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Entrevista Especial

- Publicada em 16 de Abril de 2023 às 18:43

IEE busca fomentar o empreendedorismo no Estado

"Um princípio básico para uma reforma tributária é a simplificação", avalia Victoria Jardim, presidente do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)

"Um princípio básico para uma reforma tributária é a simplificação", avalia Victoria Jardim, presidente do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)


TÂNIA MEINERZ/JC
O Instituto de Estudos Empresariais (IEE) utiliza o ecossistema empresarial para fomentar ideias, princípios e valores, e principalmente, incentivar o empreendedorismo no Rio Grande do Sul. A avaliação é da presidente do IEE, Victoria Jardim, responsável pela organização da 36ª edição do Fórum da Liberdade 2023, que este ano discutiu o tema "Alice no País das Liberdades".
O Instituto de Estudos Empresariais (IEE) utiliza o ecossistema empresarial para fomentar ideias, princípios e valores, e principalmente, incentivar o empreendedorismo no Rio Grande do Sul. A avaliação é da presidente do IEE, Victoria Jardim, responsável pela organização da 36ª edição do Fórum da Liberdade 2023, que este ano discutiu o tema "Alice no País das Liberdades".
Em final de gestão, a presidente afirma que o instituto trata de diversas liberdades como a econômica, a de expressão e a religiosa. "A missão do instituto é formar lideranças empresariais. E ao longo da minha gestão, discutimos política, economia, filosofia e empreendedorismo", acrescentou.

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Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, a presidente do IEE destacou a importância do Fórum da Liberdade como um espaço de grande discussões de ideias e fez um balanço da sua gestão que termina em maio deste ano.
Jornal do Comércio - Como a senhora iniciou a sua participação no IEE?
Victoria Pinto da Silva Jardim - Conheci o IEE através do Fórum da Liberdade há 10 anos. Na época, eu estudava relações internacionais na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), e o pessoal passou na sala distribuindo os ingressos, só que tinha que se cadastrar. Quando fui me cadastrar para ir no fórum também apareceu uma sugestão de um evento que acontecia no final de semana antes do fórum, que era a conferência dos Estudantes Pela Liberdade (EPL). Minha trajetória iniciou quando fui em uma conferência do EPL na ESPM para 100 pessoas. Na ESPM, conheci um grupo de jovens que depois veio a fundar comigo o Instituto Atlantis. Tinha 18 anos na época, fui no Fórum da Liberdade e me apaixonei pelas ideias. Fui atrás de quem organizava, vi que era o IEE, tentei entender se dava para participar, me disseram que não porque teria que ter 21 anos. Fiquei com aquilo na cabeça e me integrei em outros institutos e acabou que quando eu me formei na faculdade quatro anos mais tarde - já tinha trocado de curso para Engenharia de Produção, então finalmente eu entrei no IEE. Desde que entrei no primeiro ano eu competi para tentar ganhar o ranking e fiquei em terceiro lugar. No segundo ano, fui coordenadora de grupo, ganhei o ranking de grupos também. Depois entrei na diretoria de Formação do IEE. Até que virei presidente.
JC - Que propósitos foram discutidos na sua gestão?
Victoria - A gestão já está quase acabando, termina em maio. Logo que a gente assumiu em abril de 2022 estava estourando a guerra da Rússia com a Ucrânia, então a gente fez uma série de eventos relacionados ao conflito. A gente sempre intercala esses focos com eventos mais ligados ao empreendedorismo. Recebemos uma série de empreendedores relevantes também. O primeiro evento da minha gestão, inclusive, foi muito legal, foi no dia do meu aniversário e foi com o empresário Clóvis Tramontina. Depois do tema da guerra na Ucrânia, a gente foi para uma temática de como tornar uma sociedade iliberal em uma sociedade liberal. Então essas foram as duas principais temáticas norteadoras do que a gente chama de arco da formação. A gente promoveu eventos para discutir política, economia, filosofia, empreendedorismo. E intercalando sempre com eventos com grandes empresários ou figuras relevantes da sociedade.
JC - Pensa em concorrer a algum cargo público? É filiada a algum partido político?
Victoria - Sou filiada ao Partido Novo, mas não penso em concorrer a nada. Apesar da minha família ter uma tradição política. O meu avô foi político durante muitos anos - o ex-deputado federal do PDT, Aldo Pinto.
JC - Por que não pretende concorrer?
Victoria - Eu sempre fui muito mais da área empresarial, executiva, trabalho com tecnologia. Não é que eu não goste, tanto que eu me envolvo, só acho que não é pra mim.
JC - Chegou a receber algum convite?
Victoria - Sempre que chegam as eleições perguntam, nunca nem fui adiante com o convite. Não acredito que vá ser o caso futuramente, mas também "Nunca diga nunca".
JC - Que medidas a senhora acha que o Rio Grande do Sul precisa adotar para atrair novos investimentos?
Victoria - A Lei de Liberdade Econômica é um pilar relevante. Passou em 2019, e cada estado pode modular ela conforme o seu desejo. Porto Alegre especificamente tem feito um ótimo trabalho com relação a isso. A questão do alvará fez aumentar em muito a criação de pequenos e médios negócios. Então, acho que esse é um ponto positivo e que pode vir a atrair investimentos dependendo de como modular a lei para grandes investimentos. Outra coisa que eu acho que foi feita que é muito legal aqui no Estado foi o South Summit. Os números do evento em relação a atração de investimento e geração de novos negócios é bem impressionante. Então acho que é uma combinação de fatores, mas acho que agora a gente com a Lei da Liberdade Econômica tem um framework legal para trabalhar.
JC - O governador Eduardo Leite (PSDB) falou sobre a criação de uma agência de desenvolvimento. Como é que o IEE pode ajudar o Estado nesse processo?
Victoria - A gente não costuma se envolver diretamente com questões governamentais. A gente tenta utilizar o ecossistema empresarial para fomentar as nossas ideias, princípios e valores. O IEE é um instituto cuja missão é formar lideranças empresariais. A gente acaba tendo um efeito colateral de algumas pessoas se interessando e entrando na política, mas esse não é o foco das nossas atividades.
 

