Eduardo Leite (PSDB) inicia seu segundo mandato como governador do Rio Grande do Sul com maioria na Assembleia Legislativa. Atraindo nove partidos com representação no Parlamento antes, durante e após o período eleitoral, a base aliada do governo no Legislativo conta com 30 deputados estaduais. O grupo de apoiadores é formado por deputados de PSDB, MDB, PDT, Podemos, PP, PSB, PSD, PTB e União Brasil - partidos que contam com cargos no secretariado e segundo e terceiro escalões do Palácio Piratini.
Os 30 parlamentares garantem uma maioria confortável na Assembleia, já que o Partalmento gaúcho é formado por 55 deputados, o que permite a aprovação de projetos de lei ordinários de interesse do governo.
A oposição conta com 19 cadeiras, dos partidos de esquerda PT, PSOL e PCdoB, além do PL, que fará uma oposição de direita. Apenas dois partidos se colocam como independentes: Novo (um deputado) e Republicanos (cinco deputados).
Nesta semana, Leite fez a primeira reunião com sua base aliada, parte dos deputados que se posicionam como independentes e os secretários de Estado. Durante o café da manhã realizado na terça-feira, o governador procurou ressaltar a importância do diálogo entre Executivo e aliados.
"Se puxarmos cada um para uma direção, as forças se anulam e nós não saímos do lugar. Precisamos coordenar as divergências, sem criar obstáculos uns aos outros. A política envolve espaços de poder, mas se nós cobrarmos apenas nas disputas pelas aspirações de cada um, vamos ficar sem sair do lugar", afirmou no início da reunião - único momento aberto à imprensa.
Já a oposição viverá situação inédita no Parlamento gaúcho. Por décadas no Estado, centro e direita se uniram, seja na composição de um governo, seja quando o PT conquistava o Executivo, momentos em que ficavam na oposição.
Nesta legislatura, o PL se juntará a PT, PSOL e PCdoB na bancada de oposição. "O Parlamento permite que conversemos com todo mundo, ele é a essência do diálogo e do debate. Dependendo dos interesses legítimos, sejam programáticos, sejam de oposição ao governo, nós poderemos estar juntos. O PL, por exemplo, pode concordar com uma investigação em relação à privatização da Corsan (Companhia Riograndense de Saneamento). Mesmo que sejam favoráveis à privatização, podem apontar irregularidades. E nós, contra a privatização, apontamos irregularidades também", analisou Luiz Fernando Mainardi, líder da bancada do PT, a maior da oposição com 11 deputados.
De fato, a Corsan pode ser uma tema que una PL e PT no Rio Grande do Sul. "Em pautas de privatizações e concessões pode haver um enfrentamento, não no conceito, mas na formatação. A Corsan vale no mínimo R$ 6 bilhões. O patrimônio da Corsan é de R$ 9 bilhões. A Corsan foi vendida por R$ 4 bilhões. Entendemos que a forma de universalizar o acesso a água e esgoto é com a busca do dinheiro privado, mas não dá para ser a qualquer custo, só para constar no portfólio do governador que ele privatizou", criticou Rodrigo Lorenzoni, líder da bancada do PL, em recente entrevista ao Jornal do Comércio.
O debate envolvendo a privatização da Corsan mostra que direita e esquerda podem caminhar juntos na Assembleia em oposição a um governo mais posicionado ao centro.
Os independentes de Novo e Republicanos são partidos e deputados identificados com o espectro de direita, e podem pesar contra ou a favor do governo, a depender das pautas. O Novo tem como princípio a lógica da redução do Estado, e poderia, por exemplo, votar contra eventuais reajustes acima da inflação para servidores públicos. Já o Republicanos é um partido com larga identificação com os evangélicos, podendo mostrar divergências nas pautas de costumes.