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Publicada em 18 de Dezembro de 2024 às 11:16

Memes, facas e silêncios. Não é sobre eles

Lucas Dalfrancis, CEO da Notório - Estratégia e Reputação

Lucas Dalfrancis, CEO da Notório - Estratégia e Reputação

LUIZA PRADO/JC
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Lucas DalfrancisEsse é o Brasil de hoje: onde dizer “não” virou ato de heroísmo, e onde o gesto de resistir é celebrado como extraordinário. Não por acaso, Jeniffer Castro se tornou ícone: ela não salvou a pátria, mas salvou-se de se curvar. O “não” dela é, na verdade, o “não” que gostaríamos de ter dito tantas vezes — ao abuso, à injustiça, à violência invisível e ao colapso moral que nos anestesia. Esse é o Brasil de hoje: Sandra Regina Monteiro, que enfrentou o pesadelo de uma faca apontada ao pescoço, é todos nós. É a faca invisível das precariedades que já nem choramos porque aprendemos a conviver com a dor como se fosse um parente distante que veio pra ficar. Somos o pescoço, somos a lâmina, e nesse corte mudo está a confissão de uma sociedade que desistiu de ser humana.Esse é o Brasil de hoje: um presidente hospitalizado com traumatismo craniano, e o que sangra nas redes não é solidariedade, mas memes que disputam quem é mais cruel. Não importa quem ele é; importa o que nós nos tornamos. Um país onde até o direito de morrer com alguma dignidade foi tomado pela febre da polarização. Onde cada tragédia é só mais um episódio num reality show que ninguém quer desligar.Vivemos tempos de guerra, mas não as guerras que vemos nos noticiários. É uma guerra sem tiros, mas repleta de golpes — simbólicos, intelectuais, morais. O belicismo está no ar que respiramos, nos gestos que fazemos e nos que deixamos de fazer. A Ucrânia está aqui, mas ninguém se deu conta. Morremos um pouco todos os dias, mas sem honras.Celebramos quem disse “não” porque esquecemos como se faz isso. Torcemos pela morte porque esquecemos como lutar pela vida. E seguimos com a faca no pescoço, tão afiada quanto nossa indiferença. Enquanto isso, o que nos mata não é a lâmina, mas o corte cego de tudo que decidimos não ver.
Lucas Dalfrancis

Esse é o Brasil de hoje: onde dizer “não” virou ato de heroísmo, e onde o gesto de resistir é celebrado como extraordinário. Não por acaso, Jeniffer Castro se tornou ícone: ela não salvou a pátria, mas salvou-se de se curvar. O “não” dela é, na verdade, o “não” que gostaríamos de ter dito tantas vezes — ao abuso, à injustiça, à violência invisível e ao colapso moral que nos anestesia.

Esse é o Brasil de hoje: Sandra Regina Monteiro, que enfrentou o pesadelo de uma faca apontada ao pescoço, é todos nós. É a faca invisível das precariedades que já nem choramos porque aprendemos a conviver com a dor como se fosse um parente distante que veio pra ficar. Somos o pescoço, somos a lâmina, e nesse corte mudo está a confissão de uma sociedade que desistiu de ser humana.

Esse é o Brasil de hoje: um presidente hospitalizado com traumatismo craniano, e o que sangra nas redes não é solidariedade, mas memes que disputam quem é mais cruel. Não importa quem ele é; importa o que nós nos tornamos. Um país onde até o direito de morrer com alguma dignidade foi tomado pela febre da polarização. Onde cada tragédia é só mais um episódio num reality show que ninguém quer desligar.

Vivemos tempos de guerra, mas não as guerras que vemos nos noticiários. É uma guerra sem tiros, mas repleta de golpes — simbólicos, intelectuais, morais. O belicismo está no ar que respiramos, nos gestos que fazemos e nos que deixamos de fazer. A Ucrânia está aqui, mas ninguém se deu conta. Morremos um pouco todos os dias, mas sem honras.

Celebramos quem disse “não” porque esquecemos como se faz isso. Torcemos pela morte porque esquecemos como lutar pela vida. E seguimos com a faca no pescoço, tão afiada quanto nossa indiferença. Enquanto isso, o que nos mata não é a lâmina, mas o corte cego de tudo que decidimos não ver.
CEO da Notório - Estratégia e Reputação

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