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JC - Qual a reforma tributária ideal para o IEE?
Victoria - Eu não sei se existe uma resposta certa para o IEE até porque existem diversas discussões entre liberais. Existe um consenso de que obviamente tem que ser feito. A taxa tributária hoje no Brasil é altíssima. Tem alguns conceitos que a gente discorda, como a taxação de grandes fortunas. Mas como fazer a reforma em si, não existe um consenso. O que sabemos é que a reforma tributária precisa ser feita.
JC - Além da taxação de grandes fortunas tem algum outro ponto que a senhora não concorda?
Victoria - Eu não concordava muito com a volta do CPMF, mas acho que um princípio básico para uma reforma é a simplificação. Essa é a palavra-chave para uma reforma tributária no Brasil: simplificação. A gente precisa de uma simplificação com relação a impostos, tanto os impostos diretos quanto os indiretos. Principalmente, os impostos indiretos.
JC - Uma das reclamações dos empresários é com a questão da burocracia que atrapalha os investimentos da iniciativa privada. Como mudar esse quadro?
Victoria - É a pergunta de um milhão de dólares. Acho que uma das maiores críticas é o inchaço do Estado. Porque ele é muito inflado, a burocracia quando foi feita, foi feita com uma intenção de organizar alguns processos e estabelecer alguns controles,mas foi tomando proporções colossais. Hoje é algo que sim, atrapalha muito o dia a dia do empresário. Mas, como eu disse, acho que tem algumas coisas que estão sendo feitas que já estão sendo de grande ajuda, exemplo a questão do alvará simplificado. Antes eram 300 dias para abrir uma empresa. Hoje, dependendo do tipo de negócio você consegue abrir em um dia. Porto Alegre, mediante uma gestão mais liberal saiu da 20ª posição do ambiente de negócio para ser a primeira colocada no País. A gente precisa de reformas estruturais, mas a adoção de pequenas medidas pontuais, principalmente nos municípios, no que tange à responsabilidade deles, pode fazer muita diferença.
JC - Qual a expectativa do IEE com a terceira gestão do presidente Lula?
Victoria - Tivemos alguns retrocessos com relação a direitos fundamentais. Como o caso propriedade privada, com diversas invasões de terra. A gente teve a questão do saneamento básico que ele está tentando revogar com o fim das Parcerias público-privadas. Esse conflito entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central é maléfico para economia do País. Não vamos a lugar nenhum dessa forma. O governo Lula insiste na revogação do teto de gastos, o que seria péssimo também. Então são alguns retrocessos que eu enxergo com muitos maus olhos e acho que se vingarem terão resultados negativos para o Brasil.
JC - Qual a importância da realização do Fórum para o IEE?
Victoria - O Fórum da Liberdade é um dos espaços de debate mais incríveis que conheço. Justamente por ser plural e trazer gente para discutir diversos assuntos em nível nacional e internacional. Já tivemos cinco prêmios Nobel, alguns chefes de estado conosco e diversos empresários relevantes e intelectuais. O Fórum é um espaço realmente para abrir a cabeça de muita gente. Através do fórum também são feitas determinadas discussões que possam colher frutos no futuro.
