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Publicada em 20 de Março de 2025 às 12:14

Deportações e suas camadas

Vanessa Amaral Prestes, coordenadora do curso de Relações Internacionais da Unilasalle

Vanessa Amaral Prestes, coordenadora do curso de Relações Internacionais da Unilasalle

Unilasalle/Divulgação/JC
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Vanessa Amaral Prestes
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A recente ordem executiva de Donald Trump declarando uma emergência nacional na fronteira com o México intensificou a política de deportação de imigrantes em situação irregular nos Estados Unidos. A retórica do presidente ecoa medidas anteriores, como a Operação Wetback, implementada por Dwight Eisenhower nos anos 1950, cujo próprio nome já carregava um viés pejorativo ao se referir aos migrantes que cruzavam o Rio Grande/Rio Bravo - e que, de fato, criou a realidade dos postos de fronteiras e de controle migratório como conhecemos hoje.
Estima-se que mais de 4,4 milhões de crianças e adolescentes nascidos nos EUA vivem com pelo menos um responsável indocumentado. Muitas dessas crianças, cidadãs americanas por nascimento, acabam forçadas a migrar com a família, enfrentando desafios de adaptação e pertencimento em territórios desconhecidos. A sensação de desenraizamento pode desencadear nos migrantes uma crise identitária.
Os relatos de sentimento de não pertencimento a lugar algum são frequentes em pesquisas acadêmicas com refugiados. Pessoas que cresceram em um local, que criaram seus laços e referências, são repentinamente forçadas a migrar, muitas vezes sem dominar o idioma ou ter qualquer rede de apoio ou vínculo sólido no país de destino. Joel Candau, antropólogo francês, aponta que memória e identidade estão indissoluvelmente interligadas e eventos como a deportação podem gerar perdas de elementos identitários que compõem o imaginário social.
Também na Europa, discursos xenófobos e políticas anti-imigração têm aprofundado tensões étnicas, como se observa no tratamento dispensado a refugiados sírios e africanos. Na América Latina, deportações de cidadãos de países como Venezuela e Honduras agravam a crise humanitária, uma vez que muitos deportados retornam a contextos de violência e extrema pobreza. Como consequência, países vizinhos se tornam destinos secundários, pressionando suas políticas migratórias e de refúgio.
Diante deste cenário, é essencial enxergar as deportações não apenas como ações isoladas de um Estado sobre sua população imigrante, mas como fenômenos que moldam relações internacionais, intensificam a crise humanitária, afetam a economia global e têm impactos importantes para questões identitárias.
Coordenadora do curso de Relações Internacionais da Unilasalle
 

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