Pedro Simon: o descanso do guerreiro

O diálogo foi travado em uma tarde de sol de janeiro, quando o decano do PMDB gaúcho recebeu a reportagem do Jornal do Comércio em sua residência em Rainha do Mar

Por Guilherme Kolling

Pedro Simon aproveita o tempo livre em Rainha do Mar
De Rainha do Mar
Hoje é o primeiro dia útil dos últimos 56 anos em que Pedro Simon (PMDB) acordou sem mandato. Desde que ingressou na Câmara Municipal de Caxias do Sul como vereador, em 1959, ele emendou um cargo público no outro, elegendo-se e reelegendo-se deputado estadual e senador. Foi ainda governador do Rio Grande do Sul de 1987 a 1990.
Tem recebido homenagens nos últimos meses, caso da sessão em que se despediu do Congresso Nacional e de diversos momentos da campanha eleitoral do ano passado, quando militantes cantavam o bordão “Simon, guerreiro! Do povo brasileiro!”. No sábado passado, durante a posse da nova legislatura na Assembleia Legislativa, o presidente do Parlamento gaúcho, Edson Brum (PMDB), quebrou o protocolo e puxou um Parabéns a você no plenário. Era o aniversário de 85 anos de Simon e também o último dia de seu mandato como senador. Seria o descanso do guerreiro?
Questionado sobre o que fará após o fim de seu ciclo no Senado, o experiente político faz uma de suas pausas características, olha o horizonte, reclina-se na cadeira de vime na varanda de sua casa de veraneio e, sorrindo, aponta para a bermuda e as sandálias que calça.
Em seguida, completa a resposta, medindo as palavras e sentindo a brisa da praia. “Pretendo participar, debater. Tenho recebido muitos pedidos de conferências para universidades, câmaras de vereadores, assembleias legislativas, empresas. Mas quero ser apenas mais um entre tantos que devem participar do debate.” O diálogo foi travado em uma tarde de sol de janeiro, quando o decano do PMDB gaúcho recebeu a reportagem do Jornal do Comércio em sua residência em Rainha do Mar.
Já na próxima segunda-feira, Simon terá o primeiro compromisso público, quando fará uma palestra para empresários e administradores em Recife (PE). “Quer dizer que o senhor vai percorrer todo o Brasil”, indaga o jornalista. “Não é tanto assim, tenho 85 anos”, diz, deixando escapar uma gargalhada. Logo em seguida volta ao ar circunspecto. Mais uma pausa: “O que puder fazer eu faço. Agora, se não conseguir que as pessoas participem, não tem solução”, completa, demonstrando grande preocupação com a realidade política do País.
Em uma entrevista que se estendeu por mais de duas horas, Simon fala da conjuntura atual e passa a limpo seus 60 anos de vida pública: o início na política estudantil, começando pelo colégio Rosário, passando pela Faculdade de Direito da Pucrs e a União Nacional dos Estudantes (UNE), o ingresso no antigo PTB, em que admirava a figura de Alberto Pasqualini, o golpe militar de 1964 e a criação do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) até a campanha das Diretas Já.
Ao lembrar dos embates sobre a melhor estratégia para resistir à ditadura, evidencia suas diferenças com Leonel Brizola (PDT). Simon conta, ainda, como sentiu a derrota na primeira eleição direta a governador na redemocratização, em 1982, quando perdeu a disputa para Jair Soares (PDS). Mais de 30 anos depois, afirma, categoricamente, que houve fraude na apuração dos votos daquele pleito.
Também admite, com o distanciamento do tempo, que José Sarney (PMDB) teve méritos como presidente ao cumprir a pauta da redemocratização – como a Assembleia Nacional Constituinte –, apesar de ainda achar que o então presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães (PMDB), era quem deveria ter assumido a presidência da República no lugar de Tancredo Neves, que, eleito indiretamente, morreu antes de tomar posse. Também enaltece o presidente Itamar Franco, de quem foi líder no Congresso: “Além do Plano Real, foi o único período que não teve corrupção nem toma lá dá cá”.
