Na semana passada, o MDB reuniu o diretório estadual para dar a largada no planejamento para as eleições municipais de 2024. O presidente estadual do partido e prefeito de Rio Grande, Fábio Branco, acredita que a sigla não apenas consegue manter o número de 136 prefeituras, como também pode ganhar força em grandes cidades do Estado como Caxias do Sul, Canoas e Pelotas, além de manter o controle da capital, Porto Alegre.
Nas próximas eleições municipais, outra missão do MDB é deixar para trás de vez o racha que dividiu o partido nas últimas eleições estaduais. Branco ainda fala sobre o vice-governador Gabriel Souza e o prefeito da Capital, Sebastião Melo, como duas importantes lideranças para os emedebistas.
O prefeito também defende uma tomada definitiva de decisão sobre a termelétrica de Rio Grande, seja para uma resolução positiva ou negativa.
JC - Como o MDB está se preparando para as eleições?
Branco - Estamos nos organizando por partes. Da Executiva, estamos tirando nossas estratégias, de conversar com todos os setores, os coordenadores, prefeitos. Vamos nos dividir em 10 regiões no Estado com o objetivo de estruturar o partido com o foco nas eleições municipais. Hoje temos 136 prefeitos, 121 vices e 1.156 vereadores. O projeto é de minimamente manter, ou, se possível, ampliar.
JC - O foco vai ser manter a ocupação de cargos nas maiores cidades?
Branco - O foco do partido nessas maiores cidades é não só manter, mas em algumas delas, que nós temos potencial candidatos, poder participar das eleições nos municípios com mais de 100 mil habitantes. Ter um foco estratégico nestas cidades.
JC - Quais?
Branco - Caxias do Sul, Canoas, Pelotas. São grandes cidades. Em algumas nós temos um potencial maior, outras não têm tanto potencial, mas estrategicamente podemos estar atentos aos grandes municípios também. Principalmente Porto Alegre, que é uma referência, com o nosso o nosso prefeito (Sebastião) Melo tem realmente feito um belo trabalho. É uma grande referência para nós. O objetivo é não só manter a Capital, mas ter o exemplo do Melo em outras prefeituras com o modelo de gestão.
JC - O MDB governa o Rio Grande do Sul, com o vice-governador. Como esse momento pode influenciar nas eleições municipais, principalmente em relação a essa parceria que vem se construindo com o PSDB?
Branco - Nossa relação sempre foi boa, respeitando os seus espaços, respeitando a condição do que é o governo e o que são os partidos e, em cada eleição, a cada cidade, poder fazer os encaminhamentos. Mas, claro, temos que ter estratégia. Esse papel de mobilização e estratégico caberá ao (ex) senador (José) Fogaça, que vai ser o nosso responsável pelo mapeamento dos municípios, com os coordenadores regionais, que vão nos apontar quais são aqueles municípios que temos nomes que despontam mais, que tem uma viabilidade eleitoral melhor.
JC - Discute-se possibilidade de uma federação entre MDB e PSDB. O que o senhor pensa sobre esse tema?
Branco - Nós fizemos uma reunião há cerca de 20 dias, até para desencadear todo esse processo que nós faríamos no interior e sabíamos que teriam uma pergunta sobre isso. Hoje, essa discussão a nível nacional não está aquecida, não é prioridade. Para essa eleição, acredita-se que não vai haver essa evolução. Essa é a mensagem que o presidente Baleia Rossi nos passou há cerca de um mês. Discutir uma federação a nível nacional é muito mais complexo quando tem uma disputa municipal.
JC - O vice-governador Gabriel Souza seria, hoje, a grande aposta do MDB para o futuro do partido?
Branco - Com certeza, o Gabriel é um dos nossos grandes líderes. O MDB tem uma vantagem: temos vários grandes líderes. Nós temos Sartori, temos Rigotto, o Simon, o Melo, entre outros. Claro que o Gabriel está despontando, é o vice-governador, realmente é muito talentoso, muito capaz. Para nós, é um orgulho termos, nos quadros, tantas boas lideranças.
JC - A última eleição estadual deixou um racha no partido. Essa divisão persiste?