JC - Que matrizes ideológicas norteiam o IEE?
Victoria - Dentro do nosso ciclo de formação nós fazemos uma formação de lideranças empresariais, mas sempre comprometidas com alguns princípios que são: respeito ao estado de direito, ao livre mercado, liberdades individuais e a gente entende sim que o estudo de determinadas obras é fundamental para que a gente consiga fazer essa defesa da maneira correta. O ciclo de formação do IEE é dividido em quatro grandes áreas de discussão que são política, filosofia, economia e empreendedorismo. A gente tem uma matriz com essas quatro vertentes e mais uma categoria de clássicos. Onde existem livros indicados para cada uma das fases que são recomendados para ler dentro dessas áreas de conhecimento. Também tem uma matriz de conteúdos digitais, porque a gente entende que é relevante também e tem muita coisa boa na internet.
JC - Como foi feita a escolha do nome "Alice no País das Liberdades" para a 36ª edição do Fórum da Liberdade?
Victoria - É um trocadilho com o livro Alice no País das Maravilhas. Eu tenho um apreço pelos clássicos. A construção do título é uma construção com a diretoria, embora eu tenha sugerido. A gente queria uma temática mais lúdica e em uma das discussões veio a ideia. Queríamos uma aproximação com o público para despertar a curiosidade das pessoas. Algo assim funciona muito bem. E todo mundo, ou quase todo mundo, já teve contato com a obra ou o filme Alice no País das Maravilhas - que gera uma empatia. Além disso, a obra permite fazer uma série de conexões com a vida real. É uma crítica forte ao período Vitoriano e tece diversas críticas, por exemplo, ao tamanho do Estado na época. A Rainha de Copas é um questionamento quanto à questão hierárquica autocrática que se vivia na época. Tem uma passagem muito interessante que é uma conversa sobre o estudo - é uma crítica forte à educação. A obra tem diversas analogias que são passíveis de serem feitas, e é isso que a gente fez no Fórum da Liberdade.
 

Perfil

Victoria Pinto da Silva Jardim tem 28 anos e é natural de Porto Alegre. Ela é a terceira mulher a presidir o Instituto de Estudos Empresariais (IEE). Bacharel em Engenharia de Produção, tem pós-graduação em Administração, Finanças e Geração de Valor pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Cursou o Leadership For Young Leaders, na International Academy of Leadership, na Alemanha, e o Project Management Program, pela Universidade de Ohio, nos Estados Unidos. Possui certificação de Scrum Master pela Scrum Alliance e atualmente trabalha como Project Manager em uma desenvolvedora de softwares. Victoria Jardim foi cofundadora e presidente do Instituto Atlantos e Vice-Presidente do Instituto Liberdade. No IEE, recebeu o prêmio Friedrich Hayek de melhor colocada no Ranking de Formação nas gestões 2018/2019 e 2020/2021 e foi Diretora de Formação em 2021/2022. Assumiu a gestão 2022/2023 do IEE fundado em Porto Alegre em 1984. Filiada ao Novo, Victoria é neta do ex-deputado federal Aldo Pinto, um quadro histórico do PDT.