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Líder do governo prevê intensificação de debates sobre o IPE-Saúde
Frederico Antunes articulará aprovação de segunda grande pauta do governo Leite II
A próxima missão do líder do governo Eduardo Leite (PSDB) na Assembleia Legislativa, Frederico Antunes (PP), será articular a aprovação da reestruturação do IPE-Saúde. Ele, que jamais perdeu a votação de um projeto do Executivo na liderança do governador, acredita que os debates se intensificarão quando o projeto final para o plano de saúde dos servidores públicos estaduais for protocolado.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Antunes fala sobre a nova disposição das forças políticas do Rio Grande do Sul e o futuro ideológico do PP, que se dividiu nas eleições estaduais de 2022 e pode ter um novo presidente a partir de setembro.
Após sete mandatos na Assembleia, Antunes afirma que não voltará a concorrer como deputado estadual.
Jornal do Comércio - Finalizadas as negociações com partidos, a reestruturação do IPE tende a caminhar mais rápido?
Frederico Antunes - Fizemos reuniões com todos os partidos. O governador determinou que fosse feita uma compilação de todas as sugestões. Vamos então organizar o projeto.
JC - Como ficou o clima entre os deputados após as conversas?
Antunes - Todo mundo, ou a grande maioria, tem o entendimento de que tem, sim, que ser feita uma mudança no IPE. A partir de agora, temos que fazer os ajustes possíveis. O que não se pode fazer é enfraquecer o problema maior, que é a solução para o déficit.
JC - Debates se intensificarão quando o texto for para o Parlamento?
Antunes - Sim.
JC - Para além do IPE, a Assembleia hoje conta com oposição à esquerda e à direita ao governo Leite. Espera que isso traga dificuldades para o governo?
Antunes - Antes de falar sobre oposição ou situação, prefiro falar sobre disposição. Independentemente de lados, existe uma opção que tomamos com convicção que é estarmos disposto a dialogar. Tanto com oposição, como quem é do próprio governo. Porque pode ter alguém de partidos que estão agregados à base do governo, mas que não tendo disposição de dialogar, passa a ser um voto contrário. Assim como tem gente que não é da situação, que tem disposição de dialogar e que pode ser um voto a favor de uma proposta.
JC - O primeiro governo Leite chegou a ter 42 deputados na base. Nesta legislatura, pode ter dificuldade?
Antunes - O governo tinha 42 deputados e, às vezes, foram os votos de partidos da oposição que nos deram a vitória.
JC - Em qual situação?
Antunes - Nós fizemos a prorrogação das alíquotas de ICMS com os votos da oposição. Perdemos votos da situação e ganhamos votos da oposição. Porque havia disposição de compreender aquilo que era o melhor caminho. Ter convicção é um exercício que não é da noite para o dia. Para estar convicto, envolve uma análise profunda, amadurecer o que tem como princípio para estar em frente ao painel e apertar o sim ou não.
JC - Até agora, como líder do governo, o senhor não perdeu uma votação.
Antunes - Não perdemos votação porque nós tivemos capacidade coletiva, do Executivo e do Parlamento, de exaurir. Nós vamos à exaustão, senão plena, de esgotarmos a possibilidade de trocas de ideias. Em algum momento, tem que decidir. Isso é uma responsabilidade de quem assume a capacidade de governar. O governador dialoga, conversa muito, mas tem que governar. E governar é tomar decisões. Chegou o momento da apreciação, manda para o Parlamento. É uma decisão que se precisa tomar. É a disposição de mudar. E o que mais nos concentra para fazer mudanças é a saúde fiscal do Estado. Não há melhoria dos atendimentos na rede hospitalar, na rede de saúde, de infraestrutura hidroviária, ferroviária, rodoviária, se não tiver capacidade de investir, ou de atrair, com segurança, investimento. O Estado perdeu isso ao longo do tempo. Tenho sete mandatos. Estou há 30 e pouco anos com mandato sonhando em ser alguém que contribuísse para o meu Estado. Durante todo esse tempo, sonhei e não consegui realizar, porque o Estado que eu gostaria que fosse diferente não podia ser diferente. De dois governos para cá, começamos a praticar um processo de alteração. E isso nós não podemos perder. É um caminho que não tem volta. Se queremos o bem do Estado, não podemos retroceder.
JC - Para além do Parlamento, como observa essa nova disposição de forças no Rio Grande do Sul?
