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Porto Alegre, sábado, 12 de abril de 2025.

Eleições 2022

- Publicada em 19 de Dezembro de 2022 às 00:35

Victorino promete ser independente durante governo Leite

Comunicador estreia na Assembleia Legislativa em 2023

Comunicador estreia na Assembleia Legislativa em 2023


/fotos: ISABELLE RIEGER/JC
Deputado estadual eleito com mais votos no Rio Grande do Sul, o jornalista, radialista e comentarista Gustavo Victorino (Republicanos) estreia na Assembleia Legislativa em 2023. Disputou sua primeira eleição em outubro, quando conquistou mais de 112 mil votos.
Deputado estadual eleito com mais votos no Rio Grande do Sul, o jornalista, radialista e comentarista Gustavo Victorino (Republicanos) estreia na Assembleia Legislativa em 2023. Disputou sua primeira eleição em outubro, quando conquistou mais de 112 mil votos.
Victorino acredita que, além da exposição nos meios de comunicação, o que lhe garantiu uma base eleitoral foi o fato de, em sua carreira de comunicador, ter expressado opiniões fortes. Sustenta que posicionamentos claros sobre temas polêmicos conferiram-lhe credibilidade para converter telespectadores e ouvintes em eleitores. "As pessoas não querem mais a chamada opinião em cima do muro. Em temas polêmicos, tem que se posicionar, ou você é contra ou você é a favor."
Ao projetar sua atuação no Parlamento gaúcho, o futuro parlamentar do Republicanos afirma que se posicionará como independente em relação ao segundo governo Eduardo Leite (PSDB). Entre as bandeiras que pretende representar, destaca a defesa do microempreendedorismo, do turismo no Rio Grande do Sul, além do Instituto de Previdência do Estado (IPE).
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Victorino ainda do plano nacional. Ele espera que o presidente Jair Bolsonaro (PL), ao deixar o cargo em 1º de janeiro de 2023, passe a atuar como líder da oposição ao novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Jornal do Comércio - O que o motivou a entrar para a política?
Gustavo Victorino - Foi o desafio. Nunca tinha me passado pela cabeça. Tenho um grande amigo, o Tenente Coronel Zucco (Republicanos), que comentou comigo: "Olha por que que você não tenta? Vamos tentar para você conhecer". E eu gosto de desafio. Aí me filiei ao Republicanos e dois dias antes do registro das candidaturas, eu disse "vou tentar". Foi um misto de desafio com curiosidade, de conhecer o outro lado do balcão. Trabalhei muito tempo com jornalismo político. Eu sempre fui pedra, agora vamos ver como é ser vidraça. E entrei para aprender como é uma campanha política, entender os meandros, como que funciona.
JC - O que tem achado deste outro lado até agora?
Victorino - Admito que quase aos 67 anos aprendi muito na campanha. Visitei comunidades, fui para esquinas distribuir santinhos, viajei o interior do Estado, conheci pessoas… fiz o que manda a cartilha de um deputado. Foi um aprendizado muito bacana. Quando você conhece pessoas diferentes, aprende sobre diferentes comunidades, regiões, lugares, cidades, vê que muitas vezes as necessidades são muito diferentes de uma região para outra. Diria que, seja qual fosse o resultado da eleição, eu sairia com um aprendizado muito bacana da campanha.
JC - E esperava que o resultado fosse esse, iniciar a trajetória política como o deputado estadual mais votado?
Victorino - Confesso que não. Ninguém entra para perder, então eu tinha expectativa de ter uma boa votação. Como são 55 deputados, tinha esperança de, por que não, ser eleito. A 10 dias da eleição, estava bem entusiasmado, porque a reação era muito boa, as pessoas me apoiavam na rua e pela internet. Eu não tinha dinheiro, fiz uma campanha modesta. Mas tinha esperanças. Para mim, ser o mais votado, ter 112.920 votos, realmente foi uma alegre surpresa.
JC - Acredita que esses eleitores, em sua maioria, sejam pessoas que já o conheciam, telespectadores ou ouvintes?
Victorino - O fato de trabalhar em rádio e televisão torna você uma figura conhecida, mas a diferença entre ser conhecido e ser votado é brutal. Isso eu descobri durante a campanha. Veja, foram nada menos que 11 comunicadores que se candidataram e somente eu fui eleito. Então, não adianta apenas ser conhecido do rádio e da televisão. Temos que tomar uma posição clara, muitas vezes sobre temas polêmicos. E aí as pessoas acabam se identificando, ora concorda, ora discorda, mas essas pessoas assumem uma posição, assim como você assume com suas opiniões. As pessoas não querem mais a chamada opinião em cima do muro, neutra. Em temas polêmicos você tem que se posicionar, ou você é contra ou é a favor.