Branco - Não. A cada dia está diminuindo. Na política, nós temos que respeitar a decisão das pessoas. Eu sempre disse que enquanto eu estivesse presidente nós vamos respeitar. O MDB tem essa marca do respeito ao direito das pessoas, desde que não passe dos limites. Essa discussão foi muito aquecida e hoje está muito mais apaziguada. Temos trabalhado e demonstrado que já faz parte do passado, com os acertos e com os erros. Não vamos entrar em mérito ou julgamento. O que se vê hoje é que a decisão que o MDB fez foi acertada, por termos o Gabriel como vice-governador. Agora, não é por isso também que nós vamos sair dizendo que somos donos da verdade. Hoje, vemos um partido muito mais tranquilo, todo mundo conversando, se respeitando e aparando essas arestas. O tempo vai normalizar.
JC - Ainda assim, há parlamentar do MDB que não faz parte da base, mesmo o MDB sendo o governo.
Branco - Mas isso sempre existiu, em outros tempos, outras características. Tem pessoas que não querem participar do governo por não concordar. Faz parte do MDB. Mas não é uma decisão nacional que vai fazer essa divisão estadual. Nosso objetivo de fortalecimento do partido que é no núcleo, que são os municípios.
JC - Como o MDB gaúcho enxerga o Melo hoje? Ele é perfeito da Capital, construiu força política com o Parlamento e já recebe importantes apoios à reeleição. Também é aposta do MDB para o futuro?
Branco - Ele é uma grande liderança do partido e tem se consolidado com muita competência, na gestão dele, na maneira como faz política. É uma liderança consolidada. Como eu disse, o MDB tem várias lideranças.
JC - Ele é considerado pelo partido a ser candidato ao governo do Estado?
Branco - Ele é uma liderança do partido como todos os nomes. Por isso que eu digo, sou feliz por ter no time tantos craques que a gente pode usar em qualquer função.
JC - Então sim?
Branco - Eu não sou o dono do partido. Fico feliz de ser presidente de um partido que tem essa liderança. Mas é um direito, da própria condição do desejo pessoal. Agora, precisa ver o momento certo. Mas, realmente, é uma grande liderança e tem demonstrado isso na prática. Isso que é o mais importante. Muita gente vê lideranças que ficam muito na teoria, ou se apresentando como tal e que, na hora da prática, a gente não vê. O Melo tem sido realmente uma grande liderança, orgulho para nós do MDB.
JC - O senhor pretende concorrer à reeleição em Rio Grande?
Branco - Sim, sou pré-candidato.
JC - O senhor foi condenado em março por improbidade administrativa. Como está esse processo?
Branco - Estou recorrendo, como é meu direito. Foi uma condenação absurda. Tenho muita tranquilidade que vou reverter essa decisão.
JC - Sobre Rio Grande, o senhor teve reunião com o governador Eduardo Leite (PSDB) sobre a termelétrica. Como está essa questão?
Fábio Branco - Estamos discutindo estratégias. Estivemos há cerca de 20 dias com o governador e agora uma avaliação dos próximos passos junto ao governo federal, à Aneel e ao Ministério de Minas e energia.
JC - Quais seriam os próximos passos?
Branco - Agora tem que ter o retorno deles. Foi apresentada uma alternativa, que seria a troca do contrato, do modelo contratual de um leilão, que foi feito, para o modelo de contrato de leilão de reserva, que seria, pelo nosso entendimento, melhor nesse momento e resolveria o problema da termelétrica. Seria a energia de reserva mais barata do Brasil e atenderia a condição do Estado de ter gás, que a térmica possibilitaria.
JC - Acha que dessa vez consegue destravar o processo?
Branco - Tem que ter a tomada de decisão. Positivo ou negativo, temos que tocar para a frente. Acreditamos que seja positivo por todos os argumentos e todas as condições que a gente tem levado, mas também, se tiver que tomar decisão, tomar. Até porque tem que ter novos projetos. Se for inviável ou indeferido, vamos tocar, há outras iniciativas. Tem que ter a decisão.
JC - O Porto de Rio Grande não vem operando em sua capacidade máxima por questões estruturais do Estado.