Antunes - Eu ainda não consegui ter certeza da disposição de forças. Alguns partidos talvez tenham isso mais claro, outros partidos ainda estão um pouco confusos.
JC - Como estão dispostos hoje os partidos?
Antunes - Eu falo do meu. Das outras famílias, peço que cada uma delas faça suas reflexões. Mas acho que as alterações partidárias dos últimos tempos trouxeram um agrupamento, não por afinidades ideológicas, mas momentâneas. Esses ajustes vão continuar até novamente as pessoas se identificarem com aquilo que definitivamente gostaria de ter como agremiação, que lhe dê suporte e cobertura para sua atividade política. Eu acho que tem partidos que são muito bem definidos do seu pensamento e tem outros que, nos últimos anos, ou tiveram um crescimento, ou minguaram por motivos que não são motivos de identidade ideológica, mas sim por uma briga de sigla.
JC - O governo e o governador têm falado menos sobre as escolas de tempo integral, uma das principais metas da gestão. Por quê?
Antunes - Tem uma série de ações que nós traçamos. Primeiro, a educação é prioridade. Dentro desse guarda-chuva chamado educação, recuperação das estruturas de escola, que já estamos montando um plano estratégico de pegar as demandas que estão represadas e colocando em dia, regionalizando, individualizando por escola, a capacidade de fazer aquilo que tem que ser feito, pegando as cento e poucas considerados mais é importantes pelo volume de obras, pelos valores e assim por diante. Também estamos chamando através de concurso público, que há muito tempo não fazíamos, 1.500 professores. Gostaríamos de estar chamando mais. Quem sabe nós possamos fazer isso daqui a um tempo para a frente. Estamos fazendo, que era uma outra necessidade, o que chamamos de chamada emergencial. E assim por diante. Tivemos no meio desse período, que não é longo, agora que se iniciou o ano letivo, tivemos um episódio que passou a ser a maior preocupação, que é a segurança das escolas.
JC - E como está essa questão hoje? Como o governo do Estado está se posicionando em relação a isso?
Antunes - O governo agiu rapidamente para colocar a sua força e sua capacidade de dar segurança, para auxiliar a minimizar o choque das pessoas com o acontecido. Houve um pacto com as redes de comunicação para evitar que esses fatos fossem criando notícias que passem a gerar interesses difusos. Foi uma combinação integrada da rede de proteção às pessoas, pública e privada. O Estado está fazendo a sua parte. Também é bom a gente salientar que entrou junto com a esteira da primeira atitude, de criar uma rede maior de proteção através das forças de segurança e através das formas de comunicação dos fatos ocorridos, entrou também a necessidade de chamarmos as famílias para também fazer uma reflexão sobre hábitos e costumes, sem querer intervir sobre o hábito de alguém, costume de alguém, mas uma reflexão. Se não se fizer isso, não se está combatendo a causa, está combatendo consequência e não vai ter fim. Foi um fato que nos tomou muito tempo. Tem nos tomado, por motivos óbvios. E a gente não está falando sobre outras questões que estão no plano de ação.
JC - O senhor comentou sobre partidos que têm posição ideológica mais definida, e outros menos. O PP gaúcho, hoje, é de centro ou de direita?
Antunes - É um partido de centro-direita. Alguns correligionários podem dizer que é um partido de direita. Eu me sinto de centro-direita, mas não vou tornar minha convicção plural.
JC - Já há discussão para a sucessão de Celso Bernardi, que deve permanecer na presidência do partido até setembro?
Antunes - Ele ainda tem uma energia capaz de ajudar, e algo que é fundamental: o tempero que só o tempo dá. O Celso se doou décadas para o partido. Tem direito de dizer que quer parar um pouco, de escolher onde quer ficar. Sobre a sucessão, acho que é muito difícil. Ele atingiu um patamar que qualquer partido político tem respeito pelo Celso. O partido vai ter eleição em setembro. As eleições dos municípios são em maio e os convencionais para setembro são escolhidos agora, que são os prefeitos e os delegados. São três votos por município. O Celso não falta uma reunião da bancada estadual. Ele atende da manhã à noite todos os municípios do Estado.
JC - Sem um presidente conciliador e um PP que se dividiu nas eleições, o rumo do partido estará em disputa?
Antunes - Eu acho que o partido é muito maior do que uma presidência do partido. Assim como o time de futebol é muito maior do que o presidente do time. O presidente é escolhido por uma maioria. Se tiver disputa, já tem nomes que estão se colocando à disposição para concorrer no lugar do Celso.
