A bandeira do candidato à prefeitura de Porto Alegre pelo Pros, o deputado estadual Rodrigo Maroni, é a causa animal. Por isso, se for eleito em novembro, tem a meta de castrar o maior número possível de animais abandonados.
Ele acredita que “a ausência de políticas públicas é total para os animais” na capital gaúcha. E avalia também que a Secretaria Especial dos Direitos dos Animais (Seda), criada em 2011, tem sido usada politicamente, não desempenhando um papel satisfatório no atendimento veterinário. Sustenta ainda que o hospital veterinário Unidade de Saúde Animal Victória não funciona.
Além de questionar a atuação da prefeitura de Porto Alegre nessa área, Maroni, que está na sua sexta filiação partidária - antes foi do PT, PSOL, PCdoB, PR e Podemos -, critica os outros candidatos e o próprio processo eleitoral.
“O processo eleitoral virou um jogo de marketing, de quem tem mais dinheiro para financiar seu publicitário, um vídeo bonito, um rosto bonito”, avalia.
Por isso, nesta entrevista ao Jornal do Comércio, a terceira da séria com os candidatos ao Paço Municipal, Maroni explica por que decidiu se candidatar neste ano: para divulgar a causa animal e para denunciar as mazelas das campanhas por trás da eleição.
Além disso, contou que as outras 12 candidaturas entraram em contato com ele, pedindo para “não falar dos candidatos”. Mas ele garante: “ninguém vai calar a minha boca”.
Para além da causa animal e de críticas aos outros candidatos, reconhece a importância dos servidores públicos na administração municipal. Assim, o candidato também quer aumentar o salário de professores, médicos de postos de saúde e guardas municipais de Porto Alegre se for eleito.
Jornal do Comércio – Se for eleito, qual será o principal desafio à frente da prefeitura de Porto Alegre?
Rodrigo Maroni - Não vou prometer nada. Tem gente que diz que isso é marketing. Não. É o seguinte... Os problemas (de hoje) serão os mesmos de 2024 (próxima eleição municipal). Em 2024, o problema vai ser educação, segurança, saúde etc. A questão toda é se o prefeito vai ter sensibilidade para priorizar isso. Não vai ser porque ele ouviu numa live, porque ele colocou 300 pessoas numa live. Mentira. Isso aí só importa na campanha. Depois, (o candidato eleito) vai se fechar no gabinete. Alguns (aliados) ganham cargos, CCs (cargos de confiança), porque fizeram campanha. A questão pública vai continuar, porque a gestão continua, quem toca a Secretaria Municipal da Educação, de Segurança, da Saúde... são os servidores públicos. A menos que se privatize, aí vai ser uma terceirizada. Vou ser um prefeito que vai priorizar o tema dos animais, porque é meu tema, por óbvio. Tenho que fazer adoção, tenho que colocar uns três ônibus com gente para fazer castração, para, pelo menos, chegar ao fim da gestão e dizer que consegui resolver uma parte do problema dos animais. (Meu compromisso é) ter atendimento, raio-x, ecografia, adoção de animais, castração em massa e um prefeito que participa disso. Vamos tentar castrar quase a totalidade dos animais, é isso que dá para se comprometer. Já a gestão vai funcionar com o servidor público.
JC – Em 2011, foi criada a Secretaria Especial dos Direitos dos Animais em Porto Alegre. O hospital veterinário público, batizado de Unidade de Saúde Animal Victória, foi criado em 2016, mas começou a funcionar em 2018. Houve avanços nessa área na cidade? O que precisa melhorar?
