Oposição ao governo Leite trabalha para abrir CPI da Corsan

Deputados questionam venda da estatal de saneamento por lance único

Por Diego Nuñez

Companhia foi arrematada pelo Consórcio Aegea por R$ 4,151 bilhões
Ganha ritmo a movimentação para a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul para investigar a privatização da Companhia Riograndense de Saneamento (Crosan). A iniciativa é das bancadas de oposição ao governo Eduardo Leite (PSDB), que tentam alcançar as 19 assinaturas necessárias para instalar a comissão.
O requerimento para a abertura da CPI já foi protocolado na Casa pelo deputado Jeferson Fernandes (PT) e é o primeiro passo para abrir a comissão investigativa. O protocolo foi realizado após uma reunião com o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgoto do Estado do Rio Grande do Sul (Sindiágua-RS), que fez a entrega de um documento de 80 páginas aos deputado solicitando a abertura do processo.
O Sindiágua também entrou com uma ação popular na Justiça pedindo a anulação do processo de venda da companhia ou do leilão realizado no dia 20 de dezembro do ano passado, na Bolsa de Valores (B3), em São Paulo.
À frente do movimento, os partidos à esquerda da bancada de oposição (PT, PSOL e PCdoB) já somam 14 das 19 assinaturas necessárias para se abrir uma CPI no Parlamento gaúcho.
O fiel da balança neste caso pode ser o PL. O partido é identificado no Legislativo como uma “oposição à direita” ao governo tucano. A sigla conta com cinco deputados estaduais - o número exato de assinaturas necessárias para a Mesa Diretora efetuar a instalação da comissão e dar condições para o início do trabalho da CPI, que teria previsão de duração de 120 dias.
“Há uma sensibilização da bancada do PL. Eles são a favor da privatização, mas não com a forma que está sendo feita a venda. Há ainda outros parlamentares que estão nos procurando - estão estudando se nos apoiam ou não. A expectativa é de alcançarmos o número mínimo de assinaturas nos próximos dias”, afirmou Fernandes.
Rivais nas eleições estaduais que garantiram a reeleição inédita de Leite no Estado, a venda da Corsan foi um dos pontos de divergência das candidaturas de PSDB e PL na disputa pelo governo do Estado.
Mesmo favorável ideologicamente à prática das privatizações, a venda da Corsan é alvo de críticas do PL gaúcho ao governo Leite/Ranolfo Vieira Júnior (PSDB). Em recente entrevista exclusiva ao Jornal do Comércio, o líder da bancada da sigla na Assembleia, Rodrigo Lorenzoni, criticou a forma com que foi conduzido o processo.
“"Em pautas de privatizações e concessões pode haver um enfrentamento, não no conceito, mas na formatação. A Corsan vale no mínimo R$ 6 bilhões. O patrimônio da Corsan é de R$ 9 bilhões. A Corsan foi vendida por R$ 4 bilhões. Entendemos que a forma de universalizar o acesso a água e esgoto é com a busca do dinheiro privado, mas não dá para ser a qualquer custo, só para constar no portfólio do governador que ele privatizou", criticou Rodrigo.
No leilão realizado em 20 de dezembro, a companhia foi arrematada em lance único pelo Consórcio Aegea pelo valor de R$ 4,151 bilhões, com ágio de 1,15% em relação ao valor mínimo estipulado no edital. Atualmente, liminares conseguidas pelo Sindiágua na Justiça impedem a assinatura do contrato que concretizaria a venda.