JC - Quais os nomes?
Antunes - Quem se colocou à disposição foi o Covatti (Filho), o prefeito (de Esteio) Leonardo Pascoal, o prefeito de Condor, Valdir Land, e o prefeito de Farroupilha, Fabiano Feltrin. Mas ainda não há inscrições. Todos que estão se colocando são ótimos nomes. O Celso manifestou que em setembro encerra o ciclo, mas pode também haver um apelo do partido para que o Celso fique mais um período, não está descartado.
JC - Após tantos mandatos na Assembleia, o senhor não pensa em alçar voos maiores?
Antunes - É certo que eu não concorro mais a deputado estadual na próxima eleição. Se eu vou concorrer a outra função, não posso dizer. Mas estadual não.
JC - Por quê?
Antunes - Tenho uma combinação com os meus companheiros de distrito. Meu prefeito de Uruguaiana, Ronnie Mello, um jovem que eu filiei no partido. Está na hora de ele ter a oportunidade de concorrer a deputado estadual. O prefeito de São Borja, Eduardo Bonotto, que foi presidente da Famurs, também é prefeito reeleito, jovem, da minha região, assim como outros vereadores. Meu papel é sustentar a cadeira da minha região. Já sustentei e acho que agora o meu grande desafio é passar para algum deles. Para onde eu vou, é sobre uma situação que vai ter que ser montada ao longo dos próximos quatro anos.
JC - Qual principal entrega que o senhor gostaria de fazer como líder do governo?
Antunes - Nós consolidarmos um Estado que tenha a capacidade de entregar, de ser próspero, de fazer inclusive que pessoas de fora tenham o interesse em vir para cá, em investir aqui. Com os gaúchos que saíram daqui, somos os maiores colonizadores desse País. Precisamos fazer uma ação de manutenção para quem tem capacidade ficar e ajudar no desenvolvimento interno. E com isso gerarmos uma capacidade maior de dignidade. Nossa força hoje em áreas como a da energia, por exemplo, pode nos elevar e nos levar a algo que vai ser extremamente importante para nós. Então a gente precisa de investimentos de pessoas de dentro e para isso o Estado tem que estar ajeitado, arrumado. O Estado tem um potencial imenso, só não pode deixar de se afastar dessa ideia de ter equilíbrio. Toda e qualquer alteração tributária que nós fizemos foi por incapacidade de sustentação do Estado. Havia um desarranjo. Aí nós fomos lá e 'metemos a mão' para poder pegar recurso, através de um aumento tributário daqueles que já estavam com dificuldades de sobrevivência. O Estado não pode mais voltar a fazer isso. O Estado tem que dar a possibilidade de quem gera capacidade de arrecadação, que são os investidores, micro, pequenos, médios e grandes empresários, MEIs, startups, ter interesse em fazer o que sabe fazer aqui no Rio Grande do Sul, nos ajudar, com essa força, a gerar oportunidades, gerar arrecadação, e o Estado saber usar essa arrecadação naquilo que é essencial. É isso que o Eduardo Leite fez. Nos gerou um caminho, através da sua forma de conduzir o Estado que temos que saber aproveitar. Sem partidarizar. Podendo mudar um pouquinho para lá, mas não mudar o cerne. Se soubermos aproveitar, o Estado vai continuar próspero e vai continuar crescendo.
Perfil
Agrônomo formado pela Pucrs, o deputado estadual Frederico Antunes iniciou sua carreira política em 1992, como o vereador mais votado de sua cidade, Uruguaiana. De 1996 a 1998, ocupou a diretoria de Fomento e Patrimônio do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul), cargo que deixou para assumir uma cadeira na Assembleia Legislativa, tornando-se o mais jovem deputado estadual da sua bancada. Em 2003, já em seu segundo mandato, assumiu a Secretaria Estadual de Obras Públicas e Saneamento. Em 2007, foi presidente da Assembleia Legislativa. A partir de 2019, quando iniciou seu sexto mandato consecutivo, ocupou por dois anos o cargo de presidente da Comissão do Mercosul e Assuntos Internacionais. Também assumiu a função de líder da bancada do PP e líder do governo de Eduardo Leite (PSDB)/Ranolfo Vieira Júnior (PSDB) no Parlamento. Durante três anos e meio, comandou as votações dos principais projetos de reformas do Estado, obtendo a marca de 100% de aprovação dos 242 projetos deliberados. Em 2022, foi eleito deputado estadual pela sétima vez e retomou a liderança do governo.