Maroni – A ausência de políticas públicas é total para os animais. Inclusive em Porto Alegre. Aqui sempre teve animais morrendo. Vejo muitos prefeitos fazendo demagogia, dando dinheiro para protetores de animais. Nas cidades do Interior e do Litoral, acontece muito o seguinte: “te dou R$ 2 mil por mês, e tu cuidas de todos os animais da cidade”. Só sei que a utilidade (do hospital veterinário de Porto Alegre), que era atender animais, nunca houve. Animais não precisam de inauguração de obra bonita em shopping center, animais precisam de atendimento. Podia ser uma sala com raio-x e ecografia. Resolvia. No início, eu acreditava que, pelo menos na causa animal, os ativistas se juntavam. Mas não. Era uma disputa de ego e vaidade. Disse para a Regina (Becker, então secretária municipal dos Direitos dos Animais de Porto Alegre na gestão do prefeito José Fortunati) que iria ajudar a Seda, quando assumisse como vereador. Só que quando fui doar animais em um domingo, ela proibiu que eu os doasse. Aí comecei a ver a realidade: a secretaria nunca funcionava. Teve pontualmente marketing, inauguraram obras. Mas vai agora até o hospital para ver se está funcionando. Se estiver funcionando, eu estou mentindo. Não tem política pública, não tem atendimento de animais (em Porto Alegre).
JC – Na sua avaliação, o hospital não funciona...
Maroni - Essa política, para mim, não representa... E quando chegou o início desta gestão (Nelson Marchezan Júnior, PSDB), em 2017, fui levar ração a pedido das pessoas da Secretaria dos Direitos dos Animais. Era vereador naquela época. Fui levar ração, porque os animais estavam sem comida dentro da própria secretaria. Levei ração minha, particular. E nunca consegui atendimento. Essa secretaria era uma vergonha, nunca teve atendimento para a população. Tem uma rede de 20, 30, 50 protetores para quem ela criou esses pequenos favores. Atendia essas 50 pessoas. A primeira candidatura que prioriza esse tema é a nossa no Brasil.
JC - O que mudaria na Seda e no hospital veterinário em sua gestão?
Maroni - O que eu faria se fosse o prefeito? Pegaria esses R$ 10 milhões (usados na construção do hospital veterinário de Porto Alegre) e botaria para o atendimento (dos animais na cidade). Com R$ 1 milhão, R$ 2 milhões por ano, dá para atender todos os casos. Lamentavelmente, aquela obra está parada, como as obras da Copa.
JC – Se for eleito prefeito, sua gestão vai funcionar com os servidores públicos de Porto Alegre. Qual é a sua proposta para os servidores municipais?
Maroni – Quero dar reajuste para professores, médicos de postos de saúde, guardas municipais - como um símbolo de quem está no front. Afinal são os servidores públicos que tocam (a gestão pública). Por isso, devem ter aumento. “Ah, mas não pode dar aumento, porque vai quebrar o teto (de gastos)”. Estou com um vice que, inclusive, trabalha no Tribunal de Contas do Estado (TCE). Que entrem com processo de impeachment, que me tirem (do cargo de prefeito). Mas eu vou dar aumento de salário para professores e vou quebrar o teto salarial. Prefiro sair ‘impeachtimado’ por dar aumento para professores, médicos de posto de saúde e guardas municipais do que ficar mentindo durante quatro anos sobre por que não dei reajuste. O resto é tudo tralalá de campanha eleitoral. Então, a causa animal e o aumento para os servidores são meus compromissos. E a questão do reajuste não é pelo voto dos servidores. Nunca organizei sindicatos, não faço parte de partido de servidores, nenhum servidor público recebeu coisa alguma pedindo para votar em mim, nunca tive líder comunitário fazendo campanha para mim, nunca tive vereador, secretário ou qualquer outro político fazendo campanha pra mim.
JC - Por que decidiu concorrer à prefeitura de Porto Alegre agora?
Maroni – Uns quatro candidatos me convidaram para ser vice. Por exemplo, a Juliana Brizola (candidata à prefeitura pelo PDT), que é uma pessoa que eu gosto. Mas não quis ser vice por dois motivos. Primeiro, acredito que o tema dos animais não seria prioridade de nenhum deles. Segundo, creio que tenho muito para dizer, porque não tenho compromisso de ganhar, não tenho o compromisso de mentir, de ser legal. Políticos são todos abobalhados, falam tudo muito certinho, muito encaixado. Só que a política é um lugar de opinião, de crítica. Inclusive, tem que ter legitimidade para fazer isso. Se o cara fala muito mansinho, ele treinou muito para isso, tem um discurso montado por uma equipe, com pesquisa publicitária. O político fala o que vai ser agradável (para os eleitores), porque existem pesquisas indicando o que a população quer. O processo eleitoral virou um jogo de marketing, de quem tem mais dinheiro para financiar seu publicitário, um vídeo bonito, um rosto bonito.