Simon enumera conquistas que o Rio Grande do Sul obteve quando se uniu, como a instalação do Polo Petroquímico de Triunfo e da Aços Finos Piratini, mas observa que as perdas para a União incluem essas obras, além da falta de ressarcimento pela construção de estradas e pela Lei Kandir.
O ex-senador repassa ainda as disputas ao Piratini nas últimas décadas e revela bastidores da campanha que elegeu José Ivo Sartori (PMDB) governador, como a ameaça de desistência do ex-prefeito de Caxias do Sul se ele não fosse candidato à reeleição ao Senado.

‘Diretas Já foi o fato mais marcante da história do Brasil’

O repórter questiona Pedro Simon se a luta pela redemocratização foi sua maior contribuição política. “Se me permitir, deixa eu reformular a pergunta”, atalha o peemedebista, que passa a falar da importância da mobilização popular para a campanha das Diretas Já e o fim da ditadura militar.
“Nossa história é muito vazia de grandes acontecimentos com a participação do povo”, observa Simon, lembrando a Independência do Brasil, a Proclamação da República e a criação das leis trabalhistas — “Getulio Vargas baixou um ato de cima para baixo e deu ao trabalhador as conquistas sociais”.
Salienta, então, que o povo brasileiro foi protagonista de fato na luta pelo voto direto. “A única vez que o povo participou, saiu às ruas e se manifestou foi nas Diretas Já. Na minha opinião, foi o fato mais marcante da história do Brasil. Foi a presença mais importante do povo brasileiro, foi onde o Brasil esteve presente de corpo e alma. E ali o MDB viveu o momento mais espetacular.”
O Movimento Democrático Brasileiro deu origem ao PMDB na redemocratização, mas Simon, até hoje, só fala MDB. O único partido de oposição ao regime militar se fragmentou com a volta da liberdade política. Mas também era subdividido durante a ditadura, abrigando desde movimentos revolucionários e partidos comunistas até quadros conservadores, que não compactuavam com a tortura e a falta de liberdade de imprensa.
Simon demonstra maior entusiasmo quando fala que foi o MDB do Rio Grande do Sul, liderado por ele, que conseguiu estabelecer uma pauta mínima, que deu unidade ao movimento em todo o Brasil. “Por exemplo, a presidente da República (Dilma Rousseff, PT) era de um grupo que queria sequestrar para fazer trocas por presos políticos; tinha a campanha do voto em branco; uns defendiam a extinção dos partidos. Fizemos um congresso histórico aqui no Rio Grande do Sul com lideranças de todo o Brasil, um debate enorme, e, a partir dali, o MDB tinha uma plataforma: 1. Diretas Já; 2. Fim da Tortura; 3. Liberdade de Imprensa; 4. Anistia; e 5. Assembleia Nacional Constituinte. Isso era o MDB. Quem lutasse por esses cinco itens, podia usar o nome do MDB.”
A primeira campanha foi a das Diretas Já, que começou desengavetando uma emenda do deputado federal do Mato Grosso Dante de Oliveira. “Parecia uma piada, todo mundo ria da gente, porque havia quase que uma unanimidade a favor da ditadura: Forças Armadas, Igreja, burguesia empresarial e grande mídia. Mas conseguimos criar (a campanha) e começou a crescer, crescer e resultou na queda da ditadura”, resume.

Simon exclusivo: ‘Se eu não fosse ao Senado, Sartori retirava a candidatura’

Principal referência do PMDB gaúcho, Pedro Simon teve papel decisivo na escolha do candidato do PMDB nas nove eleições ao governo do Estado na redemocratização. Inclusive a de 2014, quando o seu preferido, José Ivo Sartori, representou o partido e venceu o pleito, tornando-se governador.
