, centro - foram favoráveis. E após essa etapa, passou por governo, BRDE, Banco Central - meu processo no BC levou 42 dias, não tem nenhum apontamento. Mas esse é o rito, o tempo da tramitação. Respeitado, no dia 21 de junho acabei assumindo (o cargo de vice-presidente e diretor de Operações do BRDE).
JC - A experiência de governador ajuda no BRDE?
Ranolfo - O cargo de chefe do Poder Executivo e a experiência na vida pública dão essa qualificação: o equilíbrio, o momento das decisões, a visão do Estado como um todo. Então, se sabe a região que necessita mais, a que já é mais desenvolvida, a outra que não é tão desenvolvida... O conhecimento como governador, participando do Codesul - Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul, dá a visão da região como um todo, para um banco que está presente nos três estados do Sul, com esse braço também no Mato Grosso do Sul. É importante para que se tenha essa visão. Claro, há necessidade do aprimoramento nas questões mais técnicas referentes ao sistema financeiro, isso vamos aprendendo.
JC - O BRDE bateu recorde de financiamentos no passado? É possível melhorar essa marca?
Ranolfo - O recorde no ano passado foi de R$ 4,4 bilhões. E a nossa expectativa nesse ano de 2023 é superar essa marca. Até 19 de julho, último dado que eu tenho, estávamos com R$ 2,6 (bilhões) já. O segundo semestre, geralmente, é mais "agressivo". Então, a expectativa é que vai superar os R$ 4,4 bilhões do ano passado.
JC - O BNDES é a principal fonte de recursos, mas mais de 50% dos valores repassados pelo BRDE já vêm de outras fontes. Qual é a importância da captação com organismos financeiros internacionais?
Ranolfo - A importância é essa variação, não ficar dependente de um órgão só. São "dinheiros diferentes", ou para aplicação em segmentos distintos. Então, é uma ampliação, até na carteira. Esse é o grande negócio, não ficar dependente de uma fonte somente.
JC - Vemos uma preocupação com a questão ambiental por parte de instituições estrangeiras. Há esse foco no BRDE?
Ranolfo - Tem. O banco é considerado hoje um banco verde. E efetivamente é. Temos os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. No ano passado, cerca de 75%, 76% de todos os negócios feitos pelo banco, no mínimo um destes Objetivos do Desenvolvimento Sustentável estava presente naquele negócio. Ou seja, o banco está tendo este olhar, que é importante. O BRDE é considerado um banco verde, trabalha neste sentido, efetivamente, em suas ações.
JC - E as energias alternativas, renováveis?
Ranolfo - Estão no foco do banco. A energia solar, placas fotovoltaicas, no último ano deu uma subida, com vários segmentos - supermercados, postos de gasolina - investindo, então, auxiliamos.
JC - No Rio Grande do Sul, há projetos de grandes parques eólicos e hidrogênio verde. Já há conversas com o BRDE?
Ranolfo - Tem conversas sobre energia eólica, claro. Mas os projetos nesta área são de um volume expressivo de recursos e temos algumas limitações. Por exemplo: Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) tem um valor X disponível (para repassar ao BRDE), acima daquele valor é direto com a Finep. Da mesma forma o BNDES, tem um valor X, além daquele limite negocia direto com o BNDES.
JC - O BRDE, assim como um país e outros bancos também têm uma classificação de risco? Como está atualmente?
Ranolfo - O BRDE está muito bem na classificação de risco. Hoje, o banco tem patrimônio líquido de R$ 4,1 bilhões, se não estou equivocado - sempre dominei os números da segurança, agora estou tentando dominar os números do banco... -, é o 26º banco do Brasil em patrimônio líquido. Então, tem solidez, sem dúvida. Na reunião que tive com a direção do BNDES, há 15 dias, na conversa com os técnicos e com a área de risco do BNDES, deu para ver o reconhecimento deles à solidez do BRDE, e o respeito que o BRDE tem.
JC - O fato de o Estado do Rio Grande do Sul ter melhorado as suas contas públicas nos últimos anos, o ente Estado com melhores balanços orçamentários, isso ajuda também nesses aspectos?
Ranolfo - Ajuda, sem dúvida. O Estado é um dos acionistas, um dos proprietários da instituição, então, a melhora do Estado ajuda nessa questão da classificação.
JC - Como funciona quando alguém que contraiu um empréstimo repassado pelo BRDE, de repente, não pode pagar. Tem uma câmara de negociação?
Ranolfo - Tem várias instâncias no banco que tratam esta questão. A primeira é a ponta, a própria agência - um cliente atrasou 15 dias, 30 dias, renegocia ali, com cuidado, apoio jurídico, financeiro, contábil, econômico. Passou aquela faixa, vai num degrauzinho por instância até chegar na direção do banco. Então, procura-se sempre que possível solucionar esta questão, entender o momento. Por outro lado, o BRDE é como qualquer banco, sempre vai ter alguma coisa garantindo aquele negócio. Temos exemplos nas próprias cooperativas, imóveis hipotecados ao banco, está ali a garantia.