Branco - Por ser um porto com muito movimento de grãos. Estamos no terceiro ano de seca e isso é uma consequência. Mas o Porto de Rio Grande, neste momento, vem batendo recordes de movimentações em geral, vem realmente atendendo. O que estamos trabalhando é para que a sua infraestrutura possa ser melhorada e, a partir da logística, ter realmente um diferencial para atração de novas cargas, não só do Rio Grande do Sul, pois algumas cargas estão evadindo para Santa Catarina e até mesmo Argentina e Uruguai. A vocação do Porto do Rio Grande é ser um hub port. É o único porto marítimo, oceânico, e tem essa característica que poucos portos do mundo têm, de ter um belo calado, águas calmas, e um distrito industrial praticamente dentro do porto. O conceito que viemos trabalhando é para que a gente possa movimentar mais cargas a partir de uma indústria mais forte no Rio Grande do Sul e utilizar esse conceito porto-indústria para atrair novos investimentos para o Estado e, consequentemente, ter uma movimentação maior, principalmente de produtos manufaturados, que é o que agrega mais valor.
JC - A logística é um dos gargalos que travam o desenvolvimento da Região Sul. Vislumbra alguma saída?
Branco - É fundamental rediscutir o contrato. Nós pagamos um preço por ser um dos primeiros pedágios e ter um prazo alongado. Todos os outros contratos no Rio Grande do Sul já passaram por um novo contrato ou por um novo processo licitatório. Infelizmente foi o único contrato que foi prorrogado no Brasil e nós estamos pagando esse preço. Mas não é só isso, tem outras coisas que precisam ser revistas. Usar melhor o sistema hidroviário e ferroviário, integrar esses modais para que essas cargas possam chegar a um preço melhor. Precisamos rever o Plano Estadual de Logística de Transportes (Pelt) para que possamos trazer novas modelagens, mais atualizadas e melhor preparadas para o mercado. Se nós pudermos utilizar melhor a navegação pela Lagoa, ou ter mais investimentos em ferrovia, que não temos, e que possamos atender o Estado principalmente nesse eixo da produção dos grãos. Se conseguirmos trazer mais cargas para a via férrea, não tenho dúvidas de que vamos poder ampliar a capacidade de atendimento e movimentação do Porto de Rio Grande, que ainda tem capacidade de investimentos, principalmente a partir da sua necessidade de uma melhor produtividade.
JC - Modais alternativos ao rodoviário sempre aparecem na discussão sobre logística, mas acaba não se avançando tanto nessa questão.
Branco - Mas acho que agora vai mudar. Primeiro, tem um case, do porto de Santa Clara, no Polo Petroquímico, que omeçou a movimentar e tem e melhorado muito a logística de contêineres para o Porto de Rio Grande. Antigamente, iam de caminhão. Hoje vão embarcados. Nós também temos um projeto da CMPC que traz matéria-prima para Guaíba e devolve em celulose para o Porto de Rio Grande, também tudo por navegação do interior, pela Lagoa dos Patos. O Estado agora fará um aporte de R$ 50 milhões para a dragagem da lagoa. Nós ficamos sempre no "ovo e a galinha". Não tem movimento de cargas porque não tem dragagem. Não tem dragagem porque não tem carga. Então o Estado aportará recursos em alguns locais que têm necessidade de uma dragagem maior para ter operação 24 horas pela Lagoa dos Patos. Tem o governo federal lançando a iniciativa da dragagem da Lagoa Mirim, trazendo ou levando matéria-prima para o Uruguai. Hoje, o Porto do Rio Grande tem essa característica pela infraestrutura que tem. Mas se, daqui a pouco, um outro porto tiver capacidade, nós vamos realmente começar a ter preocupações.
Perfil
Terceira vez prefeito de sua cidade natal, Fábio de Oliveira Branco nasceu em 26 de setembro de 1971, em Rio Grande. Foi eleito prefeito pela primeira vez em 2000, então com 29 anos. Voltou à prefeitura após vencer as eleições municipais de 2008. No governo do Estado, foi secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (2015-2017) e secretário-chefe da Casa Civil (2017-2018) durante a gestão de José Ivo Sartori (2015-2018). Foi deputado estadual por dois mandatos (2015-2020), período em que foi líder da Bancada do MDB na Assembleia Legislativa e presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Parlamento Gaúcho. Em 2021, voltou à prefeitura de Rio Grande, após ser eleito com quase 44 mil votos. Desde fevereiro de 2022, é presidente estadual do MDB gaúcho.