Simon observa que uma eventual derrota – seria o terceiro revés consecutivo no Rio Grande do Sul – colocaria o PMDB como “um partido de segunda linha”. Com a vitória, o decano avalia que Sartori pode se tornar, ao natural, a maior referência do PMDB gaúcho, transformando-se, de certa forma, no seu sucessor.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Simon analisa a campanha e revela bastidores, como a discussão para a escolha do candidato ao Senado, após a saída de Beto Albuquerque (PSB) da chapa, para concorrer a vice-presidente da República. Diz que resistiu a aceitar a missão e só não recusou a disputa pela reeleição porque Sartori ameaçou retirar a candidatura a governador se ele não entrasse na campanha.
O peemedebista ainda comenta as primeiras semanas da gestão Sartori no Piratini, lembra que a oposição apoiou o ex-governador Tarso Genro (PT) na renegociação da dívida do Estado com a União no Congresso, mas não vê reciprocidade – para Simon, o petista agora “quer dificultar a nossa vida” no governo.
Jornal do Comércio – O senhor é a principal referência do PMDB gaúcho há décadas. Com o fim do seu mandato, e com Sartori governador, pode-se dizer que ele será o seu sucessor?
Pedro Simon – Sou um participante do MDB, no comando do partido, faz tempo que não tenho influência maior. Agora, Sartori, ao natural, na qualidade de governador... E governador em uma hora difícil. Ele está tendo muita categoria, chamando e conversando com todos, também na composição do secretariado. Inclusive esteve conversando com o (vice-presidente da República) Michel (Temer, presidente nacional do PMDB), importante para mostrar que está integrado na vida partidária.
JC – A posição de governador torna ele a maior referência do PMDB gaúcho?
Simon - Ao natural, ao natural.
JC – O senhor foi o primeiro a falar dele como possível candidato, lá em 2011.
Simon – Achava que, no momento que estávamos vivendo, o MDB não podia perder a eleição. Se perdesse, seria um partido de segunda linha.
JC – Seria a terceira derrota consecutiva no Estado.
Simon – E hoje não (é de segunda linha). O MDB teve quatro governadores (Simon, Antonio Britto, Germano Rigotto e Sartori). E decidimos, no segundo turno, a eleição do (Alceu) Collares (PDT) contra o (Nelson) Marchezan (PDS, em 1990), e a eleição da Yeda (Crusius, PSDB) contra Olívio (Dutra, PT, em 2006). Então, ganhamos quatro eleições e decidimos outras duas (das nove na redemocratização). E o Sartori tinha experiência, fez uma administração histórica em Caxias. Achei que deveria ser ele. No fundo, todo partido achava.
JC – Foi escolhido na disputa com Paulo Ziulkoski (PMDB).
Simon – Foi um episódio bonito, não houve crise. E apoiamos a candidatura da Marina (Silva, PSB) e Eduardo Campos (PSB, à presidência), o candidato ao Senado foi o Beto Albuquerque (PSB) e Sartori a governador. E a campanha estava andando bem. Com a fatalidade do acidente (de Campos), a situação ficou complicada lá no diálogo da Marina com o PSB. E para dar consistência a Marina, foi o Beto, que era o líder da bancada, de candidato a vice-presidente. Aí ficamos um tempão para escolher o candidato a senador. Ninguém queria. Nem eu!
JC – Restavam menos de dois meses de campanha.
Simon – Nunca fui candidato ao Senado, não queria. Aí fizeram uma maldade comigo: como não tinha solução, falaram que iam mandar um ofício para Justiça Eleitoral dizendo que eu era o candidato. Olha a maldade deles: “Não, se tu não quiser ser candidato, eles vão vir aqui, ‘olha esquecemos a assinatura do Simon’. É só retirar”. Aí eu disse: “Eu não sou candidato”. E o Sartori: “Então eu retiro também (a candidatura a governador)”.
JC – Sartori disse que, se o senhor não fosse candidato ao Senado, ele retiraria a candidatura a governador?
Simon – Retiraria a candidatura ao governo.
JC – Naquele momento da campanha ele estava com 5% nas pesquisas.