JC - Diante desse cenário, o que a sua candidatura representa nessa disputa pela prefeitura de Porto Alegre?
Maroni - Ninguém fecha a minha boca. Essa é uma coisa (que a candidatura representa). Ninguém vai sentar na minha frente com discurso manso. Conheço a relação dos políticos, porque agora, para o azar deles, eu estou deputado estadual. Quando começa uma campanha, eles te ligam, querem falar contigo, ser teu amigo, te tratam bem para tu não falares coisas sobre eles. O jogo é combinado na surdina...
JC - Isso aconteceu? Pediram para não falar de outros candidatos à prefeitura de Porto Alegre durante a campanha?
Maroni – Claro. Todos me ligaram. Quem não me ligou diretamente, mandou me ligar. Gente da Manuela (d’Ávila, candidata pelo PCdoB), do PT, do (candidato à reeleição Nelson) Marchezan (Júnior, PSDB), da Juliana Brizola, com quem também falo diariamente. Aquela coisa de parecer que não se dão (bem) é só na vitrine, porque a política é uma amarração de rabo preso. Não adianta me convidar para café, não adianta dizer que eu sou bonito. Não estou nesse processo para buscar amigos ou sair com relações políticas, não estou interessado em segundo turno, nem na próxima eleição. (Os outros candidatos) deram azar. Só me matando para me tirar desse processo eleitoral, só assim para não ouvirem o que precisa (ser dito). Não me venham com papinho de proposta, até porque ninguém gosta de proposta, nunca ouvi alguém dizer: “bah, gostei! vou votar nesse sujeito por causa da proposta”. Tu votas pelo jeito, personalidade, identificação, afinidade (com os candidatos). Todas (as propostas) são muito parecidas. Então, não tenho que agradar ninguém, meu único compromisso é fazer com que as pessoas saibam o que acontece na política.
JC - Acredita que nenhum político é sincero?
Maroni - A Manuela, por exemplo, foi candidata em 2008 e era contra o PT (que lançou a candidatura de Maria do Rosário à prefeitura). Agora o projeto dela é com o PT. Outro exemplo: o Fortunati estava em Portugal (fazendo mestrado); voltou agora (para concorrer); e arrebentou a campanha do ex-vice-prefeito dele, o Sebastião Melo (candidato pelo MDB). Mais um exemplo: o Marchezan brigou com o (vice-prefeito) Gustavo Paim (PP); antes, diziam “somos liberais, a saída é pela economia”. O Sebastião Melo é um cara com quem converso, tenho relação. Mas me pergunto se, de fato, aqueles que o traíram para estar com o Marchezan (depois do segundo turno das eleições de 2016) estão com ele agora. Reitero aqui: programa, proposta é tudo mídia.
Perfil
Filho de dois servidores públicos - o pai era funcionário do Banrisul e a mãe, do IBGE -, Rodrigo Marini Maroni nasceu em Porto Alegre, em 21 de julho de 1981. Ainda criança, acompanhou os pais nos protestos pelas Diretas Já, no final da ditadura militar (1964-1985). Enquanto cursava História na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), ingressou no diretório acadêmico do curso, em 2000. Em 2002, elegeu-se presidente do Diretório Central de Estudantes (DCE) da universidade. Filiado ao PT, deixou o partido para ingressar no PSOL. Depois, passou a militar no PCdoB, legenda pela qual se candidatou a vereador de Porto Alegre em 2012. Ficou na suplência. Mas, em 2015, quando o então vereador João Derly (na época, PCdoB) assumiu a cadeira de deputado federal, Maroni ocupou a vaga de titular. Em março de 2016, filiou-se ao PR. Reelegeu-se vereador no pleito daquele ano, sendo o quarto candidato mais votado, com 11.770 votos. Em 2017, migrou para o Podemos. Em 2018, elegeu-se deputado estadual. Em 2019, mudou-se para o Pros, legenda pela qual é candidato à prefeitura da Capital.