JC - Vai continuar na Pampa depois de assumir cadeira no Parlamento?
Victorino - A princípio sim. Tenho conversado com a direção da Rede Pampa, que se mostra simpática à minha continuidade. Só que preciso obedecer a lei, que permite a atividade como comunicador desde que em horários diferentes dos da Casa. Fora desse horário, posso exercer minha atividade normalmente.
JC - Os parlamentares geralmente tem um tema específico de atuação. O senhor chega na Assembleia com algum tema principal que pretende defender?
Victorino - Meu foco é o pequeno empreendedor e o turismo. A microempresa é um empreendedor individual, aquele rapaz que monta uma vulcanizadora na esquina de casa, a senhora que montou uma lojinha. Esses é que fazem a roda da economia girar, pagam proporcionalmente mais imposto, garantem o sustento de famílias. É, acima de tudo, a força motriz de uma economia. De nada adianta ter grandes empresas com 5 mil funcionários e ter uma economia baseada nessa empresa se daqui a pouco essa empresa vai embora. Eu prefiro ter 5 mil microempreendedores trabalhando, contribuindo e crescendo, porque o emprego começa invariavelmente na pequena, micro e média empresa. E quero ter também um olhar para o turismo no Estado, que é um dos mais lindos do Brasil. Nossa riqueza natural nem os gaúchos conhecem. A região da Costa Doce, aqui na Lagoa dos Patos, a região dos Aparados da Serra não são exploradas. Por mais que tenhamos Canela e Gramado como símbolo para o Brasil, o Vale dos Vinhedos também com uma região espetacular, também precisamos mostrar um pouco mais o restante do Estado e temos muita coisa bonita para mostrar.
JC - E que outras pautas pertinentes ao Estado o senhor pretende defender na Assembleia?
Victorino - Estou muito preocupado com o IPE, tem 1 milhão de dependentes associados e a falência seria uma tragédia social para o Rio Grande do Sul. Quero ter foco em apresentar projetos e propostas, buscar parcerias com o governo do Estado para recuperarmos o IPE. Não é só cobrar mais dos associados, não adianta mais buscarmos a solução exclusivamente no bolso do associado do IPE. É preciso ter criatividade, buscar parcerias público-privadas (PPP), buscar investidores e oferecer espaço. Quem tem uma carteira de mais de 1 milhão de associados como tem o IPE, não pode ficar agonizando como está o instituto hoje.
JC - Como o senhor avalia o primeiro governo de Eduardo Leite à frente do Palácio Piratini?
Victorino - Eu não gostei. Fui um crítico do governador Eduardo Leite, principalmente no tocante à gestão durante a pandemia. O governador ouviu pessoas que não estavam preparadas, deu ouvidos a pessoas que tinham um componente ideológico muito mais forte do que um componente social. Destruímos dezenas de milhares de CNPJs no Rio Grande do Sul. Destruímos negócios familiares de décadas. Nesse aspecto, o governador errou muito feio na condução da pandemia no nosso Estado.
JC - Qual será sua postura em relação ao próximo mandato de Leite?
Victorino - Minha postura vai ser de independência. Eu não quero adotar uma oposição raivosa, assim como também acho que a tal oposição consciente traz um componente de preconceito que eu não gostaria que fizesse parte disso. Prefiro tratar minha posição como independente, ou seja, cada proposta do governador, se eu entender que for do interesse do cidadão, da cidadania, ou do Rio Grande do Sul, não tenho nenhum preconceito de votar com ele, assim como também não tenho preconceito de votar contra os projetos do governo do Estado se achar que esses projetos não estão de acordo com a real situação do Rio Grande do Sul, que é um Estado deficitário. Perdemos o protagonismo ao longo do tempo, especialmente na área econômica, e gostaria que isso fosse recuperado. Mas para isso, precisa ter convergência de ideias, então, não me posiciono nem como oposição e nem como situação.
JC - O Republicanos foi um partido que cresceu nessa eleição aqui no Rio Grande do Sul. A que o senhor atribui esse crescimento?