Simon – Foi uma surpresa (a eleição). Uns dizem que fui eu que apareci como candidato (que levou ao crescimento do Sartori), mas tenho certeza que não foi. Quem fez crescer foi a mãe do Sartori, foi espetacular! E Sartori adotou um lema, Meu partido é o Rio Grande, foi uma campanha diferente. Quem foi radical foi o (candidato) do PDT (Vieira da Cunha), foi para cima do Tarso: “o senhor foi fraco”. Agora, justiça seja feita, Tarso foi elegante. Mas teve uma vez que ele disse uma coisa que achávamos que Sartori tinha que responder. Aí, sai o programa (eleitoral na TV) e aparece a mãe do Sartori: “Zé, faz que nem eu te ensinei...”.
JC – O crescimento foi registrado pelas pesquisas só na última semana.
Simon – Foi. Ali, por um lado foi a rejeição ao Tarso. Por outro, aquele negócio da Ana Amélia... Ela fez uma campanha bonita, de repente, um fato... Política tem isso, uma coisinha mal explicada... Mas com essa história (candidatura ao Senado), saí da política com o dever cumprido, exageradamente. Nem precisava tanto tempo.
JC – Foram 56 anos consecutivos de mandato.
Simon – Comecei como vereador de Caxias do Sul em 1959, depois, em 1962, deputado estadual, em 1978, senador... Desde 1959 até o fim de janeiro, não fiquei um dia sem mandato.
JC – O senhor foi eleito governador em 1986 e senador em 1990. Poderia ter sido candidato ao governo de novo em 1994, mas o partido lançou Antonio Britto. Como foi isso?
Simon – Poderia ter sido candidato, o pessoal queria que fosse eu o candidato. Mas achava que deveríamos somar. Na outra vez (em 2002), foi a mesma coisa. O pessoal fez uma comitiva (a Brasília) para me convencer a ser candidato. E eu vim aqui (ao Rio Grande do Sul) e lancei Rigotto, com 2% (nas pesquisas). Olha, no ato que lançou o Rigotto (na sede do PMDB), só estava eu, nem o Rigotto compareceu. Mas depois ganhou a eleição.
JC – Na primeira eleição direta a governador após a ditadura, em 1982, o senhor perdeu para Jair Soares (PDS). Sentiu muito a derrota pelo momento em que ela aconteceu ou a vitória de 1986 superou isso?
Simon – Eu senti, porque nunca tinha ouvido falar em qualquer dúvida sobre a seriedade das eleições no Rio Grande. Tem coisas naquela eleição, como voto em um só (partido) de governador a vereador. E a mesa de apuração foi entregue a funcionários do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, da Receita Federal. E quem indicava (os funcionários que seriam mesários) eram os caras (do governo). Então, houve uma fraude enorme nessa apuração. Fomos saber depois.
JC – O senhor hoje tem convicção de que houve fraude naquela eleição?
Simon – Na apuração, não na eleição.
JC – Fraude na apuração?
Simon - Na apuração. Inclusive o Jair (Soares) não tem nada a ver com isso.
JC – Voltando ao atual momento, qual sua avaliação do início do governo Sartori?
Simon – A situação do Estado é difícil. Então, em primeiro lugar, tem que terminar com esse Grenal. Mesmo na ditadura militar, o Polo Petroquímico (de Triunfo) só saiu porque nós, do MDB, fizemos uma comissão de luta, não queriam dar o polo para o Rio Grande. Pedimos uma reunião com o (presidente Ernesto) Geisel, que marcou lá em Uruguaiana. Levamos todo mundo: presidente da Assembleia, governador, presidente do Tribunal de Justiça, presidente da Fiergs. E o governador, que era o (Sinval) Guazelli, disse: “Para o senhor entender como é uma questão do Estado, chamo para falar pelo Rio Grande do Sul o líder da oposição, deputado Pedro Simon”. E aí falei, falei, e o Geisel ficou impressionado... Afora isso, o que tem hoje é “o que perde quer que se rale o que ganhou”.
JC – Então não é possível unir o Rio Grande?