JC - E como está a inadimplência atualmente?
Ranolfo - Tem caído muito. A inadimplência do banco chegou a 4,5%, hoje, a taxa de inadimplência do BRDE fechou 2022 em 0,54%. Esse é um dos fatores para as boas avaliações das agências de risco. Então, é mínimo.
JC - Os problemas financeiros de grandes cooperativas deixam o banco exposto?
Ranolfo - Temos muito presente a importância do cooperativismo para o Estado e para as regiões. Primeiro ponto é esse. Aí entro na segunda parte que é o regramento existente. Não faço nada "porque o Ranolfo quer fazer". É tudo com regramento do Banco Central. Vamos com a vontade política e institucional de auxiliar o máximo possível, dentro de uma regra. Ontem (quarta-feira passada) tivemos reunião com a nova alta direção de uma dessas cooperativas, a área política do governo do Estado, a direção dos bancos ligados ao Estado, para tentar buscar uma solução, mas tudo dentro do regramento existente.
JC - Do lado positivo das cooperativas, o Anuário de Investimentos do RS publicado pelo Jornal do Comércio registra dezenas de investimentos delas e uma boa parte é com financiamento do BRDE. As cooperativas procuram o banco ou o BRDE tem uma ação focada nelas?
Ranolfo - É recíproco. A cooperativa procura o BRDE e o BRDE, presente, automaticamente tem esta relação com o cooperativismo.
JC - E no crédito ao agronegócio, há espaço para crescer?
Ranolfo - Tem espaço para crescer no agro. Muitos desses recursos internacionais que se busca direta ou indiretamente focam também a questão dos alimentos, uma preocupação mundial. Então, o agro sai contemplado sempre.
JC - Houve época em que o BRDE não financiava prefeituras, o que sempre foi um pleito dos municípios. Hoje existe esse crédito. As prefeituras são bons clientes, pagam em dia?
Ranolfo - Paga, prefeitura é um cliente muito fiel. O BRDE tem vários negócios com municípios, parcerias público-privadas na iluminação pública... O município, em regra, é bom pagador. E somos regrados pelo Banco Central, o município dá em garantia, muitas vezes, as cotas do Fundo de Participação de Municípios. Outra coisa: para o município contrair empréstimo, há a necessidade de lei aprovada na Câmara de Vereadores.
JC - Como é a repartição dos financiamentos tanto do BNDES quanto de agências do exterior? É dividido de forma igualitária entre os três estados?
Ranolfo - Isto está no estatuto do banco e tem regramento interno: tem que ser 33,33% para cada um, ou seja, é dividido de forma igualitária para os três estados. Eventualmente, tenho R$ 300 milhões e Santa Catarina gastou só R$ 50 milhões, talvez, Santa Catarina possa repassar nesse momento, eu gasto, e no ano que vem repasso para Santa Catarina... Não tem "ah, o Ranolfo vai puxar para o Rio Grande do Sul". Claro, vou ter um olhar especial, mas o banco é dos três estados da Região Sul.
JC - Quando o senhor assumir como presidente do BRDE, o que que muda? Ajuda o Rio Grande do Sul em algum aspecto?
Ranolfo - Ajuda, a presidência estando no Estado sempre vai ajudar. Isso é outro regramento existente para que um dos estados não venha a se sobrepor sobre os demais: é exatamente um terço do tempo para cada um dos estados ter a presidência do banco.
JC - Quando será a vez do Rio Grande do Sul?
Ranolfo - Na metade do ano que vem, em julho de 2024.
JC - O JC está produzindo o Mapa Econômico do Rio Grande do Sul, mostrando o desenvolvimento das regiões. Na sua avaliação, quais são as principais potencialidades para o crescimento do Estado?
Ranolfo - O agronegócio, temos que estar sempre investindo e reinventando esta área. Segundo, inovação e tecnologia. Outro, investimento na indústria, e o turismo, com potencial de gerar emprego e renda. 

Perfil

Ranolfo Vieira Júnior, 57 anos, nasceu em Esteio. Servidor público há mais de 30 anos, é delegado de Polícia desde 1998 e dirigiu o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) por seis anos. Entre 2011 e 2014, foi chefe de Polícia na gestão do governador Tarso Genro (PT), período em que criou o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa. Em 2014, concorreu à Assembleia Legislativa, ficando como suplente. Coordenou a bancada do PTB no Parlamento. Foi secretário de Segurança Pública e Cidadania de Canoas em 2017, na gestão de Luiz Carlos Busato (PTB). É formado em Direito, tem especialização em Gestão de Segurança na Sociedade Democrática e foi professor da Ulbra em Canoas e da Academia da Polícia Civil (Acadepol-RS). Eleito vice-governador em 2018, acumulou o cargo de secretário de Segurança Pública de 2019 a 2022. Filiou-se ao PSDB em 2021. Em 31 de março de 2022, após a renúncia de Eduardo Leite (PSDB), assumiu o cargo de governador do Rio Grande do Sul, função que exerceu por nove meses. Em junho deste ano, tornou-se diretor de Operações e vice-presidente do BRDE.