Deputada federal mais votada em Porto Alegre no pleito de 2022 e exercendo o sexto mandato na Câmara, Maria do Rosário (PT) está disposta a tentar novamente assumir a gestão da prefeitura da Capital. A petista vem articulando a sua possível indicação com o partido, a federação PT-PCdoB-PV e outras siglas de esquerda, mas ainda não há definição de quem será o candidato de oposição à atual administração, conduzida pelo prefeito Sebastião Melo (MDB).
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, a parlamentar fala da mobilização para a sua candidatura e os planos para a eleição municipal do ano que vem. Ela comenta ainda sobre eventuais nomes da esquerda, como o da ex-deputada Manuela d'Ávila, que teve a indicação do PCdoB como potencial candidata na disputa pelo comando do Paço Municipal.
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Jornal do Comércio - A senhora vem fazendo articulações para se candidatar à prefeitura de Porto Alegre?
Maria do Rosário - Eu estou conversando com o meu partido, o PT, e também com os outros partidos que compõem a federação (PT-PCdoB-PV). E conversando também com o PSOL, e eu vou procurar outros partidos, também, para verificar como é que nós vamos nos apresentar nas eleições. [...] O meu primeiro objetivo é contribuir para a unidade de um projeto de esquerda e popular, um projeto democrático para a cidade de Porto Alegre.
JC - Acredita em uma união da esquerda, com PSOL e outros partidos?
Rosário - Acredito. Estou trabalhando para isso. Eu quero deixar claro que o meu principal objetivo não é ser candidata, meu principal objetivo é contribuir para a unidade de um campo político de oposição à atual gestão de Porto Alegre e unir esse grupo, esse tanto de partidos decidirem juntos qual será a candidatura que nós iremos apresentar.
JC - Nas eleições do ano passado, o presidente Lula venceu em Porto Alegre. A senhora acredita que esta vitória pode ser um indicativo para a esquerda voltar a assumir a gestão da Capital?
Rosário - Sim, vejo. Desde que a gente tenha uma união entre nós - pois a vitória de Lula tem a ver com esta unidade -, com sentimento democrático da cidade, uma vontade de mudança. Porto Alegre está com vontade de mudança. Já tem muito tempo que a atual administração está aí, nós saímos da prefeitura em 2004. Então a atual gestão é um combinado de forças políticas que estão aí desde 2005, quando tomaram posse. Com isso eu acho que já há um desgaste, uma falta de projeto, de propostas, uma mesmice que precisa ser superada.
JC - A senhora comenta uma união de partidos de esquerda, mas o próprio presidente Lula foi eleito ao lado de um rival histórico, Geraldo Alckmin (ex-PSDB, hoje PSB), e vem governando com um ministério composto por políticos de vários partidos. Acredita que esta estratégia, de não compor uma chapa só de esquerda, pode ser aplicada em Porto Alegre?
Rosário - Nesse trabalho que nós realizamos, nós reunimos dez partidos. Então eu acho que o exemplo é muito positivo, porque a gente criou uma unidade com aqueles que tinham uma identidade programática maior, e o diálogo com os diferentes. Então, eu gosto da frase do Geraldo Alckmin, que ele repetiu muitas vezes, dizendo que 'é preciso unir os diferentes para enfrentar os antagônicos'. Então eu não tenho nenhuma dúvida e estou procurando o PDT, o PSD, vários outros partidos também. Mas creio que é uma responsabilidade nossa, também, trabalharmos programaticamente um ideal, um projeto para a cidade. O que não cabe ao nosso lado é quem promove o ódio, a desavença.
JC - No ano passado, o adversário de Lula era o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que tinha um alto índice de rejeição. Isso é algo que não se observa com seu possível adversário ao Executivo municipal, o prefeito Sebastião Melo. Qual a estratégia para agregar eleitores de centro e de direita à sua candidatura?