Simon – O negócio da dívida (do Estado com a União), Tarso teve o apoio do MDB, aliás, de toda a oposição. Lá no Congresso Nacional, brigamos feito doido. Aqui no Rio Grande, o hoje secretário da Fazenda (Giovani Feltes), criou uma comissão para brigar pela rolagem da dívida. Agora, Tarso coloca o pessoal (ex-secretários na assessoria do PT na Assembleia) para dificultar a nossa vida (no governo).
JC – E existe mesmo a possibilidade de o governo federal diminuir a parcela da dívida, ou devolver recursos pela Lei Kandir ou por gastos com estradas?
Simon – Votei contra a Lei Kandir. Quanto perdemos nesses anos? Quase R$ 1 bilhão por ano. As estradas no meu governo têm protocolo assinado com o governo federal: construímos com o compromisso de sermos ressarcidos. Até hoje não veio o dinheiro. Compramos terra para reforma agrária, iam nos dar o dinheiro, não deram até agora. No Polo Petroquímico, o Estado gastou R$ 1 bilhão nas obras iniciais. A Aços Finos Piratini, o Rio Grande do Sul acabou a construção, o governo federal privatizou e não nos deu nosso dinheiro. Então, tem um bolo de dinheiro acumulado.
JC – O governo fala em corte de gastos. O aumento de salários da cúpula do Executivo, Legislativo e Judiciário pode dificultar politicamente essas medidas?
Simon – Não, o que tiver que cortar, Sartori vai cortar. Mas não é o suficiente (para o Estado)... No meu governo, fizemos o movimento do Mercosul, as estradas. No governo Britto, ele trouxe a Chevrolet, a Ford, começou um plano para uma usina de aços planos, essa fábrica de celulose que está saindo agora era para ter saído naquela época. Chegou o PT e mandou a Ford embora. O pessoal da aços planos (laminadora da Gerdau), que é gente aqui do Rio Grande, e que ia fazer na obrigada, nunca mais se falou... Então, foi uma oportunidade para alavancar e não pegamos.
JC – O governador fez bem em rever sua posição e cortar o próprio salário e o do vice José Paulo Cairoli (PSD)?
Simon – Aquilo é o Sartori. Se vetasse, era uma crise com o Judiciário... Infelizmente, não estamos conseguindo sentar à mesa e conversar com os Poderes. A situação dele era muito difícil. Então, o mínimo que ele tinha que fazer era cortar o salário dele, e foi o que fez.
JC – No secretariado, despontam os nomes de Giovani Feltes na Fazenda e Márcio Biolchi na Casa Civil. Quadros históricos do PMDB, como João Carlos Brum Torres, Luis Roberto Ponte e Ibsen Pinheiro, cogitados para o governo, não entraram. É uma nova geração no PMDB?
Simon – São nomes de primeira grandeza em cargos importantes, mas é decisão do Sartori, que preferiu gente nova, competente. Agora, por exemplo, o Caçapava (Brum Torres), desde o início, ajudou (na campanha), mas sempre fez questão de dizer que não participaria do governo, pois voltou para a universidade. Mas a escolha foi boa.
JC – Gostaria de um comentário sobre outros quadros do PMDB gaúcho. José Fogaça.
Simon – Cometemos um equívoco. Deveríamos ter deixado Fogaça completar a gestão na prefeitura de Porto Alegre... Mas é uma grande referência, vai chegar bem na Câmara dos Deputados, o respeito a ele é grande do tempo em que foi senador. Tem muito a contribuir.
JC – Ibsen Pinheiro.
Simon – Um grande nome. E nunca tinha visto ele se dedicar tanto à política como agora. Se saiu muito bem na presidência do partido e ajudou na campanha. E é um dos nomes que tem boa ligação com o governador.
JC – Germano Rigotto.
Simon – Grande governador, perdeu uma eleição em que cometemos um equívoco, ele foi a presidente da República (na prévia do PMDB em 2006), levou muito tempo no vai não vai. Collares e (Francisco) Turra (PP) só foram (ao Piratini) quando Rigotto foi a presidente. Uma pena, em oito anos, ele faria um grande governo... É dos grandes quadros do PMDB nacional.