Victorino - Foi essencialmente à adesão de conservadores. Isso fez com que a votação do partido crescesse de forma significativa. O Republicanos tinha uma previsão de crescimento, mas os números superaram as expectativas iniciais. O Republicanos elegeu um senador pelo Rio Grande do Sul (o vice-presidente Hamilton Mourão), elegeu um número interessante de deputados federais, elegeu cinco deputados estaduais, elegeu o governador de São Paulo, elegeu a senadora Damares Alves (Distrito Federal), enfim, o partido cresceu. Agora fica a expectativa de saber como a direção nacional e regional do partido vão conduzir a agremiação nos próximos tempos, porque o partido cresceu e, a partir do momento que você cresce, precisa ter uma nova visão.
JC - Como avalia o período pós-eleição do presidente Jair Bolsonaro?
Victorino - O presidente Bolsonaro notadamente ficou bastante triste. Ficou abalado com o resultado da eleição. Ele tinha literalmente as ruas na mão. O presidente percorreu o Brasil inteiro, era aclamado por dezenas de milhares de pessoas e isso certamente deveria ter uma resposta nas urnas. Por isso não ter acontecido, notei que o presidente ficou bastante abalado. Foi uma eleição polêmica sobre todos os aspectos, ficaram muitas questões a serem respondidas, que nunca foram respondidas e nunca serão. Isso vai fazer com que a eleição de 2022 fique na história do Brasil como uma eleição marcada pela nebulosidade.
JC - Qual o senhor acredita que vai ser o futuro de Bolsonaro após a troca de governos?
Victorino - O presidente Jair Bolsonaro, se quiser, claro, inevitavelmente vai ser o líder da oposição ao governo que vai assumir, e é natural que isso venha acontecer. Acho que ele vai adotar essa postura. Ao longo do tempo, tivemos mais de duas décadas de governo de esquerda, que tiveram uma participação significativa na estruturação da máquina pública envolvendo os Três Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Com a troca de comando do Executivo, se manteve essa hegemonia de mais de duas décadas da esquerda, portanto, isso vai facilitar a atividade. Vai dificultar um trabalho de oposição de conservadores de direita que perderam o único poder que eles detinham, que era o Executivo. A sensação que tenho é que se o Brasil continuar democrático, um país livre e sem perseguições, teremos, sim, uma saudável disputa política entre dois polos ideológicos: direita e esquerda.
JC - E como conciliar uma atuação parlamentar, necessariamente ideológica, com isenção jornalística? Acredita que existe isenção do jornalismo?
Victorino - O jornalista é um ser humano. Tem seus conceitos, sua base, que é feita essencialmente de coisas que aprova ou desaprova. Eu sou um jornalista que tem um ponto de vista, mas o conceito de isenção fica relativizado. Por exemplo, sou identificado com uma ideologia, mas isso só pode ir comigo até a página dois. Na atuação parlamentar, preciso pensar em projetos e propostas que sejam de interesse da população. Não posso me entregar a uma ideologia de forma cega. Eu vou votar com qualquer que seja o interesse do cidadão e não interesse meramente ideológico ou defesa de grupos específicos. Por ser comentarista, tenho que externar as minhas opiniões. É em cima do fato que dou a opinião. Tenho uma postura e um componente político-ideológico. O ouvinte, o telespectador, o leitor vão filtrar o que concorda e discorda de mim. A postura de isento é muito perigosa, porque é inevitável que cedo ou tarde qualquer comunicador demonstre o seu lado ideológico. Quando você tenta mostrar uma isenção, acaba comprometendo sua credibilidade. Você tem que ser essencialmente crítico e transparente, não importa o lado. Todos têm lado por mais que se tente praticar a isenção, cedo ou tarde o lado aparece.

Perfil

Gustavo Victorino nasceu em Porto Alegre em janeiro de 1956. Aos 18 anos, começou como repórter e, mais tarde, narrador esportivo na Rádio Cinderela, na cidade de Campo Bom. Aos 20 anos, se transferiu para a Rádio Gaúcha, onde trabalhou como repórter por quatro anos. Aos 26 anos, foi para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como repórter de TV e apresentador da Rádio Manchete. No Rio de Janeiro, ainda foi colunista das revistas Backstage, Ele & Ela e InfoExame, além de repórter da Gazeta Mercantil e do Jornal do Brasil. Na vida acadêmica, atuou como professor dos cursos de Jornalismo e Radialismo da Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro. Trabalhou também como produtor musical e músico e se especializou na área de tecnologia musical em Chicago, nos EUA. Atua também como advogado, sendo titular do escritório Victorino Advogados Associados, e é conselheiro da OAB/RS. Atualmente, é comentarista e apresentador da Rádio e TV Pampa, de Porto Alegre. Em 2022, foi eleito deputado estadual pelo Republicanos, com 112.920 votos.