Tradutora pública e genealogista, a gaúcha Claudia Antonini vem trabalhando há 17 anos no auxílio a descendentes de italianos que buscam cidadania daquele país, com um escritório em Porto Alegre, cidade onde nasceu e reside. Neste ano, pela segunda vez ela disputa uma vaga de deputada no Parlamento italiano, pelo Partido Democrático - de centro-esquerda. Claudia visitou o Jornal do Comércio, na sexta-feira, para apresentar sua candidatura.
A Itália realiza, em 24 e 25 de fevereiro, eleições para renovar seu parlamento - 315 senadores e 630 deputados -, dissolvido pelo presidente Giorgio Napolitano no final de dezembro, após a renúncia do primeiro-ministro Mário Monti. Desde 2006, são reservadas seis vagas ao Senado e 12 à Câmara para candidatos italianos que residem no exterior. A América do Sul elege dois deputados e dois senadores. Uma lei aprovada em 2000 abriu espaço para descendentes de imigrantes que tiveram a cidadania reconhecida, como Claudia.
No Brasil, são cerca de 290 mil eleitores, que estão recebendo em casa a cédula de votação. O voto tem de chegar ao consulado entre os dias 4 e 21 de fevereiro. São Paulo é o maior colégio eleitoral, com 150 mil eleitores, enquanto o Rio Grande do Sul tem 40 mil pessoas aptas a votar.
Em 2008, Claudia fez pouco mais de 10 mil votos e acredita necessitar de 25 mil votos para se eleger. Tem como plataforma potencializar o trabalho dos consulados, a fim de “garantir agilidade, não só de concessão de cidadania, mas também na emissão de passaporte e outros serviços”, revela. Segundo a candidata, só no Estado, há uma fila de 40 mil descendentes de italianos com processos tramitando para a obtenção do direito de serem reconhecidos como cidadãos do país de onde vieram seus pais e avós. No Brasil, o número sobe para 600 mil pessoas, denuncia.
Este represamento, de acordo com Claudia, impacta inclusive na representação sul-americana no Parlamento italiano. Em 2008, foram eleitos três representantes da Argentina e um do Brasil. “A Argentina tem 20 milhões de descendentes e 665 mil eleitores, enquanto o Brasil, que possui 30 milhões de descendentes, tem 290 mil eleitores. É muito desproporcional”, observa.
“Os serviços consulares aqui não são eficientes. Não houve interesse em fazer políticas boas para o atendimento. É preciso esperar dez anos para obter cidadania; o prazo legal é de um ano. Para se emitir um passaporte, leva seis meses. Um carimbo no diploma de um filho leva um mês, quando deveria ser fornecido em uma semana”, critica a candidata.
Entre outras propostas, ela destaca a necessidade de se fortalecerem os centros de cultura italiana espalhados pelo mundo e de torná-los “mais integrados”, pois hoje teriam “uma realidade compartimentada”. Também quer “potencializar o uso de projetos que já existem, mas que não são acessados”, diz, “como a concessão de bolsas de estudos, entre outros”. Além disso, pretende “lutar pela valorização da mulher”, complementa.
Claudia diz não acreditar que o fato de ser filiada ao PT possa interferir a favor ou contra ela na escolha dos eleitores. “Este projeto está muito acima da questão partidária (local) neste momento”, argumenta, relatando que tem feito campanha através das redes de organizações da sociedade civil. Hoje e amanhã, a candidata fica em Brasília, para contato com prefeitos gaúchos, que participam de encontro nacional. Depois, retorna a Porto Alegre, pretendendo visitar o Interior do Estado entre os dias 4 e 8 de fevereiro.