JC – Eliseu Padilha.
Simon – Foi ministro e coordenador da bancada no Fernando Henrique (PSDB) e é ministro e coordenador da bancada da presidente (Dilma Rousseff, PT). Está fazendo na Fundação Ulysses Guimarães um trabalho inédito no Brasil. Tem que tirar o chapéu para ele.
JC – Michel Temer.
Simon – Tem papel importante. No tempo do Lula (PT) presidente, o vice (José Alencar) era faz de conta. No tempo do Fernando Henrique presidente, o (vice) Marco Maciel era faz de conta. Dilma é uma presidente fraca e nunca tivemos um vice tão forte como Michel.

Famosa por sediar reuniões políticas, casa da praia é base do oráculo de Rainha do Mar

A casa da praia de Pedro Simon (PMDB) no Litoral Norte gaúcho é famosa pelos encontros políticos. Tal como um sacerdote, ele recebe correligionários e até quadros de outros partidos para ouvi-los, conversar e, eventualmente, dar conselhos, nem sempre diretos. É um verdadeiro oráculo de Rainha do Mar.
O ex-senador veraneia lá há mais de 40 anos, sendo quatro décadas seguidas na casa de um pavimento de tijolos pintados de branco, que se destaca pela imensa varanda guarnecida por cinco colunas, e pelo campo de futebol que fica ao lado, no terreno de esquina que também é propriedade de Simon.
“E sempre fico em Rainha do Mar”, informa. “Também, não precisa sair porque todo mundo vem aqui”, completa Rospide Neto, integrante da executiva estadual do PMDB que estava na varanda com Simon no dia em que a reportagem do Jornal do Comércio foi até lá. “Tem muita história política que aconteceu nessa casa”, depõe Rospide, que se desloca de Capão da Canoa para visitar o amigo. “Até o (Fernando) Collor, quando ia ser candidato à presidência da República (em 1989) veio pessoalmente aqui pedir para o Simon ser o vice dele”, lembra. O anfitrião apenas assente com a cabeça.
Enquanto o decano conta a história de que José Ivo Sartori era o nome que mais agradava o PMDB gaúcho, Rospide revela bastidores da prévia. “Sartori sempre foi unanimidade. A verdade é que, devido à demora dele, que estava postergando (a candidatura), um grupo, entre eles eu estava junto, decidiu: ‘Vamos tirar ele da toca e lançar alguém para fazer frente a ele.’ Aí lançamos o Paulo Ziulkoski (presidente da Confederação Nacional dos Municípios).” Simon confirma a história: “No outro dia, ele (Sartori) saiu candidato”.
Rospide observa que, pela primeira vez em 50 anos, ficou em lado oposto ao amigo Simon. “Desta vez eu fiquei de um lado e ele de outro. Ficamos comprometidos com o Paulo Ziulkoski. Perdemos a convenção e lá nos aliamos ao Sartori.”
Meia hora depois, Simon lembrava dos tempos da luta pela redemocratização, e mostrou que tinha uma visão distinta da de Leonel Brizola (PDT) sobre a resistência à ditadura, o que se materializou na criação de diversos partidos oriundos do MDB após o regime militar.
Rospide completa: “Simon conduziu o MDB, Brizola estava no exterior, mas, quando voltou do exílio, todo o MDB foi esperá-lo em São Borja. E ali o MDB rachou, porque, infelizmente, Brizola disse, no seu discurso, que ‘há 20 anos não tem oposição no Brasil’. A maioria ali se ofendeu, inclusive eu, que era de família tradicional brizolista. Depois, tivemos uma famosa reunião na casa do Simon, que durou das 21h até as 5h do dia seguinte, em que o Brizola disse a famosa frase para o Simon: ‘Pedro, tira o pé da escotilha para que nós possamos sair do porão’. Naquela noite, dos 33 deputados (estaduais do MDB), 19 ficaram com o PMDB e os outros com o Brizola e o PDT”.