Rosário - Com um projeto de desenvolvimento para a cidade. Por exemplo, agora a gestão de Porto Alegre, o prefeito, está na contramão da reforma tributária que tá acontecendo no Brasil. A reforma tributária é excelente para o Brasil, vai desenvolver o País. Então eu sinto que a cidade não pode ficar ilhada. Estes setores ligados à produção, ao comércio, a serviços, podem contar que a gente tem um projeto de desenvolvimento pro Brasil e para a cidade. Mas assim, ainda estamos numa fase de diálogo com os partidos, e também com a cidade. Esta chapa que nós queremos construir é identificada com o projeto de Brasil do presidente Lula. Não é possível a gente ter uma cidade como Porto Alegre, com toda a história democrática dela, na contramão de projetos tão importantes como a reforma tributária por conta de disputa política. Então quando eu vi essa posição contrária à reforma tributária, e eu sou uma pessoa que estou trabalhando pela reforma tributária, eu vi como Porto Alegre tá ficando atrasada em termos de projeto de desenvolvimento para si e a sua participação no Brasil. Isso me incentivou a procurar o PT, procurar os partidos para dizer: "olha, é preciso ter uma representação forte, unida, todos unidos, em torno do que o presidente Lula propôs pro Brasil, agora pra cidade".
JC - Além do seu nome, outros políticos da esquerda vêm sendo cotados para a prefeitura, como Manuela d'Ávila e Olívio Dutra. Como vê essas projeções?
Rosário - Olívio Dutra é um nome 'hors-concours'. Se Olívio Dutra decida ser candidato, se ele puder ser candidato, eu acho que é um nome que representa a todos e todas. Então demais nomes, mesmo o nome da nossa ex-deputada, companheira Manuela, é maravilhoso. Eu vou citar Sofia Cavedon, que é um outro nome do PT, e o Pedro Ruas. Então tem quatro nomes em princípio apresentados: Sofia Cavedon e o meu nome do PT, Pedro Ruas do PSOL e Manuela d'Ávila do PCdoB. Estes quatro nomes estão colocados nesta frente. A minha proposta é que a gente construa um sistema para a escolha de um nome em debate com a cidade.
JC - A senhora foi candidata à prefeitura em 2008 e acabou perdendo para José Fogaça (MDB) no segundo turno. Como avalia o cenário para 2024?
Rosário - Eu acho que eu sou uma pessoa mais madura, entre 2008 e este momento. Eu fui eleita para vários mandatos parlamentares, mas também fui ministra de Estado e hoje tenho a oportunidade de ser integrante da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados. Então eu acho que sou uma parlamentar consolidada no trabalho no Brasil e posso contribuir para a cidade se colocar num patamar nacional muito mais forte, na busca do seu desenvolvimento. Essas conexões, essas possibilidades, isso tudo que eu recebi eu quero colocar a serviço da cidade. Mas eu vejo que também, além da maturidade, agora é a nossa de dizer o que tá bom e o que não tá. Porque o Fogaça dizia isso das administrações populares. Eu fui candidata a vice do Raul Pont e depois fui candidata a prefeita, e não segui sendo candidata nas eleições posteriores porque eu também quis me preparar.
JC - A senhora já foi eleita para deputada federal, estadual e vereadora de Porto Alegre, mas a candidatura para o Legislativo é diferente que para o Executivo. Para se eleger em Parlamento é necessário ter uma base forte, enquanto para o Executivo precisa ter 50% dos votos mais um. O que vê como estratégia para se eleger para a prefeitura?
Rosário - Dialogar muito, demonstrar seriedade e abertura em todos os setores. Essa é a cidade que já me elegeu tantas vezes, eu sou a deputada mais votada do PT na cidade há mais de 20 anos. Então eu percebo que eu tenho uma dívida com a cidade, e meu único objetivo é trabalhar por ela. Para fazer melhor tem que estar integrada com a cidade que vive, com quem organiza serviços de políticas sociais, com quem empreende. Então o meu objetivo, justamente, é uma cidade mais humana. É para isso que eu me vocaciono ao longo da vida e é isso que eu gostaria de fazer, e eu acho que é possível. Em qualquer circunstância, eu sendo candidata ou não, eu estou à disposição para ajudar a cidade.
JC - Qual sua análise da gestão Melo?
Rosário - Eu acho muito cedo para comentar, porque eu nem sou candidata ainda, eu estou me preparando. Mas quero dizer que a qualidade dos serviços públicos, a preservação do Dmae (Departamento Municipal de Água e Esgoto), da Carris, e a qualidade de serviços públicos de assistência, de saúde, educação e o transporte coletivo da cidade devem ter uma atenção especial. As nossas políticas sociais devem olhar para aqueles segmentos mais fragilizados da vida, o período da vida mais difícil, que é a infância e a velhice. Eu acho que estas duas pontas merecem do poder público uma atenção muito especial, e espero poder dialogar e construir programas para isso. O Lula transformou o Brasil e eu quero transformar Porto Alegre em uma cidade mais humana.